No Compasso das Estrelas | ⚢

By girlfromcv

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Para uns, Porto Baixo não passava de uma cidadezinha praiana esquecida num canto qualquer da Costa Este e ass... More

Nascer do sol
DREAMCAST
Epígrafe
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Epílogo
Especial de Fim de Ano
Tem alguém aí?

Capítulo 18

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By girlfromcv


      — Depois disso, nós voltamos para dentro, me desculpei com Lídia pelo constrangimento, e a seguir fui embora. — concluiu Lacerda, entrando no estabelecimento assim que Léia abriu a porta.

      — Como tu tá se sentindo agora? Digo, depois de ter conversado com ele. — quis saber, cruzando os braços ao encostar-se no balcão.

A preta permaneceu alguns segundos em silêncio, pensativa, ao passo que a porto-baixense esperava a sua resposta.

      — Com certeza melhor que antes. — confessou; o olhar perdido no monitor afixado no canto da sorveteria. — Pelo menos agora não me sinto tão culpada por ele ter ido embora, então acho que já é alguma coisa.

      — Pode crer que sim.— sorriu, feliz por ela. — Agora que tu resolveu dar uma chance pra ele, vocês vão ter muito tempo pra conversar e se conhecer melhor. E também não é preciso ter pressa.

      — É, vou me lembrar disso. — garantiu, a seguir soltando um suspiro. — Enfim, vamos deixar esse assunto pra lá e fazer os pedidos, que tal?

      — Acho uma ótima ideia! Hoje eu vou te fazer provar o melhor milk-shake da cidade. Provavelmente o melhor que tu vai tomar em toda a tua vida, mas não acho que esteja preparada pra essa conversa. — disse, convencida.

      — Ah, é? — ergueu uma sobrancelha. Léia assentiu. — De quê?

      — Limão.

      — Hm... — murmurrou, pensativa. —
Acho que nunca provei.

      — Sério? — Yara acenou positivamente com a cabeça. — Então hoje tu vai saber o que é milk-shake de verdade. — disse, ao mesmo tempo que fez um sinal para chamar a atenção do funcionário do outro lado.

      — Eu até poderia dizer que sei muito bem, porque é a verdade, mas prefiro esperar pra ver o que de tão especial existe nesse milk-shake. — provocou. — Vamos ver se você tem razão.

      — Entenda uma coisa, Lacerda, eu sempre tenho razão. — afirmou, convicta, fazendo-a soltar uma risada curta e debochada.

      — Não me diga!

      — Quer que eu repita? — elevou uma sobrancelha. — Posso fazer essa gentileza.

      — Como é possível que alguém que odeia biologia sempre tenha razão? — seu tom era de quem achava aquilo um completo absurdo. — Me diz, como?

      — Primeiro que gosto não se discute, senhorita. — começou a enumerar nos dedos. — E, segundo, tu sabe muito bem que eu prefiro uma vibe mais humanas e letras. Terceiro, odiar não é a palavra certa. Apenas não é minha praia, entende?

        — Não é tão diferente assim, então, sem condições, Léia Ferreira. Definitivamente, sem condição alguma.

      — Bem, pelo menos sobre o milk-shake tu vai ver que eu tenho total razão. — rebateu, nada disposta a dar o braço a torcer por completo.

Após terem feito os pedidos, acodaram-se à volta da única mesa vazia ao fundo.

A sorveteria e lanchonete Cores & Sabores tratava-se de um espaço bastante aconchegante, com seus bancos de estofado  roxo, várias cores de tinta borrifadas na parede branca, funcionários simpáticos e atenciosos, um cantinho para jogos, e músicas que tocavam, abrangendo o máximo possível de gostos e preferências.

Era o principal ponto de encontro entre os jovens de Porto, liderando o top 3 das melhores lanchonetes da cidade, segundo a votação popular realizada na internet ao fim de cada ano.

Lacerda tirou o celular do bolso do short, verificando as últimas notificações. Cuidou de responder uma mensagem de Clarisse perguntando como estava e outra da tia recomendando que se divertisse.

Desviou a atenção da tela ao ouvir barulho de captura da câmera do celular da porto-baixense que estava apontada na sua direção.

      — Ei! Por que você fez isso?

      — Eu só quis eternizar o momento. — justificou, fazendo-a semicerrar os olhos. — Sério, tu fica uma graça quando tá distraída.

Yara revirou os olhos, balançando em negação.

      — Para de falar bobagem. — sorriu sem graça e virou o rosto.

      — Não, eu tô falando sério. Realmente ficou bonitinha, olha. —  mostrou a foto; o celular a uma distância segura para que ela não conseguisse pegar. — Tu é linda. — afirmou, fitando a sua expressão de quem não tinha achado a fotografia tão ruim assim.

No entanto, antes que pudesse dizer, uma funcionária apareceu com os pedidos, interrompendo o momento e cortando qualquer possível resposta que daria.

      — Obrigada. — Léia agradeceu a seguir à preta, antes da morena de avental preto e t-shirt colorida se afastar para continuar o seu trabalho.

Mexia preguiçosamente o canudinho na taça quando o seu celular vibrou, anunciando a entrada de uma nova mensagem. Não pôde evitar soltar uma risada ao ler, o que roubou a atenção de Yara, tanto por ser agradável aos seus ouvidos como pela curiosidade.

        — Meu Deus, minha mãe tá impossível hoje. — comentou após respondê-la. — Tá me perguntando se eu vi a carteira dela. Ai, essa mulher! Só falta perder a roupa do corpo.

A solarense riu, sentindo o pouco do milk-shake que sugou tomando espaço e fazendo maravilhas em sua língua. Realmente era muito bom.

      — Eu já tinha comentado que ela vai expor na galeria da sua tia no próximo mês, né?

      — Sim, uns dias atrás. — confirmou, lembrando-se que também perguntou se ela estaria presente.

      — Então, hoje de manhã ela falou que precisava ir até Nova Atlanta comprar uns materiais que estão faltando. Agora ela está que nem doida dentro de casa procurando a bendita carteira.

      — Meu Deus, coitada dela. — apoiou o queixo com a mão sobre a mesa. — Deve estar desesperada. E você, em vez de ajudar, só ri.

      — Acredita quando eu digo que não precisa se preocupar. Ela não vai demorar a achar, pode ter certeza. É sempre assim. Convive com ela um mês pra tu ver.

      — Bem, se você diz.

Permaneceram alguns segundos sem dizer absolutamente nada, apenas escutando a música que reverbava pelo espaçonum volume baixo, e as vozes e risadas que se misturavam no ar, tornando o clima agradável.

Léia observou a solarense tomar o líquido em sua taça com vontade — confirmando o que de antemão já sabia —, e um sorriso de vitória ganhou espaço em sua face.

Porém, antes que pudesse fazer algum comentário sobre, outra mensagem da sua mãe entrou.

      — Olha só! Eu não disse? — seu tom era de quem divertia-se. — Ela achou.

      — Onde estava? — quis saber, curiosa.

      — Embaixo do banco do motorista da caminhonete. É provavelmente a centésima coisa que ela perde no mesmo lugar.

Mais algum tempo se passou sem que nenhuma delas falasse. De um lado, Lacerda sugava tranquilamente o seu doce, apreciando o frescor e o sabor agridoce, enquanto, do outro, Léia fazia o mesmo, lançando-lhe olhares nada discretos que ela fingia não notar — embora o sorriso provocativo de canto mostrasse o contrário.

      — Vai demorar quantos anos pra admitir que esse é o melhor milk-shake que tu já tomou em toda a tua vida? — rompeu o silêncio ao concluir que talvez ela necessitasse de um empurrãozinho pra reconhecer que estava certa.

      — Eu sei que você está louca pra ver isso acontecer. — fitou a ponta do canudo entre os seus dedos.

      — Tu nem faz ideia do quanto.

      — Pois bem. — inclinou-se sobre a mesa. — Talvez você tenha razão, Léia Ferreira. Pode ser que esse seja o melhor milk-shake que eu já tomei. Satisfeita agora?

No fundo, sabia que nada perdia para o milk-shake de baunilha com calda de caramelo da sua infância.

Léia relaxou no assento, sorrindo de canto

      — Poderia estar mais, claro, mas acho que é o que temos pra hoje.

      Lacerda enfiou um punhado de pipoca na boca, alternando o olhar entre a televisão e a tia que vinha caminhando na sua direção.

      — Dormiram? — indagou assim que ela tomou lugar ao seu lado no sofá.

Lena assentiu, ajeitando-se de maneira que pudesse manter uma perna esticada.

      — O que você tá assistindo? — quis saber, inclinando-se para pegar um pouco de pipoca na vasilha no colo dela.

      — É uma série policial, Chicago PD. — respondeu quando teve a boca livre. — Quer que eu troque?

      — Não, não precisa. — respondeu rapidamente, intercetando o seu movimento para pegar o controle. — Eu adoro essas séries de investigação e suspense, apesar de fazer um bom tempo que não paro pra ver uma. — comentou; o olhar meio distante enquanto mexia nos cabelos.

A seguir foram abraçadas pelo silêncio.

Yara voltou a prestar atenção à série, à semelhança da tia, que tentava entender quem era quem e o que exatamente se passava no episódio que assistiam.

Desviou os olhos para a sobrinha que, diferente dela, estava concentrada na TV, tendo em mente algumas questões em relação a certas coisas que vinha notando e algo lhe dizia que não era apenas paranoia da sua cabeça. Caso fosse — o que duvidava muito —, não precisaria transcender as paredes daquele residência e continuariam todos a seguir com as suas vidas normalmente.

      — Yara. — chamou, de repente. Ela a fitou. — Posso te perguntar uma coisa? Sem querer me intrometer ou algo do gênero, só por curiosidade mesmo. E também não precisa responder se não quiser.

      — Pode, claro.

      — Certo. — fez uma curta pausa, deslizando levemente os lábios um no outro. — Então, é...por acaso tá rolando alguma coisa entre você e a Léia?

A adolescente se engasgou com o ar, precisando da ajuda da tia para controlar a crise de tosse que surgiu do nada.

      — Bem, parece que já tenho a minha resposta.

      — Como assim? Que resposta? — inquiriu, levemente alarmada.

Madalena apenas ergueu uma sobrancelha, como um sinal de que ela sabia muito bem ao que se referia.

      — Ah, não! Não é nada disso que você está pensando. — tentou soar convincente e firme, embora nem ela mesma acreditasse no que dizia.

      — E no que eu estou pensando?

Yara abriu a boca, mas nada saiu. A sua maior vontade no momento era se jogar da varanda ou enfiar a cabeça num buraco, apenas para que não tivesse que encarar a expressão de quem sabia das coisas da tia.

Tentava manter alguma postura, buscando por algo suficientemente convincente, mas tremia nas bases, pega totalmente de surpresa com a perspicácia de Lena, como se já soubesse e estivesse perguntando só por puro divertimento.

Ela soltou uma risada, coçando o sobrolho.

      — Não precisa entrar em pânico, Yara. — apoiou o rosto numa das mãos. — Foi só uma pergunta.

      — É, eu sei. E, não, não tem nada rolando entre eu e a Léia. — disse, recuperando o contexto principal. — Nós somos amigas, e só.

Madalena arqueou a sobrancelha e fitou-a sem dizer absolutamente nada, como se estivesse em busca de sinais de inverdade em sua face.

      — Mas, assim, é o que vocês querem, ou ainda não tiveram coragem de admitir que de fato tem algo mais acontecendo aí?

      — Do que você está falando?

      — Querida, por mais que você tente se enganar, vai chegar uma hora que isso não vai mais resultar. — alertou em tom suave. — Eu vejo a maneira como vocês se olham, e tenho certeza que não sou única. Mas, tudo bem, eu super entendo que você não queira conversar sobre isso agora ou, sei lá, precise de tempo para assimilar. Tá tudo certo, mesmo. Você sabe que sempre pode contar comigo e com o meu apoio. Se precisar de conselhos ou de colo, eu estou sempre aqui pra você, sim? — a solarense assentiu, sorrindo agradecida. — Bem, agora eu vou dormir porque amanhã acordo bem cedo. Você também deveria ir, já tá ficando tarde.

      — Uhum, daqui a pouco já estou indo. — murmurou pensativa, observando-a levantar-se e depositar um beijo em sua testa, à medida que os pensamentos se voltavam para o que ela acabara de lhe dizer, sobre Léia querer mais do que uma amizade consigo e na possibilidade de aquilo acontecer.

Soava tão distante, não por falta de sentimentos, mas sim porque ela era tão diferente de si, tão leve, tão confiante e de bem com a vida, que não a imaginava se colidindo com alguém tão machucada e insegura quanto ela.

      — E não me invente de ficar acordada até tarde, viu senhorita? Já sabe que, se fizer isso, vai acordar mal disposta. — recomendou, gesticulando para mostrar que estava de olho. — Enfim, boa noite, meu bem.

      — Durma bem, tia.

Acenou antes que se afastasse, impedindo que o fizesse por completo quando a chamou.

      — Tia?

      — Sim? — cruzou os braços, esperando ouvir o que quer que ela tivesse a dizer.

      — E se eu, sei lá... — desviou o olhar, encolhendo os ombros.— E se eu gostar dela? Tipo, gostar mesmo, para além da amizade.

Lena voltou a sentar-se ao seu lado.

      — Se assim for — "o que em breve você vai ter certeza", quis acrescentar, porém conteve-se. —, vá em frente! Fale o que você tá sentindo, abre o coração pra ela. Não deixe de tentar, por medo ou qualquer outra coisa que só te puxa pra trás. Se, de alguma forma, sente que é recíproco, melhor ainda. — colocou alguns dos seus cachinhos atrás da orelha. — Não tenha medo de ser feliz.

A tia abraçou-a antes de desejar boa noite e desaparecer pelo corredor, não sem antes tornar a recomendar que não demorasse a ir para a cama.

Fechou a TV mal ela se foi — sendo engolida pela escuridão da sala de estar —, com o pensamento fixo de que, diferente do que a tia dissera e provavelmente pensava, ela não tinha medo de ser feliz, mas sim não se achava suficiente para fazer com que alguém fosse.

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