Touching Paradise • Beauany

abeaushine_ tarafından

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Any era uma adolescente extrovertida e cheia de alegria até o pior acontecer. Quando perde sua mãe em um terr... Daha Fazla

Elenco + playlist
The lake
Beautiful smiles
Going back to our lives
First on the list
Aquarium of the Pacific
Old and new friends
Just friends
Shoulder to cry
Good night, Any!
Plans for the saturday
City of Angels x Twilight
It's a crazy party
Friendly advice
No powers
Tedious but interesting
Nervous
Nostalgic day
Feelings
Enlightening conversations
She drives me crazy
Twins day
Theories
I miss you
Like the sky
Screams, hugs and tears (1/3)
Not everything is as it seems (2/3)
Bad dream (3/3)
Know better
Caution
A small wager
Dinner invitation
You're not the only one
Ups and downs
Trying
Sofya's party
I'm not crazy
Sensations (+16)
Decisions
The truth (parte 1)
The truth (parte 2)
Did I screw it up?
Shiv being Shiv

Revelations

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abeaushine_ tarafından

20.10.2019 - 07:10
Los Angeles, California

Joshua

Pisco algumas vezes, perplexo pelo que acabo de ouvir. Ainda estou tentando assimilar cada palavra. "Eu já fui como você.", Sr. Paliwal disse. "Fui", no passado, mas isso não faz o menor sentido.

Sei de anjos que sucumbiram à maldade e, consequentemente, caíram, passando a agir sob os comandos do Inferno, mas humanos? Um anjo não pode deixar o Céu para tornar-se humano! Ao menos não por tantos anos quanto o pai de Any tem e muito menos permanentemente. Acho que eu saberia se pudessem.

Imagino que a expressão em meu rosto seja cômica, pois o homem a minha frente sorri enquanto meu cérebro é tomado por pensamentos e dúvidas. Eu o assisto por algum tempo, questionando-me internamente sobre a possibilidade de tudo não passar de uma brincadeira. Talvez ele esteja apenas se divertindo às minhas custas, para logo em seguida rir na minha cara e dizer que sou maluco.

Ainda em dúvida, reflito sobre o que foi dito anteriormente. Edward afirmou ter estado na presença de outros anjos, pareceu saber muito sobre nós e a naturalidade com que reagiu ao me ouvir contar quem realmente sou só comprova o fato de que acredita mesmo em mim.

Pensando bem, ele não tem porquê mentir. Não ganharia absolutamente nada com isso. O problema é que sua verdade implica na mentira de Gabriel e, bem... Por que um arcanjo mentiria?

— Imagino que tenha muitas dúvidas. — ele chama minha atenção, começando a se afastar em direção ao carro. — É melhor nos apressarmos caso queira tirar todas antes de irmos embora. Esse não é um assunto que podemos continuar na presença das minhas filhas, durante o almoço.

— Claro, tem razão. — apresso-me em acompanhá-lo. — Aonde vamos?

— Ao lugar que serve uma torta de limão incrível e o melhor cappuccino da cidade. — diz, abrindo o porta-malas. — Não se preocupe, você vai gostar.

Guardamos os equipamentos de pesca em silêncio, eu mais rápido que ele devido à ansiedade crescente em mim. Tenho tantas perguntas! Entramos no carro em seguida, ocupando os mesmos assentos de antes e prendendo os cintos de segurança. O rádio não é ligado dessa vez. Nós apenas seguimos rumo ao destino determinado pelo motorista, que dirige calmamente pela cidade, enquanto meus pés tremulam no assoalho.

Durante todo o percurso não posso evitar pensar em Any, no relacionamento que estamos começando e em quanto desejo permanecer ao seu lado, ainda que o meu tempo na Terra acabe. Pela primeira vez, sinto um fio de esperança em meu peito, uma pequena chama levando-me a crer que nós podemos, sim, ficar juntos. Tudo indica que seu pai tem as respostas que venho buscando há algum tempo. Caso ele diga exatamente o que preciso saber, talvez eu não tenha que partir quando chegar a hora.

Suspiro aliviado quando estacionamos em frente a uma modesta cafeteria. A placa com os escritos Cafe Los Feliz leva-me a deduzir que finalmente chegamos ao nosso destino. Olho o relógio em meu pulso quando saltamos do carro. Foram apenas oito minutos do lago até aqui, porém, meu anseio em dar início à conversa faz com que a breve viagem tenha parecido bem mais duradoura.

Apresso-me em acompanhar Sr Paliwal quando ele segue em direção ao estabelecimento. Logo que entramos, vejo-o acenar para a senhora dispondo tortas de morango no balcão expositor, levando-me a crer que vem frequentemente ao local. Ela acena de volta, dando um sorriso simpático a nós dois e eu apenas retribuo, amigavelmente.

Olhando a minha volta, noto pouquíssimas pessoas. Somente duas mesas estão ocupadas — uma por dois senhores e outra por um casal — dando a mim e a Edward várias opções de escolha. Nos dirigimos ao fundo do espaço, o mais longe possível tanto da balconista quanto dos clientes. Imagino que assim teremos certa privacidade. Não queremos chamar atenção, afinal. 

Antes de iniciarmos a conversa, fazemos nossos pedidos: um cappuccino para cada um e uma fatia de torta de limão para o homem que me acompanha. Apenas quando uma jovem garçonete nos serve, minutos depois, sinto-me finalmente preparado a tocar de novo no assunto tão aguardado. Experimento a bebida antes de qualquer coisa.

— Então quer dizer que o senhor foi... um anjo? — pergunto apenas para confirmar o que ficou subentendido e garantir que não restem dúvidas quanto a isso.

— Sim, Josh. Fui há muito tempo. — o policial responde.

— Quanto, exatamente?

— Vinte anos. — diz, levando a xícara mediana à boca. — Estou na Terra há vinte e um, mas como humano, há vinte.

— Passou um ano inteiro aqui, como anjo? — não contenho a incredulidade em minha voz.

— Fui enviado em uma missão no fim dos anos noventa. Precisei assumir minha forma humana para isso, mas ainda assim era um anjo.

Eu o observo atentamente, buscando a confissão implícita de uma possível brincadeira, mas não encontro. Tanto a voz quanto o semblante estão repletos de sinceridade. Ele está sendo honesto comigo.

— Gabriel me deu apenas três meses. — comento, ponderando sobre o assunto. É uma grande diferença entre a duração de uma missão e outra.

— Mesmo? — assinto, voltando a tomar o cappuccino. — Bom, ele deve ter aprendido com os erros, afinal. — Sr Paliwal leva parte de sua fatia de torta à boca e mastiga calmamente antes de devolver o pequeno garfo ao prato. Ele volta a sorver o líquido da xícara em seguida.

— Que erros?

— Não é seguro deixar seres como nós... como você, quero dizer, num lugar como a Terra por tanto tempo. — os olhos castanhos recaem sobre mim. — Já deve ter notado que se torna mais humano a cada dia. — concordo com um breve aceno. Ele prossegue. — Talvez essa tenha sido a solução encontrada para que missões como a em que está atualmente continuem acontecendo sem grandes perdas para o Céu.

— Com perdas, você se refere...? — interrompo-me propositalmente.

— A mais anjos preferindo este planeta a voltar para casa no fim do trabalho. — os lábios se comprimem em uma linha que antecede um quase imperceptível sorriso.

— Então quer dizer que outros também deixaram o Céu sem necessariamente cair de um jeito ruim?

— Exatamente. — Edward diz, comendo mais um pouco da sobremesa.

— Eu não entendo. — o encaro, franzindo o cenho. Minha mente fervilhando pelas recentes descobertas. — Como é possível?

Nunca ouvi absolutamente nada a respeito de acontecimentos assim, a não ser pelos demônios, mas esse não é o caso do homem a minha frente. Eu sentiria se fosse. Passo uma das mãos pelos cabelos antes de apoiar os cotovelos sobre a mesa e cruzar os braços, aguardando mais informações.

— Não me surpreende que não saiba a respeito, Josh. Pouquíssimos anjos sabem. — o moreno une as mãos sobre a mesa. — Não é uma informação que Gabriel goste de divulgar. Para ele, esse tipo de ignorância é uma benção.

— Por quê? — redobro minha atenção ao assunto.

— Aprendemos a amar este lugar sem perceber. — explica. — As coisas aqui são totalmente diferentes da monotonia de Caelum, onde o trabalho se resume a assistir protegidos por um portal e intervir apenas quando necessário. — ele se ajeita em seu assento. — Ainda que a vida angelical seja uma honra, ser humano é maravilhoso. As coisas que eles podem fazer, sentir... — as sobrancelhas arqueiam-se suavemente e eu esboço um meio sorriso ao compreender onde ele quer chegar.

Um anjo como eu tem poderes e glória, mas não uma vida. Não temos sequer vontade própria. Ao menos, não a exercemos. Existimos apenas para fazer o que é designado por Gabriel, arcanjo responsável por coordenar todos os guardiões. Nossos sentimentos se resumem ao breve contentamento de uma missão cumprida e ao oposto em caso de falha. Nada além disso.

Em contrapartida, seres humanos estão constantemente imersos em diversas sensações e emoções, sejam elas boas ou ruins. É o que indica que estão vivos. Foi assim que me senti quando pisei em Los Angeles pela primeira vez: vivo. Não como um espírito de luz que existe há milênios, mas como um ser comum que acaba de encontrar um mundo totalmente novo.

— Consegue imaginar como seria voltar a não sentir absolutamente nada logo depois de descobrir tanto? — Sr. Paliwal pergunta, ainda me observando. Pondero por alguns instantes, imaginando o que me foi dito. 

Como seria voltar a não sentir? 

Seria como sair de manhã e não ter o calor do sol sobre mim. Seria como ver as folhas das árvores dançando com o vento no final da tarde e não saber se a temperatura está fria ou amena. Seria como provar um prato delicioso, mas não saber disso, simplesmente porque, para mim, o sabor não existiria. Seria como ter Any em meus braços sem que um único arrepio percorresse minha pele, pois não identificaria seu corpo contra o meu, e nem mesmo seu doce perfume. Seria como beijá-la e não reconhecer a maciez de seus lábios. Seria triste, atroz...

Seria vazio.

— Me parece algo bem ruim. — respondo finalmente, sem querer prolongar meus pensamentos sobre um assunto tão desagradável.

— Agora imagine o que aconteceria se todos os anjos soubessem o que acabou de descobrir. Se soubessem que têm uma escolha...

— Podemos escolher? — questiono, subitamente animado pela simples possibilidade. Era o que eu mais queria.

— Desde que exista uma boa justificativa, sim. — ele sorri. — Deus deu aos filhos pecadores a maior dádiva de todas, Josh. Acha que não nos daria também? Logo aos filhos perfeitos, que se dedicam a Ele e sua criação há milhares de anos? — sorrio de volta, incapaz de me conter.

— Então quer dizer que também temos livre arbítrio?

— Temos. É preciso usá-lo com sabedoria, para que não nos tornemos o oposto do que desejamos, mas temos. — diz, voltando sua atenção à torta. Um pedaço generoso é comido dessa vez.

Trago o cappuccino aos lábios, a fim de mensurar o sorriso que meu rosto ainda estampa e deixar que o homem a minha frente aprecie sua sobremesa enquanto reflito mais sobre o que acabo de descobrir.

Céus, eu tenho uma escolha!

Posso decidir o que fazer com minha existência! 

Sinto-me um grande idiota por ter demorado tanto para chegar a essa informação, mas ao mesmo tempo, não me incomodo. De qualquer forma, ela não seria útil em outro momento. Ao menos não antes dessa missão, antes de eu conhecer o amor.

Em todos os meus séculos como guardião, nunca cogitei a hipótese de vir à Terra, nem de me apegar tanto a um protegido. Nunca foi preciso. Pensando bem agora, talvez exista uma razão para os últimos acontecimentos. Eu adoraria descobri-la imediatamente, é claro, mas esse parece o tipo de resposta que apenas o tempo é capaz de trazer.

— Como ocorreu o processo para que se tornasse totalmente humano? — volto a falar com Edward, tocando exatamente onde eu gostaria desde o princípio. — O que precisou fazer?

O policial ajeita a postura enquanto parece pensar. Sua atenção é voltada a mim, em seguida.

— Em primeiro lugar, desejei verdadeiramente. Esse é o passo mais importante, porque é o que concede o principal: anuência. Qualquer dúvida pode te impedir de conseguir o que quer.

— Espera, é preciso autorização? — meu rosto se contrai no que imagino ser uma careta confusa.

— Se não quiser ir direto para o Inferno, sim. Isso é o que me diferencia dos anjos caídos. Alguns se rebelaram e saíram por conta própria, outros cometeram pecados horríveis e foram expulsos. A desobediência e a corrupção os condenou. Eu "terminei" amigavelmente com o Céu. — ele faz aspas com os dedos. — Posso voltar à minha antiga função se assim desejar, inclusive, mas apenas no pós vida.

— Uau! É realmente incrível... — afirmo. Parece o tipo de coisa que eu faria algum dia. Embora deseje ficar na Terra, com Any, proteger pessoas é importante para mim. — E quais são os outros passos? — pergunto, voltando ao que mais me interessa na conversa.

— Desculpe, garoto! Não posso fala sobre eles. — o homem responde, sem pestanejar, surpreendendo-me.

— Por que não?

— Prometi guardar segredo antes de me tornar oficialmente Edward Henry Paliwal. Gabriel é o único que pode dar as demais instruções a você.

— Entendo. — murmuro, decepcionado.

Este não é um assunto que eu gostaria de tratar diretamente com o meu superior, pois temo sua reação. Não quero me vangloriar, mas poucos anjos possuem uma trajetória como a minha. Ao longo dos séculos, nenhum dos meus protegidos perdeu a pureza de coração, nenhum deles seguiu por caminhos ruins. Um guardião assim tem valor inestimável para o Céu e duvido que me liberem facilmente.

— Qual o motivo do desapontamento? Por acaso planeja ficar aqui? — as sobrancelhas arqueiam-se novamente, bastante interrogativas.

— Bem, eu... sim. — desvio o olhar, sentindo-me repentinamente tímido.

— E minha filha tem algo a ver com isso, presumo. — Sr Paliwal sorri abertamente dessa vez. Meu rosto esquenta. — Tudo bem, não precisa se envergonhar. Eu entendo perfeitamente. Vocês se gostam.

— Na verdade, eu a amo e não pretendo deixá-la. — assumo, apesar do estado em que me encontro. É bom deixar claro como realmente me sinto em relação a Any Gabrielly. Seu pai assente, parecendo satisfeito por minhas palavras.

— Pelo menos agora sabe por onde seguir caso realmente deseje ficar. — diz, terminando o que há em sua xícara. — Eu adoraria que ficasse, aliás. Você faz um bem enorme a ela.

— É recíproco, Sr Paliwal. Não tenha duvidas.

— Por favor, Joshua! — ele me repreende com o olhar. — Me chame de Edward, ok? Ou Ed, se preferir. Acho que agora temos intimidade o bastante para esquecer as formalidades. Somos como melhores amigos. Você sabe o meu maior segredo. — comenta, divertindo-se com a situação. Dou risada.

 — Você também sabe o meu, então... — dou de ombros.

— Sabe, é bom finalmente poder me abrir com alguém. Não posso contar a Shiv e a Any, mas contar a você já tira um certo peso dos meus ombros.

— Priscila nunca soube? — pergunto, receoso. Não sei se ele se sente confortável em falar sobre a falecida esposa.

Arrependo-me no instante em que vejo a descontração em seu rosto dar lugar a certa tensão. Um silêncio incômodo paira sobre nós. Depois de um tempo, o policial suspira, recompondo-se em seguida, como se eu não tivesse dito absolutamente nada.

— Terminou sua bebida? Eu gostaria de caminhar um pouco agora. — avisa.

— Claro! Podemos ir se quiser.

Pagamos a conta da cafeteria, deixando o lugar posteriormente. O carro permanece em frente ao estabelecimento, já que não iremos tão longe. Segundo Edward, daremos somente uma volta pelo quarteirão, para que possamos conversar um pouco mais antes de ir embora. Logo estaremos na companhia de Any Gabrielly e Shivani, o que não permitirá que continuemos tratando de certos assuntos.

— Tentei algumas vezes, mas nunca tive coragem o bastante para contar a minha esposa. — ele diz de repente, enquanto andamos lado a lado pela calçada vazia. A tensão ainda presente em sua voz. — Eu sabia que ela não acreditaria e não teria provas caso me pedisse, então achei melhor guardar para mim.

— Não se arrepende disso? — eu o olho de esguelha.

— Todo santo dia! Sempre pensei que conseguiria em algum momento, mas ele nunca veio e, bem... agora é tarde. — lamenta, cabisbaixo.

— Sinto muito por aquela noite. Tentei fazer com que Any ficasse em casa, mas não consegui. Ela realmente queria ir à festa e...

— E nenhum anjo da guarda pode interferir no livre arbítrio. Eu sei... — ele sorri, tristemente. — Também sei que nada pode ser feito quando a hora de alguém chega, então não se preocupe. Ninguém teve culpa. Nem mesmo o guardião de Priscila. — assinto. — Foi por isso que veio? Pela morte dela?

— Sim, Any estava realmente mal. Tive medo que minha influência não fosse o bastante para detê-la caso estivesse tentada a fazer qualquer besteira, então achei melhor trazer um pouco de alegria à sua vida. — digo. Edward acena brevemente.

— Obrigado por isso. Não sei se Shivani e eu suportaríamos perdê-la também. — seu olhar se fixa ao longe e noto quando seu pomo-de-adão sobe e desce bruscamente.

— Não precisa agradecer, Ed. Se sua filha está bem, então também estou. — sorrio. — Sinto absolutamente tudo o que ela sente e não poderia assistir seu sofrimento de braços cruzados.

O homem assente, acomodando as mãos nos bolsos do casaco preto e também sorrindo, um pouco mais relaxado agora.

— Sabe, a história de vocês me lembra um outro casal. — diz, consideravelmente bem-humorado. Eu o observo, esperando que prossiga. — Vivi algo parecido com Priscila. Fui o anjo dela por muito tempo.

— Está brincando! — rebato, incrédulo.

— De forma alguma! Falo muito sério!

— Confesso que agora estou curioso para saber como se apaixonaram. — desvio de um hidrante. — Por que não me conta?

— Hm, vejamos... — ele responde, pensativo. — Acho que tudo começou em 1998. Ela tinha dezesseis anos e vivia em um orfanato aqui mesmo, em LA. Foi mandada para lá aos dez, depois de assistir o próprio pai matar a mãe.

— Com certeza foi um trauma horrível. Lamento por ela. — murmuro, realmente afetado. Any também viu a mãe partir bem diante de seus olhos e, por ter sentido o mesmo que ela naquele momento, reconheço ser uma dor lancinante.

— Como eu ia dizendo, sua vida não era fácil. No Los Angeles Orphan Home, Priscila tinha um teto, comida, mas não tinha o mínimo de amor. As crianças mais velhas não queriam a amizade da filha de um assassino e as mais novas, de quem se aproximava, logo iam embora.

— Eram adotadas?

— Sim, parecia automático. Uma nova amizade era igual a uma nova adoção, o que resultava em uma nova perda. Por isso, com o tempo, minha antiga protegida não fazia mais questão de tentar ter amigos. Não fazia sentido se todos a deixariam. — ele dá de ombros. — E foi assim até eu finalmente convencer Gabriel a me deixar vir para a Terra.

— Você foi para o orfanato?

— Fui. — o pai de Any sorri, discretamente. — Forjei alguns documentos e fingi ser órfão. Ela foi uma das primeiras pessoas com quem falei quando cheguei naquele lugar.

— E ficaram amigos, suponho. — sorrio de volta, impressionado pela ironia do destino. O moreno assente.

— Levei semanas para conseguir me aproximar, porque ela era muito arredia, mas ficamos. E com o passar do tempo, nos apaixonamos. Exatamente como você e minha filha.

— Foi por ela que deixou o Céu?

— Sim. Quando me dei conta do que sentia, soube que jamais teria forças para deixá-la. Não só porque a amava verdadeiramente, mas também por saber que ser abandonada pela única pessoa para a qual se abriu a destruiria. — ele revela, os olhos castanhos repletos de nostalgia. — E mesmo que todos os meus sentimentos desaparecessem assim que eu voltasse a ser plenamente anjo, sabia que vê-la sofrer me destruiria também.

Mantenho-me em silêncio, apenas assistindo o sorriso triste retomar seus lábios e surpreendo-me, porque apesar dos olhos marejados, nem uma única lágrima é derramada. Antes que ocorra, Edward pisca repetidas vezes, dissipando qualquer sinal de umidade. Sinto-me angustiado em vê-lo assim, relembrando o fato de que a mulher pela qual deixou a eternidade partiu sem que ele pudesse fazer nada para impedir.

— Não precisa me olhar assim. Pode não parecer, mas estou bem. — diz, erguendo uma das mãos na altura do peito e gesticulando, como se seu estado de espírito não importasse. Mas, caramba, importa...

— Tem certeza?

— Tenho. — Sr Paliwal suspira. — Não nego que minha esposa deixou um grande vazio com o qual ainda estou aprendendo a lidar, mas posso afirmar que estou bem. Eu preciso estar para que minhas filhas também estejam, entende?

— Claro. — assinto, esforçando-me ao máximo para não deixar transparecer o quanto sua história me afeta. Não sei o que eu faria se passasse por algo assim com Any. — Então, o que aconteceu depois?

— Precisei voltar para Caelum ao fim da missão. Ainda não sabia sobre a possibilidade de escolha, então eu fui. Passei as semanas seguintes implorando a Gabriel que me deixasse retornar à Terra. Estava disposto a tudo, completamente fora de mim.

— E ele simplesmente permitiu?

— Não, tive que esperar mais tempo. Aquele safado disse que queria ter certeza de que o que sentia não era apenas uma paixão passageira. — ele ri amargamente. — Enquanto isso, Priscila me odiava, pensando que eu havia fugido sem qualquer aviso prévio. Foi horrível. Ela sofreu tanto! — suspira. — Precisei ameaçar cair por conta própria para conseguir a tal autorização. Quando finalmente completei o ritual necessário, deixei o Céu de imediato.

— Fico feliz que tenha conseguido, apesar dos pesares. Cuidando de Any por todos esses anos, pude ver de perto o quanto vocês se amavam.

— Ainda nos amamos.— seu olhar encontra o meu. — E não se preocupe, nos encontraremos novamente algum dia. Nem que para isso eu precise de mais uma vida. — ele sorri, esperançoso.

Fazemos o restante do trajeto até o carro em silêncio. Ainda tenho perguntas, mas após descobrir tanto, decido deixar meu novo amigo em paz, ao menos até que tenhamos a oportunidade de novas conversas. Se ele teve a boa vontade de me auxiliar em meio às duvidas, acho que devo retribuir tendo o bom senso de dar-lhe o espaço necessário depois de tantas lembranças do passado. Entretanto, quando ele começa a dirigir, a caminho de casa desta vez, recordo-me de outro assunto pendente.

— Edward, sobre a lista que roubei da delegacia e a prisão do Noah... — começo, receoso. — O que vai acontecer? — ele me observa por um único segundo antes de voltar sua atenção à estrada.

— Se o seu medo é de que você e seus amigos sejam pegos, fique tranquilo. Darei um jeito de apagar qualquer registro, inclusive das câmeras de segurança. Será como se nunca tivesse acontecido. — responde. Solto um longo suspiro em alívio. — Só peço que tenham mais cuidado ao conduzir suas ações de agora em diante. Deram sorte por terem caído em Rampart. Se fosse em outro DP, eu não poderia fazer absolutamente nada.

— Prometo que não voltaremos a arranjar encrenca!

— É o que eu espero.

— Obrigado por tudo. Você salvou nada mais, nada menos que quatro missões! — faço o numero com os dedos. Ele dá risada.

— Me agradeça executando bem o seu trabalho. Apenas continue cuidando da minha filha, Josh. — ele pede, quase suplicante.

— Pode confiar em mim. Sou capaz de qualquer coisa por essa garota. — declaro, sorrindo convictamente.

***

E assim nasce a amizade do milênio! ❤️

Ah, vou deixar logo abaixo uma foto do Sr Paliwal, pra vocês saberem ao certo como é a aparência do nosso ex-anjinho...

(Sim, é o ator Sendhil Ramamurthy! Ele fez o pai da Devi, na série "Eu nunca...")

Tenham uma boa noite, amores!

Okumaya devam et

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