4

12 3 0
                                    

P.O.V Girassol.
Quando cheguei em casa já estava na hora do almoço e meus amigos almoçavam. Nem passei pela cozinha e fui direto para meu quarto tomar banho. Eu me sentia suja, quase imunda. Precisa limpar meu corpo, escovar os dentes, deitar em posição fetal e chorar até dormir.
E foi o que eu fiz. Assim que acordei conversei com Lucas e disse que não estava bem e que eu só iria até a boate passar algumas instruções para Lídia, depois voltaria para casa. Pois não estava com cabeça para nada. Eu só sabia chorar a cada meia hora e não podia falar nada pra ninguém, pois ele me mataria se descobrisse ou desconfiasse.
Terminei minha maquiagem que estava tão perfeita que nem parecia que eu havia chorado a noite inteira e o dia todo também. Passei meu perfume e desci as escadas. A maioria já estava dentro da Van, Ale estava no final da escada me esperando. Me abraçou como se soubesse que eu precisava daquilo naquele momento.
-Vai passar, eu prometo. -ele disse e eu sorri fraco agradecendo. Ele sabia de algumas coisas do meu passado mas não tudo.
Fomos para a boate, dessa vez sem conversa alta, nem risadas. Parecia até o caminho de um enterro e fiquei imaginando como seria quando eles fossem ao meu funeral.
Ao descer da van, Lucas veio falar comigo. Ele estava preocupado e levemente irritado. 
-Boa noite, Ingrid. Maya vai passar as instruções para Lídia e você vem comigo pra minha sala. -ele disse entrelaçando nossos braços e eu apenas assenti. Estava fraca demais pra discutir ou fazer gracinhas.
Entramos em sua sala, eu me sentei em um dos sofás de couro preto que tinha em frente a sua mesa e o encarei.
-O que você quer? -perguntei
-O que aquele babaca fez com você de novo, Ingrid? -ele disse e eu apenas balancei a cabeça negativamente segurando o choro. -Olhe pra você. -se aproximou acariciando meu rosto e eu continuei segurando pra chorar. -Parece aquela mesma garota que meu pai contratou anos atrás, com cara de choro entalado e olhar assustado. -respirei fundo. -Eu já disse pra você deixar isso comigo, eu não disse?
-Sim. -respondi fraco pra não chorar.
-Os seguranças daqui viram ele te enchendo o saco e te puxando pro carro. Poxa, Ingrid. Você não confia mais em mim? E o nosso ponto?
-Lucas se eu falo com você pelo ponto, a boate toda iria ouvir, os meninos iriam querer se meter, eu iria morrer e vocês também. Já não basta minha própria sentença de morte, eu não quero ver vocês morrerem também. -limpei algumas lágrimas teimosas.
-Desde quando ele te procura? -ele perguntou se sentando ao meu lado e segurando minha mão.
-Desde o começo das minhas férias mas como eu tinha ido viajar ele não me encheu o saco pessoalmente. Não sei como ele descobriu que eu voltaria ontem e me achou na rua de trás quando fui jogar umas coisas no lixo.
-A partir de hoje só homens jogam o lixo. -Lucas disse sério. -E você só sai daqui quando eu for pra casa, vou te levar e te buscar.
-Lucas não se meta nisso. Você vai acabar prejudicando seus negócios, seu pai não se orgulharia disso.
-Meu pai se estivesse vivo e soubesse do que aconteceu ontem, ele mesmo iria atrás daquele imbecil e o mataria. -ele disse dando de ombros. -Você sai daqui comigo e só entra aqui comigo também. E vou mandar alguns guardas ficarem de olhos e ouvidos atentos em volta do hostel. Isso se eu não fizer você vir pra minha casa.
-Eu nunca aceitaria isso e você sabe bem o porquê. -respondi séria e ele respirou fundo. -Você sabe que seu noivo não gosta de mim.
-Ex noivo. -ele respondeu com um tom triste.
-Sinto muito. -eu disse ele riu me fazendo rir junto.
-Sente porra nenhuma. -ele disse rindo e me olhou. -Foi melhor assim, Ingrid. -sorriu fraco.
-Eu sei, Lucas. -sorri de volta.
-Tem certeza que não quer tentar ajudar a Lídia? Acho que a Maya não vai ter tanta paciência quanto você.
-Vou tentar. -respondi.
-Fique lá só a primeira meia hora e depois volte pra cá. Hoje você vai me ajudar com umas papeladas.
-Lucas, você sabe que eu odeio mexer com isso.
-Tem hora que você é muito lerda, mano. -ele disse e eu fiquei sem entender. -Vai lá e volta aqui depois, por favor. Garanto que você vai gostar. -piscou e eu saí ainda  sem entender absolutamente nada.
Entrei na boate e vi a pista de poli dance vazia, as dançarinas se apresentariam bem depois. Me deu muita saudade do meu tempo de dançarina.
Fui no meu antigo "camarim" e peguei uma roupa daquela época e um sapato também.
Voltei pra sala de Lucas pra pedir permissão para dançar.
-E desde quando você precisa de autorização pra fazer alguma coisa aqui dentro? -ele disse e eu revirei os olhos.
-Então já que é assim eu vou mandar suas dançarinas chatas e desengonçada pra rua hoje mesmo. -eu disse e ele riu.
-Se você garantir que vai contratar iguais a você eu deixo sim. -ele respondeu sabendo que eu ficaria sem graça. -O que você tá fazendo pelada? -ele disse e eu ri.
-Para de fingir que nunca me viu assim e me ajuda logo com esse espartilho. -eu disse me virando de costas pra ele. E ele fechou o espartilho com uma cara fechada.
-Ingrid...
-Lucas depois eu faço um show particular só pra você. Agora vai lá e anuncia que a antiga Lotus está de volta. A primeira e única dançarina de verdade que esse lugar já teve.
-A senhorita é quem manda. -ele disse saindo de sua sala.
Ajeitei minha antiga máscara na frente do espelho que tinha no banheiro de sua sala. Respirei fundo e fui até o palco matar a saudade e mostrar pra aquela garota como é que se dança de verdade.
-Aproveitando que tem muitos clientes antigos essa noite nós separamos uma surpresa para vocês. Hoje nós teremos um show nostálgico com a nossa primeira bailarina, a Lotus. -ele disse e eu sorri acenando para os clientes. -Ela mesma usou esse apelido em homenagem a nossa boate. Enfim, chega de enrolação e vamos assistir ao show. -saiu do palco me dando espaço para dançar da forma que eu bem entendesse.
Terminei o show com vários aplausos, assovios e algumas notas de gorjetas. Nada mal para uma dançarina quase aposentada. Saí dali correndo e fui para sala de Lucas me trocar em seu banheiro.
-Se você quiser, o show principal é seu de novo. -ele disse e eu sorri.
-Obrigada, mas não sei se posso aceitar. -respondi saindo do banheiro já com a minha roupa de garçonete comum.
-Por que não? -ele respondeu.
-Você sabe como o pessoal aqui ama falar de mim, né. -me defendi.
-E desde quando você pensa nisso? -ele perguntou e eu me calei. -Pelos velhos tempos. -pegou em minha mão e a apertou forte.
-Uma pena não poder pegar você pelos corredores mais escuros ou nos estoques como antigamente. -eu disse e nós rimos.
-Se você quiser um flashback...
-Eu aceito os shows. -mudei de assunto. -Mas não quero que ninguém saiba que sou eu. Como era antes.
-Combinado. -ele disse sorrindo. -E o flashback?
-Você não é mais virgem e ingênuo, Lucas. Não teria a mesma graça. -eu disse fingindo desdém.
-Nem você. -ele disse e eu ri.
-Mas eu nunca...
-De amor você era sim. -ele disse me fazendo engolir a seco e alguém bateu na porta que estava trancada.
-Quem é? -Lucas perguntou.
-Sou eu, chefe. -um dos seguranças respondeu do lado de fora. -Dois clientes brigaram com um garçom e estão querendo falar com o senhor.
-Eu já vou. -Lucas respondeu com uma cara nada boa.
-Você fica aqui e sai depois que eu já estiver lá resolvendo. Tudo bem? -falou para mim e eu assenti.
Lucas saiu e depois de uns minutos eu saí também. O que eu não esperava era que Ale estava intrometido nessa briga.



LótusOnde as histórias ganham vida. Descobre agora