Quando ela quer, ela manda

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Há quase um ano e sete meses que ela estava imergida naquele luto, onde não lhe era permitido sorrisos, descanso e sair de casa. Martirizando-se pelo acidente que levou sua primogênita a morte, ela perdeu completamente o gosto pela vida e afundou-se em uma depressão.



Por inúmeras vezes o marido e o filho tentara-na a buscar ajuda para vencer aquilo, mas ela não tinha forças. Todas as vezes que tentava se reerguer, ela lembrava da morte da filha e tudo caia por terra, novamente.



Com o passar dos meses, a família acostumou-se com o estilo de vida que a empresária levava. Era do quarto para sala, da sala para o quarto e nada além disso. A governanta já sabia de cor os horários que a patroa descia e os poucos minutos que ela ficava no cômodo de baixo da casa.



O marido, já entendia que não podia toca-la, a não ser oferecer seus abraços quando ela debulhava-se em lágrimas ou quando queria dormir aninhada a ele, o que era muito difícil, mas acontecia. Palavras dificilmente duravam entre o casal que além de enfrentar o luto, enfrentavam também uma crise conjugal.



O filho, já havia entendido que chamar a mãe para passeios ou coisa do tipo era ineficaz, pois ela não ia de jeito nenhum e nem adiantava fazer uma drama aqui ou ali. Para a empresária, sair de casa, era um suplício.



Não havia mais o que fazer.



Terça-feira, noite;

Mansão dos Bocaiúva Monteiro.



Já se passavam das oito da noite, quando Lili, deitada em sua cama, observou o marido adentrar o quarto do casal. Ele a cumprimentou com um beijo na testa e seguiu para o banho.



A empresária não entendeu nada, pois nos últimos meses, ele sempre chegava depois das nove e meia, mas também optou por continuar calada mexendo em seu tablet.



Após alguns minutos no banho, o químico saiu do banheiro já de roupa trocada e sentou na cama ao lado da esposa. Ambos permaneceram em silêncio. Ele checou rapidamente seu celular e logo largou o aparelho sob a mesa ao lado, deitando-se logo em seguida e embrulhando-se.



A empresária estranhou muito o fato dele estar deitado naquele horário, ainda não eram nem nove horas, mas já que ele não havia falado nada. Ela também não iria o incomodar. Depois de alguns minutos ao lado do marido, ela sentiu a respiração tranquila dele e percebeu que ele dormia. O filho do casal havia acabado de confirmar por mensagem que o jantar estava pronta e então ela decidiu não o acordar.



A mulher desceu, jantou com o filho e após a refeição conversou amenidades com ele. Questionou sobre a faculdade, sobre seu trabalho na fábrica e por fim, questionou se havia acontecido algo com o pai do rapaz na empresa em que trabalhavam. O jovem logo negou e disse que o dia foi tranquilo na fábrica. Não convencida, a empresária despediu-se do filho e retornou para o quarto do casal.



Observando que o marido permanecia na mesma posição de minutos atrás, ela caminhou até o banheiro fez suas higienes e retornou para a cama, deitando-se ao lado dele e dormindo logo em seguida, por conta dos medicamentos que tomava.



Eram por volta das uma da manhã, quando Lili acordou sentindo o esposo tremer ao seu lado. Rapidamente, ela ergueu o braço esquerdo e pôs sobre a testa dele. Ele estava queimando em febre.



— Germano! - o chamou, mas ele continuou de olhos fechados. — Acorda, Germano.



— O que foi, Lili? - a voz rouca saiu por um fio.



Te quero de voltaWhere stories live. Discover now