Ela puxou a porta de correr e indicou uma passagem diferente daquela que usamos para cozinha. Mas, antes que eu pensasse bosta, a mesa retangular cheia de ingredientes para drinks apareceu. 

— O que sabe fazer? — Roux apontou para as dezenas de frutas e bebidas diversas organizadas em cima daquela estrutura. — Surpreenda-me.

— Tem certeza de que deseja isso? 

— Eu nunca tenho certeza de nada. Apenas da morte, porque, como o clichê já mostra, é a única verdade que temos em vida — respondeu, instruída. Ela encostou em uma das pilastras. — A senhorita pode me surpreender de múltiplas formas, mas também não saberá qual acertou até o resultado final. Mas não se preocupe, pois lhe direi.

— E qual a certeza que tenho sobre isso? Quem me garante que a senhorita me dirá? — provoquei. 

Era o nosso jogo, e eu não o deixaria passar, ainda mais sendo competitiva. Precisava vencê-la. Todo desafio era bem acatado por mim.

— Você não tem — respondeu a mais velha, simplesmente.

Eu parei um minuto. Seria errado me envolver assim se a escritora não fosse o próprio demônio em Terra. Eu só estaria devolvendo todo o mal que ela havia causado não apenas aos Bewforest, mas também a outras famílias. Genesis Roux entrara na minha vida sem que eu pedisse, cortando quem eu amava, sem exceção. O sangue ainda escorria, o ferimento apodrecera, mas ela permanecia impune.

A falta de ética e moral existia, ironicamente, para criar uma justiça que poucos tinham coragem de usar.

Debrucei-me, portanto, naquela mesa viva com tanta cor e alimentos saudáveis, os quais seriam picados e misturados com vodka pura. Não me demorei no processo, porque era uma amante de bebidas alcoólicas, e despejei o líquido pronto, parcialmente rosado, dentro de uma taça ali perto. Entreguei a mulher.

— Para combinar com seus lábios.

Ela sorriu mais. Talvez fosse tão competitiva quanto eu, porque não recuava. Mas havia um malassombramento em cima de mim que eu somente não entendia. Observei-a derrubar pouco a pouco a bebida sobre a língua. Desconfiei que pararia na metade, mas ela, fisgando-me com o seu azul-piscina, bebeu todo o conteúdo. 

— Lembrou-me baile de escola, montanha-russa e primavera. É adocicada, mas não tanto. Senti a queimação da vodka no fim, meu estômago se exibiu sob cortesia e tive vontade de repetir todo o processo — derramou. Ela passava a língua em uma lentidão calculada sobre os lábios, sem medo algum de manchá-los.

— Uma crítica completa — falei, fissurada em sua imagem. — E eu nem pude me defender.

Ela riu. Gargalhou, na verdade. Saiu do seu encosto ainda me lançando a risada e bloqueou novos passos antes que fosse engolida pelos meus olhos. 

— Não pensei que a senhorita fazia o tipo piadista.

— Não pensei que a senhorita fazia o tipo divertida.

A força da aproximação me deixava mais tonta do que se eu tivesse virado toda a vodka original. Ela não parecia oscilar em nenhum momento: suas íris estavam muito fixas em mim. As minhas, por outro lado, corriam sua face por completo. Eu sentia o calor das respirações se confundindo. 

— Sabe por que a coloquei como responsável pela Ala Hospitalar? 

— Seria minha próxima pergunta.

Eu ardia em expectativa, mas eu não podia saber o que se passava em sua expressão inabalável.

— Porque o Destino me fez escolhê-la.

Daquela vez, eu mesma precisei rir. Ela não havia perdido o entretém, mas não me acompanhava no som.

— Não faz sentido.

— Não tenha tanta certeza disso, Madison.

A dona daquela residência milionária usara meu nome de propósito, pois sabia que me balancearia. A minha pressão despencou e precisei deslizar as duas palmas uma na outra, ansiando retomar a consciência normal. Aquilo não se conectava de nenhum jeito, mas eu já retrucava com o Destino há mil anos. 

— Então tudo tem um desígnio? 

— Tudo, mas qualquer situação pode ser mudada pelo Destino, e nunca entenderemos o porquê. Por isso não temos certeza de nada — explicou-me com a voz baixa, próxima de um sussurro. — Nem quando dois mais dois se formam quatro, porque, apesar da soma concentra, pode vir uma subtração qualquer e mudá-lo. 

O que havia na bebida para que ela estivesse falando assim? Antes que eu perdesse o controle dos joelhos e despencasse em seus pés, uma atitude descontrolada, recuei alguns passos. 

— Eu vou aprender em algum momento? — eu disse. Estava trêmula, mas não cairia.

— Espero que o tempo lhe diga. — Suspirou umas duas vezes. O que a mulher estava querendo falar que não podia ser clara comigo? Como se algo houvesse instalado em seu corpo, Roux alertou-se novamente. — Vamos, Bewforest. Ainda tenho de cantar para os convidados. 

A Genesis não brinca em serviço. Maddie está mantendo a boa linha, mas é fato que a Eva Green (o avatar da Genesis kakaka) deixa as pernas bambas. Maddie só não pode desviar do foco. Ou vai?

Gente, como falei no mural, está complicado a rotina e afins. Mas estou me esforçando para sempre vir aqui e terminar as postagens, para que vocês consigam acompanhar além da Amazon. Em breve, vou colocar gratuito lá, mas aviso antes.

Não deixem de votar, comentar, compartilhar. Vocês são tudo!

You've reached the end of published parts.

⏰ Last updated: Dec 19, 2020 ⏰

Add this story to your Library to get notified about new parts!

Carmesim | LésbicoWhere stories live. Discover now