6| P O S S I B I L I T Y

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"Continuam me dizendo que vai ficar melhor
Será que vai mesmo?"

In My Blood — Shawn Mendes

Depois de dar uma volta com o carro nas imediações da propriedade para testar se funcionava bem, resolvi ir à cidade pela primeira vez desde que cheguei

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Depois de dar uma volta com o carro nas imediações da propriedade para testar se funcionava bem, resolvi ir à cidade pela primeira vez desde que cheguei.

Ficar remoendo as minhas mágoas não colocaria comida nessa casa, no fim das contas. A geladeira estava ficando escassa e os armários estavam quase vazios, então já era mesmo hora de ir ao supermercado para abastecer o que já estava precisando. Após olhar a conta que meus pais me deram quando fui embora notei que não poderia ficar sem um emprego por muito tempo. Sim, era um bom dinheiro, mas a longo prazo seria complicado manter. Eu sei o fato de que não vou poder voltar, então não posso apenas depender as economias deles pra sempre; além do mais a ideia de permanecer trancada naquela casa sabe-se lá por quanto tempo me enlouquecia. Suspiro, baixando a cabeça para organizar as ideias.

Os momentos de ontem a noite ainda me intrigavam, especialmente pelo fato de não me lembrar de nada. Acordei hoje de manhã com os pulsos enfaixados e com novos hematomas que não sabia como haviam sido feitos e isso me desestabilizava por completo. Quer dizer, o que eu deveria supor? Que surtei novamente em um pesadelo e acabei me machucando? Todas vez que tento lembrar de algo minha cabeça dói como nunca e meu peito arde. É quase como se devesse permanecer esquecido, pelo menos por enquanto. Suspiro pesadamente e encaro o céu de fim de tarde. Que fique esquecido então, um hematoma a mais ou a menos não faria diferença.

Assim que chego nas dependências da cidade começo a reparar na diferença gritante com Chicago. Não que não fosse óbvio desde o início, porém vendo assim era assustador. Não havia nenhum edifício alto ou aqueles comércios gigantescos que a minha antiga cidade apresentava; tudo parecia ter saído diretamente de alguma fotografia do século passado, com casas de cerca branca e gramado verde nas calçadas. Crianças brincavam umas com as outras no meio-fio e os idosos pareciam alegres e felizes enquanto conversavam em cadeiras de balanço nas suas varandas. Em Chicago era quase proibido ver cenas como aquela por conta de criminalidade crescente, principalmente nos subúrbios. Passo meus olhos pelos comércios e noto que não haviam tantos assim, contudo todos os que eu vira eram bem movimentados pelos moradores e tinham quase a mesma aparência nostálgica das residências.

Depois de uns dez minutos dirigindo na rodovia principal estaciono o carro em frente ao único supermercado da cidade –acredite, eu me informei. Parecia bem menor do que um mercado convencional da minha antiga cidade, contudo aparentava muito mais aconchegante. Havia uma parede de tijolos vermelhos na lateral, sendo a maior parte da estrutura feita em vidro e metal. Haviam mais alguns carros estacionados no pequeno estacionamento, todos parecendo tão antigos quanto o Mustang. Desço do carro, caminho até a entrada do mercado e pego um carrinho, seguindo para o interior. Passo pelas prateleiras e pego o que é necessário, surpresa com a variedade de produtos que oferecia. Sim, isso definitivamente serviria. Fazer compras no mercado era uma das únicas coisas que me fazia querer sair de casa. Nunca soube explicar o porquê me sentia tão bem quando a única coisa que eu precisava me preocupar era uma lista de compras, sempre fora algo que me tirava do ar mesmo que por alguns minutos; porém nesse momento eu não me sentia fora do ar, muito menos tranquila.

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