Just off the Key of Reason (R...

By itsrabiabitch

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Bianca Andrade é uma apresentadora de TV com uma nova colega de quarto, a inocente e intrigante Rafaella Kali... More

Capítulo 1: Você é a sonhadora
Capítulo 2: Atividade Paranormal?
Capítulo 3: Longe da multidão enlouquecedora
Capítulo 4: Algo deixa meu peito acelerado
Capítulo 5: Ursos
Capítulo 6: Esse pode ser o mundo real agora
Capítulo 7: Precisamos de um guarda-chuva aqui dentro
Capítulo 8: Toques e olhares
Capítulo 9: Os sinais são todos quietos
Capítulo 10: Está tudo fora de controle
Capítulo 11: Ela disse, pela primeira vez
Capítulo 12: Algumas pessoas não aprendem
Capítulo 14: Minha felicidade
Capítulo 15: Não vou te deixar ir
Capítulo 16: Porcos?
Capítulo 17: Caminhe um pouco, sorria, pense muito
Capítulo 18: Desligue as luzes e a timidez
Capítulo 19: Você me conhece tão bem
Capítulo 20: Mesmo com os olhos fechados você é tudo que vejo
Capítulo 21: Dinossauros e patos
Capítulo 22: Minhas mãos irão te confortar
Capítulo 23: Nuvem
Capítulo 24: Maçã e grama
Capítulo 25: Você é impossível
Capítulo 26: Apartamento em chamas
Capítulo 27: Ela é como um tornado
Capítulo 28: Você pode ir além
Capítulo 29: Baleias
Capítulo 30: Hipopótamos
Still off the Key of Reason
Capítulo 1: Euforia
Capítulo 2: Eu e você na lua de mel
Capítulo 3: Está curiosa?
Capítulo 4: Luzes piscando
Capítulo 5: Pote de mel
Capítulo 6: Reino
Capítulo 7: Presente
Capítulo 8: Lontras
Capítulo 9: Vacas
Capítulo 10: Caminhadas

Capítulo 13: Não há cura sem tentativas

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By itsrabiabitch

Estar na sala de espera do consultório da psicóloga era como estar nas profundezas do mar. Como no conto da Pequena Sereia. Havia um aquário gigantesco em uma das paredes - aquário esse no qual os olhos de Rafaella estavam fixos - e ele era repleto de peixes tropicais e crustáceos mediterrâneos. As outras paredes eram em um tom claro de azul e decoradas com fotos de ondas marítimas e animais marinhos. Bianca podia afirmar com toda certeza que aquele era um ambiente familiar, e a prova disso era um baú de brinquedos em um canto da sala e uma mãe com seu bebê que estavam no banheiro a mais de vinte minutos.

Talvez ela devesse avisar para alguém ir checar se eles estavam bem.

"Senhorita Andrade e Senhorita Kalimann, a Dra. Assis vai atendê-las agora." A recepcionista disse com um sorriso e indicou o corredor que as levaria para o consultório.

Bianca se levantou e viu Rafaella desviar o olhar do aquário. Ela sorriu porque os lábios de Rafaella estavam verdes por causa do pirulito de maçã verde que ela havia comprado no caminho.

Bianca pegou as mãos de Rafaella que pareciam estar congelando e também estavam um pouco úmidas e trêmulas. Elas entraram no consultório juntas. Bianca estava sorrindo abertamente, mas ainda de olho em Rafaella.

Rafaella parecia estar andando na prancha de um navio pirata, prestes a pular no mar para morrer afogada. Com a boca toda verde.

"Bom dia, Senhorita Andrade! Senhorita Kalimann!" A psicóloga cumprimentou com um sorriso. Seus olhos gentis brilhavam enquanto ela indicava as cadeiras para que elas se sentassem.

Bem, pelo menos ela não era esquisita. E ela não era tipo, quatro vezes mais velha que elas ou mais. Por Deus, nem mais nova que elas. Além do mais, sua sala de espera era muito bonita e aconchegante. Até aquele momento, ela estava passando pela avaliação de Bianca.

"Eu sou a Dra. Assis, mas vocês podem me chamar de Thelma. Ou Thelminha. Tudo bem se eu chamar vocês de Bianca e Rafaella?" Ela perguntou.

Bianca assentiu. "Claro! Prazer em conhecê-la." Ela olhou para Rafaella para ver se ela responderia.

Os olhos de Rafaella estavam vagando pelas coisas em cima da mesa da doutora. Coisas normais, tipo, um grampeador e um pote enorme cheio de clipes de papel, e havia outras coisas mais, como um calendário e um polvo de pelúcia. Rafaella não respondeu, apenas esticou a mão distraídamente para tocar o polvo.

Bianca sorriu para ela carinhosamente. Thelma inclinou a cabeça e juntou as mãos em sua mesa.

"Tudo bem, eu não sou o tipo de pessoa que gosta de cerimônias," Thelma começou "então vamos dar início e começar nos conhecendo melhor. Tudo bem? Como por exemplo, o motivo de vocês terem sentido que precisavam de ajuda psicológica."

Bianca estava ouvindo atentamente e pensando no que dizer. Ela estava feliz pelo fato da Dra. Assis não ter tirado um caderno do nada e ter começado a escrever. Foi exatamente isso que seu psicólogo fez no ensino médio, e isso a deixou com um complexo paranoico. Ela saia das sessões mais louca do que havia entrado, sob as suspeitas de que estava sendo gravada e julgada sem seu conhecimento e consentimento.

Thelma apenas ficou sentada, esperando. Bianca se deu conta de que ela era quem teria que começar a falar, o que para ela estava de boa, afinal de contas ela era Bianca Andrade.

Rafaella ficou quieta com suas mãos em seu colo e os olhos fixos no polvo.

Bianca respirou fundo e tentou formular algo para dizer sem que isso a fizesse parecer uma tagarela. Aquilo era difícil.

"Bem... Eu-Rafa e eu sentimos que precisávamos de alguém para conversar. Um profissional, porque...".

Como ela poderia especificar o porquê sem fazer com que Rafaella parecesse uma louca?

Thelma apenas observou pacientemente.

"O passado da Rafa é meio que...".

Misterioso? Trancafiado em um cofre que só pode ser aberto se é alimentado com doces?

"Delicado." Bianca escolheu. Ela olhou para Rafaella enquanto falava.

"E ela não se sente muito confortável, ou, hm, inteiramente... funcional com as pessoas." Jesus, aquilo soou horrível. Bianca parou e fez uma careta quando pensou no que havia falado e se deu conta de que havia sido muito vaga e discreta.

A Dra. Assis assentiu e olhou para Rafaella. "Ok, então você está aqui mais pela Rafaella."

Bianca assentiu, hesitante. Foi isso que ela disse? Ela não fazia a mínima ideia. Será que ela estava sendo gravada?

"E Bianca, você está aqui porque a Rafaella quis que você estivesse? Estou certa?" Thelma perguntou.

Bianca assentiu novamente. E também, ela mesma poderia precisar de ajuda profissional. Pelo o que lhe disseram.

"Nós vamos precisar que você fale, não é, Rafaella?" Thelma disse, sorrindo. Rafaella olhou para Bianca apreensivamente e Bianca pegou uma de suas mãos em seu colo, acariciando com o polegar na tentativa de acalmá-la.

"Meu filho me deu." Thelma disse, indicando o polvo de pelúcia. Ela pegou o objeto e segurou na direção de Rafaella para que ela pegasse. "Ele tem seis anos. E ele deu o nome de Xaninho antes que meu marido o convencesse a mudar de ideia."

Bianca riu, Rafaella corou e pegou o polvo hesitantemente.

"Ele mudou para Henrique. Não faço ideia do porquê. Mas agora o Henrique é amigo de alguns dos meus pacientes. Ele faz com que eles sorriam." Thelma continuou.

Ok, Bianca definitivamente gostava daquela mulher. E do Henrique. Ela definitivamente gostava do Henrique. Ela só não gostava da planta ao lado que podia muito bem esconder uma câmera.

Rafaella pousou o polvo em seu colo e girou os tentáculos com a mão livre, olhos fixos no colarinho da Dra. Assis.

"Ajudaria bastante se você me contasse um pouco do seu histórico terapêutico, Rafaella. Como por exemplo, quantas vezes você já foi a um psicólogo, o que eles disseram e o que você achou disso."

Bianca teve que morder sua língua para não começar a tagarelar e preencher o silêncio para que Rafaella não tivesse que fazer isso por conta própria. Ela apenas esperou e apertou a mão úmida de Rafaella.

Rafaella engoliu em seco e abriu a boca para falar, mas nada saiu.

"Eu não gosto de falar com as pessoas." Ela disse, em um tom baixo. Thelma se inclinou mais à mesa para poder ouvi-la e então assentiu amigavelmente.

"Compreensível." Ela comentou.

"Meu primeiro... psicólogo...Eu só fui a duas consultas com ele. Ele disse-ele disse que talvez eu tivesse, hm, Asperger, mas eu parei de ir às consultas...então não foi um diagnóstico...definitivo."

Bianca estava prestes a arrancar um pedaço de seu lábio devido à força com que estava o mordendo na tentativa de se conter a ajudar Rafaella a se explicar.

"A outra vez foi quando a mi-minha tia me fez ir a outro p-psicólogo, e ele, hm-" Rafaella começou a bater o pé e Bianca soltou sua mão para pousá-la sobre o joelho agitado da garota ao seu lado.

"Calma, meu bem." Ela suspirou. A doutora observava tudo com um sorriso, mas continuou em silencio para que Rafaella terminasse de falar.

"Minha tia basicamente de-deu uma lista pra ele do que ela achava que havia de... errado. E ele apenas, hm...concordou com a maioria dos itens da lista. Eu acho." Rafaella franziu o cenho, assim como Bianca.

Thelma observou Rafaella com paciência. "O que havia na lista?" Ela perguntou.

Rafaella suspirou alguns segundos antes de responder. Bianca rezou para que essa lista não fosse tão longa.

"Déficit de Atenção. Transtorno de Personalidade Esquizóide. Desenvolvimento Tardio. Estresse Pós-traumático. Ansiedade Social. Dislexia."

Bianca tirou a mão do joelho de Rafaella e a colocou na nuca da loira de olhos verdes, acariciando na tentativa de acalmá-la.

Thelma estava quase sorrindo quando voltou a falar. "Bem, Rafaella, esses são transtornos conflitantes. Eu posso te garantir que você não possui todos eles. Ninguém tem todos eles. Na verdade, vamos dizer que você não possui nenhum deles, até que tenhamos informação suficiente para o veredito, tudo bem?"

Rafaella arregalou os olhos e assentiu lentamente. Bianca sorriu para si mesma; ela definitivamente gostou de Thelma.

Gostou dela até o momento em que a mesmo se virou para ela e pediu para que descrevesse Rafaella, foi aí que ela congelou. Por Deus, ela poderia passar o dia todo descrevendo Rafaella, mas fazendo isso ela acabaria passando a imagem de pervertida ou de boba, caso tentasse fazer aquilo no consultório de uma psicóloga. Bem, ela conseguia fazer papel de boba em qualquer lugar então- Rafaella apertou sua mão e Bianca sorriu para aqueles olhos de esmeralda. Ela começou por lá.

"Ela tem um olhar feliz." Bianca disse, então franziu o nariz, por que o que diabos acabou de sair de sua boca? Se recomponha, Bianca. Rafaella estava vermelha como um tomate e sorrindo para ela.

"Quero dizer, os olhos dela são brilhantes, e ela me faz querer voltar a brincar." Não havia outra forma melhor de se fazer parecer uma idiota.

"Ela é a pessoa mais doce e bondosa que eu já conheci. Além disso, ela é linda e super inteligente." Isso. Agora estava melhorando. O rosto de Rafaella mais parecia que pegaria fogo a qualquer momento. Bianca cutucou sua bochecha corada levemente.

"Ela tem um coração maravilhoso e inocente, e ela acredita em todas as coisas boas do mundo. Ela tem uma imaginação que é-é incrível, e ela também ama animais e os alimenta com besteiras até que eles fiquem doentes..."

Thelma riu e Rafaella balançou a cabeça, envergonhada.

"E eu fico feliz por ela me levar às nuvens junto com ela. E eu meio que quero beijá-la agora."

Bianca não sabia se aquilo era contra alguma regra não escrita, mas Thelma ergueu as sobrancelhas como se dissesse 'o que você está esperando, mulher!'

Bianca se inclinou em sua cadeira e aproximou o rosto de Rafaella do seu segurando suas bochechas coradas. Rafaella riu enquanto Bianca chegava cada vez mais perto e pressionou seus lábios aos da loira. Bianca quase caiu pela lateral da cadeira, mas conseguiu se equilibrar e se recompôs antes de voltar a olhar para Thelma na expectativa do que viria a seguir. E agora?

Thelma se encostou na sua cadeira e olhou para Rafaella. "Agora é sua vez, Rafaella. Descreva Bianca para mim."

Bem, Rafaella não parecia tão assustada e boba quanto Bianca. Ela parecia animada.

Bianca estava um pouco tensa. Pedir para que as pessoas a descrevessem sempre acabava em lágrimas. Na maior parte do tempo era porque as pessoas não sabiam lidar com a quantidade insana de carisma que ela possuía, e isso acabava gerando um pouco de inveja.

"Bianca é incrível. Ela é linda, baixinha e perfeita pra mim, e o cachorro dela é o meu segundo melhor amigo." Os olhos de Rafaella estavam brilhando e seu corpo estava agitado em sua cadeira. "E ela, hm, é a-a pessoa mais carismática que eu j-já conheci, e-"

"Um pouco mais devagar, Rafaella." Thelma pediu com um sorriso. "Eu mal consigo te entender desse jeito."

Bianca riu e sussurrou "palavras" para Rafaella.

Rafaella assentiu e respirou fundo, acariciando o polvo em seu colo.

"Ela é muito talentosa, e ela tem olhos lindos e intensos, às vezes eu me perco dentro deles."

Bianca quase bufou, mas ao invés disso, decidiu se afogar em sua própria poça de desordem. Ninguém nunca a disse que ela tinha olhos lindos e intensos. Aquilo era um pouco desconcertante e ela estava um pouco emocionada.

Rafaella ficou séria. "E ela me escuta. Eu não acho que outra pesso- ela é a única que me escuta. E ela nunca é má com ninguém, e ela não gosta de pessoas que me tratam mal... Além do mais, eu sinto como se, hm-uma corrente elétrica, eu acho, estivesse passando pelo meu corpo quando estou perto dela."

Hm, aquilo era bom? Bianca sabia que possuía uma personalidade eletrizante, mas aquela afirmação estava aberta para muitas interpretações, sejam elas boas ou ruins.

"Porque eu a amo." Rafaella terminou de falar, em um sussurro.

Bianca ainda estava tentando absorver tudo aquilo e tentando com todas as forças não chorar quando Rafaella a pegou de surpresa com um abraço através das cadeiras. Thelma as observava carinhosamente e depois deu continuidade, perguntando como Bianca conciliava sua certa fama com a vida normal e perguntando a Rafaella sobre seu emprego no abrigo de animais. Depois de mais meia hora de conversa, Thelma olhou para o relógio e juntou as mãos animadamente.

"Ok, Bianca e Rafaella, nosso tempo acabou, mas eu gostaria muito que vocês retornassem. Eu acho que temos bastante coisa para trabalhar em cima, vocês estão interessadas?"

Bianca assentiu imediatamente e Rafaella fez o mesmo logo em seguida, com um pouco menos de entusiasmo. Thelma sorriu.

"Tudo bem. Nosso plano seria descobrir um pouco mais sobre você, Rafaella. Pra entender porque você sente, age e reage da forma que faz, e talvez com isso, fazer com que você se sinta um pouco mais confortável ao redor das pessoas. Nós só não queremos que você se torne dependente da Bianca aqui. Ok?"

Bianca se sentiu um pouco vacilante. "Você acha que ela é dependente de mim?"

Thelma negou com a cabeça imediatamente. "Eu, realmente, não posso dizer com certeza ainda, mas, pelo que eu vi, você faz bem pra ela. Você a ajuda a se conectar mais com o exterior. O que é exatamente o que você precisa fazer, Rafaella, evitar dependência."

Rafaella parecia um pouco nervosa. Ela batucou com os dedos no braço da cadeira até que Bianca segurasse sua mão.

"Eu não estou dizendo que você tem que se tornar uma pessoa super sociável e tagarela, Rafaella. Mas talvez, encontrar outras pessoas ou outras coisas para dedicar uma parte do seu tempo fosse uma boa ideia. Não se preocupe, nós vamos com calma até que você encontre o seu ritmo."

Rafaella assentiu lentamente e sorriu cautelosamente quando Thelma deu a elas um sorriso de despedida. Ela pegou o polvo de volta, piscou e se levantou enquanto elas se dirigiam à porta.

Rafaella se distraiu com os peixes do aquário por alguns segundos e Bianca se perguntou se aquela mulher e seu bebê haviam saído do banheiro.

Bianca se sentiu surpresa por aquela visita não ter acabado em lágrimas e terrivelmente mal. Ela se sentia animada, para falar a verdade. E ficou mais animada ainda quando Rafaella a pagou um sorvete e a beijou com a boca ainda suja de sorvete de morango no caminho para casa.

__________________________________________

Dois dias depois, Bianca chegou à conclusão de que Monteiro era um ser maligno, que fazia coisas como mastigar os canos que haviam embaixo da pia apenas pelo seu próprio prazer de cão.

Agora Bianca estava em um beco sem saída.

Ela havia conseguido parar o vazamento de água usando todas as toalhas que ela encontrou pela frente. Ela estava patinando no chão molhado da cozinha e gritando obscenidades na direção do filhote.

Tudo isso ao mesmo tempo em que tentava controlar seu medo irracional de que o piso de seu apartamento cederia e ela morreria espatifada no térreo.

Ela havia ligado para o encanador a quatro horas atrás e não havia nenhum sinal dele até o momento. Ela pulou de susto quando ouviu a porta da frente ser aberta, mas se acalmou quando descobriu que quem havia aberto era Rafaella. Com as mãos atrás das costas, obviamente escondendo algo, mas mesmo assim tentando parecer indiferente. Rafaella não havia a visto e Bianca se aproveitou disso para observar sua namorada entrar e ir para a sala de estar tentar utilizar suas habilidades de ninja, as quais ela achava que eram maravilhosas.

Bianca sorriu para si mesma enquanto Rafaella andava na ponta dos dedos. Uma expressão presunçosa tomava conta de seu rosto e indicava que ela acreditava que estava se safando de algo.

"Rafa." Bianca disse, tentando se manter séria e observando uma onda de cabelos loiros se virarem e logo depois ser encarada por olhos verdes arregalados de surpresa. Sim, ela definitivamente parecia culpada.

Bianca estreitou os olhos. "O que você fez? Quebrou alguma coisa?"

Porque, sinceramente, nada poderia ser pior que a situação em que a pia se encontrava.

Rafaella recuou e ficou parada no meio da sala de estar olhando para Bianca. Ela parecia indecisa. Bianca observou enquanto a mandíbula da garota na sua frente se abriu e fechou algumas vezes, mas nenhum som saiu de sua boca.

Bianca saiu da cozinha e foi em direção à sua namorada.

Rafaella deu um passo para trás e balançou a cabeça.

Bianca parou. "Você está bem?"

Rafaella assentiu silenciosamente e Bianca tomou alguns segundos para observá-la por completo.

"O que você está escondendo atrás das costas?" Bianca perguntou, erguendo a sobrancelha quando chegou à conclusão de que, não, Rafaella não estava chateada ou ansiosa. Ela estava apenas... escondendo algo.

Rafaella mordeu o lábio hesitantemente e tirou uma caixa de sapato de trás das costas. Com buracos nela.

Merda. Outro animal.

"Rafa." Bianca suspirou, chegando mais perto para ver a caixa. "O que tem aí?"

Rafaella engoliu em seco e observou Bianca cautelosamente.

"Um gatinho." Ela disse baixo, tirando lentamente a tampa da caixa e revelando um gatinho pequeno, peludo. Por Deus, era laranja.

O primeiro pensamento de Bianca foi 'ai meu deus, que coisa mais fofa'. Mas depois se lembrou da enchente que estava acontecendo em sua cozinha naquele momento e olhou de forma séria para Rafaella.

"O que você está fazendo com ele?" Bianca perguntou e logo em seguida os olhos da garota mais alta se conectaram aos dela.

Rafaella abriu a boca por um segundo, mas não falou nada. Ela olhou para baixou e acariciou a cabeça do gatinho suavemente.

"Ela foi abandonada... e é cega de um olho." Rafaella começou a explicar baixo, voltando a olhar para Bianca.

Perfeito. Uma gatinha cega de um olho, órfã e adorável. Como alguém poderia dizer não a uma coisa daquelas sem parecer um babaca insensível?

Rafaella continuou falando enquanto Bianca apenas a observava. "A Dra. Assis di-disse que eu deveria encontrar outros, hm, interesses, não foi? Tipo, coisas pra ocupar meu tempo, então..." Rafaella disparou a falar e olhou para a gatinha.

Bianca sorriu suavemente para ela. "Então você trouxa uma gatinha pra casa?"

Rafaella assentiu. Meu Deus, ela estava inflando as bochechas propositalmente, ou o universo estava levando a sério demais a missão de cercá-la com as coisas mais fofas já criadas?

Bianca franziu o cenho. Por que Rafaella estava tentando ao máximo usar suas habilidades não tão boas de ninja para passar pela sala de estar?

"Você estava planejando manter ela no seu quarto? Ou..." Ela disparou, com as sobrancelhas erguidas em deleite.

"Você não gosta do Orie." Rafaella deixou escapar e começou a sacudir a cabeça. Bianca ergueu a mãos distraídamente e arrumou o cabelo de Rafaella. "Eu achei que você não fosse gostar dela... ninguém quer ficar com ela só porque é cega."

Por Deus, aquilo era ridículo. Muito mais que ridículo.

"Rafa, o Monteiro é praticamente um demônio, mas eu ainda o amo. Mas eu não acho que outro animal de estimação foi o que a Dr. Assis estava querendo dizer com 'encontrar novos interesses'."

O rosto de Rafaella ficou triste e ela desviou os olhos dos de Bianca para olhar para a gatinha adormecida.

"Mas," Bianca disse enfaticamente, inclinando a cabeça até encontrar os olhos de Rafaella novamente "você provavelmente já deu um nome a ela, não é?".

"Jujuba." Rafaella sussurrou. Uma jujuba bem laranja.

Bianca teve que morder os cantos da boca para não sorrir. A esse ponto, ela já havia se convencido de que, sim, elas tinham um novo animal de estimação em casa.

Até o fim do ano era muito provável que elas tivessem um zoológico dentro de casa. Hordas de animais resgatados dormindo na cama de Rafaella e devorando o encanamento do apartamento.

Bianca viu que os olhos de Rafaella começaram a brilhar e teve que impedi-la de chorar imediatamente.

"Acho que deveríamos ficar com ela." Bianca disse. A frase saiu um pouco mais animada do que ela estava planejando, mas tanto faz. O que ela realmente estava pensando era 'vou aceitar esse destino, porque se você chorar meu coração se partirá ao meio'.

Nem um pouco dramática.

Rafaella olhou para Bianca, com um olhar esperançoso, e Bianca sorriu suavemente.

"Você ama animais, e eu amo você, então eu acho que deveríamos ficar com ela."

Rafaella sorriu e colocou a caixa no chão para poder abraçar Bianca, mas ela a parou.

"Mas," Bianca disse. Rafaella focou sua atenção em Bianca, determinada.

Bianca se sentiu incrivelmente poderosa naquele momento. Ela, provavelmente, conseguiria que Rafaella fizesse qualquer coisa que ela quisesse. Ah, as possibilidades eram muitas. Mas a única coisa na qual ela conseguia pensar era em desafiar Rafaella a beber um pote de ketchup. Rafaella aceitaria numa boa, mas Bianca acabaria vomitando por ela, então ela guardou aquela condição para outro dia.

"Se você quer mesmo dar alguns passos e ouvir o que a Dra. Assis te disse, acho que podemos começar hoje. Com o encanador... que está tipo, sete horas atrasado, mas... O que você acha?"

Rafaella mordeu o lado de dentro de sua bochecha, e Bianca ergueu a mão e a tocou de leve para impedi-la de fazer aquilo.

"Como assim?" Rafaella finalmente perguntou.

"Apenas... atenda o encanador." Bianca disse. "Eu vou ficar na sala, e você, você sabe, interaja com ele. Recebê-lo, dizer a ele o que precisa ser feito..."

Bianca nunca havia lidado com um encanador antes. Ela esperava que eles fossem pessoas legais. Eles pareciam honestos e trabalhadores.

Rafaella começou a bater os pés e olhou para a gatinha, contemplando suas opções. Bianca sorriu. Ela sabia que a gatinha convenceria Rafaella.

"Tudo bem." Rafaella concordou baixo. "Eu acho que consigo fazer isso."

"Sim, você consegue." Bianca assegurou, pegando a caixa de sapato e a pondo no chão para que Camargo pudesse investigar sua nova amiguinha.

Ela se levantou e beijou Rafaella, que logo passou os braços ao redor da cintura da garota na sua frente. Bianca acariciou os cabelos loiros na nuca de Rafaella, que inclinou a cabeça para aprofundar o beijo. Uma batida na porta às interrompeu.

Logo agora o encanador resolve aparecer.

Bianca se afastou e bagunçou o cabelo de Rafaella, a encorajando, antes de ir para o sofá e se jogar nele com Jujuba em seu colo. Rafaella parecia nervosa, mas fez seu caminho até a porta, mesmo que lentamente, e olhou uma última vez para Bianca.

"Ei, vocês que estão com um vazamento?" O encanador perguntou, levantando a caixa de ferramentas. Ele parecia entediado.

Um vazamento não. Um lago. Na cozinha. Por causa dos animais que se multiplicavam a cada dia.

Rafaella assentiu com os olhos fixos nos botões da camisa do rapaz na sua frente. Ela não disse nada, apenas indicou que ele entrasse e a seguisse. Bianca conseguiu fazer contato visual e sussurrou "palavras" com um sorriso tranquilizador. Ela levantou a gatinha como um incentivo. Rafaella deu um sorriso contido.

"Hmm, é embaixo da pia. Um dos no-nossos cães mastigou um dos ca-canos...e o vazamento meio que se espalhou. Eu acho." Rafaella explicou, girando o elástico em volta de seu pulso.

O rapaz assentiu rapidamente e passou pela poça de água, indo até a pia. Rafaella se sentou à bancada e começou a devorar as jujubas que estavam lá, enquanto Bianca apenas observava à distância. O encanador apenas substituiu o cano destroçado por um novo, e Monteiro observava cada um de seus movimentos do corredor. Bianca imaginou que ele estava planejando a melhor maneira de destruir outra coisa.

"Obrigada." Rafaella disse. Levando o encanador até a porta. "Gostei do seu boné." Ela falou para ele, antes de fechar a porta. Bianca olhou para ver como era o boné; é, tinha um animal estampado nele. A puma que era o logotipo da marca Puma SE. Bianca riu consigo mesma. Rafaella provavelmente não sabia que era o logotipo de uma marca.

"Viu, não foi tão ruim!" Bianca falou quando Rafaella se sentou ao seu lado e pegou Jujuba. Camargo pulou para perto delas no sofá, logo seguido pelo demônio Monteiro. "Você foi ótima, Rafa." Ela disse, descansando a cabeça no ombro de Rafaella.

Rafaella corou. "Eu nem fiz nada."

Bianca sorriu quando sentiu um beijo em sua testa. "Um passo de cada vez, Ursão."

Jujuba rolou de barriga para cima e Rafaella sorriu. Bianca acariciou a barriga da gatinha, logo depois a de Monteiro e então a barriga de Rafaella apenas para fazê-la rir.

Por Deus, ela não conseguia resistir à todas aquelas coisinhas fofas ao seu redor.

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Começamos com um pet já temos três

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