- Vamos combinar que os gritos dos prédios dos pacientes e tudo o que se ouve e vê por aqui durante o dia não são fatores que deixa o sono de alguém em paz, não é mesmo?

- Fico me perguntando se algum dia há como se acostumar...

- Não completamente, mas, daqui uns dias você já vai ser capaz de dormir sem ser acordada pelos gritos, pelo menos. Quanto às perturbações dos pacientes, já não posso ter tanta certeza... – Kate sorriu compassiva.

- Enquanto isso, eu vou tentando me livrar da insônia inconveniente com um copo de leite quente. Por acaso você sabe como eu faço para esquentá-lo? – Melissa perguntou, levantando o copo cheio de leite, enquanto fechava a geladeira.

- O micro-ondas é o nosso maior aliado nessas horas. – Kate pegou o copo da mão dela e levou até um canto da cozinha que, depois da geladeira fechada, passou a ser escura e sombria como antes.

Arrepios eram inevitáveis.

Depois de alguns bipes e o som da porta de vidro fechando, Kate ressurgiu das sombras.

- Então, o que aconteceu hoje para deixá-la acordada até essa hora?

- Digamos que a sessão de terapia de grupo foi um desastre e Johnatan Reagan é um pervertido sexual incurável. – Melissa suspirou, cansada.

- Johnatan Reagan sempre causando problemas... Ele não tem jeito! Já passou da hora do Thompson trancá-lo em sua cela no prédio C e nunca mais deixá-lo sair de lá. Ele definitivamente é uma ameaça para a sociedade do St. Marcus.

- E é com certeza a pessoa mais assustadora que eu já vi na minha vida. – Melissa comentou, enquanto o micro-ondas anunciava o fim de seu serviço.

Kate foi até lá, trazendo em mãos o copo de leite já quente que Melissa tanto necessitava.

- O que ele fez para você? – Kate perguntou, preocupada como uma mãe com seu filho.

Melissa se sentia extremamente confortável na presença daquela adorável enfermeira, e isso era até meio assustador.

- Tentou exteriorizar suas perversões sexuais, mas... – Melissa soltou um risinho, dando um pequeno gole no leite, que queimou em sua garganta. – Corey Sanders o impediu de terminar seu raciocínio.

- Corey Sanders?! – a enfermeira arregalou os grandes olhos verde esmeralda, que de tão grandes e surpresos, podiam ser vistos com perfeição naquela meia escuridão.

- Acredite se quiser...

- Ele falou?

- Não, mas deu uns bons socos em Johnatan Reagan, quebrou seu nariz e deixou um olho inativo por, pelo menos, uma semana.

- Eu realmente não esperava uma reação dessas de Corey Sanders. Quer dizer, sempre tão calado, andando por aí como se o ar que respira é mais puro do que o dos outros... No fim das contas ele te defendeu, não é mesmo?

- Não consegui compreender. Nas duas sessões que eu tive com Corey Sanders ele ficou lá, calado, me encarando com aquele sorriso irritante. E de repente ele parte para cima de outro paciente que me desrespeitava?

- O que você achou disso? – Kate sorriu, e dessa vez não foi de forma maternal, e sim mais esperta do que nunca.

Havia uma segunda intenção ali, que tentava a todo custo ser disfarçada.

- Corey Sanders é certamente a pessoa mais enigmática que eu já conheci em toda a minha vida. – foi tudo que Melissa declarou, tomando um longo gole de seu copo de leite.

Psicose (Livro I)Where stories live. Discover now