Um Romance Fora de Época ( Degustação)

Capítulo 1

Divisor de texto

Quando chego em meu apartamento já é noite, abro um dos vinhos que meus pais me deram no último aniversário - Cabernet 2013 -, enquanto aprecio meu vinho coloco a água para ferver e tiro o molho bolonhesa do freezer. Cansada de vozes aleatórias de um dia de trabalho, ao invés de ligar a TV para assistir algo, resolvi escutar uma música na Alexa.

- Alexa toca Cello covers.

- Okay. – E minha sala é invadida pela pelos acordes de um violoncelo com a música With or without you, a minha favorita. - Música para muitos é o mantra do dia, música é onde encontro minha liberdade e quando eu a sinto nas cordas do violoncelo, parece que nada mais existe ao meu redor.

Por isso a minha playlist de escolha geralmente será de cordas e não vozes.

Eu preciso organizar essa viagem para Glasgow, quantos dias? Onde ir? O que procurar? Será que a lenda do duque ser apaixonado pela princesa da Escócia é real? São muitas questões para uma história.

Roza e seu sexto sentido sempre me colocam em lugares sem respostas, e quando eu as encontro, sei que é uma enrascada das grandes, a amizade dela é a única coisa que me faz ter certeza que ela não quer me matar a cada viagem nova. Eu sempre amei viajar e desbravar lugares nunca vistos, contar histórias nunca escutadas ou pensadas, ter experiências que ninguém imaginaria, ser filha de uma amante de literatura tem suas vantagens.

Sou filha única de um neurocirurgião polonês e uma professora de literatura portuguesa, eles se conheceram em uma das viagens de minha mãe a países diferentes. Hoje moram juntos em Cracóvia na Polônia, enquanto eu me instalei na minha cidade natal, Sintra em Portugal. Onde fiz minha faculdade de jornalismo e conheci minha atual sócia e melhor amiga. Meu projeto final da faculdade foi uma editora que contava histórias ou lendas que nunca foram comprovadas ou vistas, dela nasceu HA – Histórica Arte, minha editora, que começou como um pequeno blog e aos poucos foi requisitada por pesquisadores, paleontologistas, revistas e curiosos por histórias que nunca tiveram seu fim adequado pesquisado. Convidei Roza para ser minha sócia, com ela cuidando da parte burocrática e mais teórica e eu fiquei com a prática e mais perigosa, somos uma dupla e tanto nesses três anos, com o tempo tivemos que expandir e contratar mais funcionários.

Roza se casou com um Espanhol boa pinta, na primeira vez que tive que mandar ela para uma pesquisa prática, pois minha mãe estava doente. Como a única vez que eu a coloco na estrada, ela me volta com seu futuro marido e 1 ano depois com minha futura afilhada. Juan Carlos Garcia é Investigador privativo de desaparecimentos na Espanha, mas logo com a persuasão da minha amiga, será em Portugal.

Após descongelar meu molho e juntar ao macarrão e acrescentar um queijo ralado, eu delicio junto ao vinho que já está na metade, pego folha e caneta na gaveta da sala, enquanto ligo meu computador. Procuro no grandioso Google "Romance do século faz aniversário", me aparece vários links de fofocas, resolvo clicar em um blog literário. O Título está em letra cursiva: "O dia que um roubo a coroa, roubou mais que ouro".

Claro que a blogueira em questão falava de um romance emplacador, de suspirar até as mais belas donzelas e blá blá blá, eu não tenho nada contra romance de época, até porque já devorei várias estórias de autores americanos, londrinos ou brasileiros. Na minha estante tem de Lisa Kleypas a Guilherme Ribeiro, ou seja, eu já li e me apaixonei por cada casal e detalhe escrito no século XIX, mas tudo tem limite. E o meu começa com a beleza que as leitoras veem nas vestimentas da época, até o sonho em viver naquela época, sem banheiro, internet e direitos às mulheres, como alguém pode almejar tal coisa?

Além de um prefácio para prender o leitor com talvez uma nova obra para os leitores sedentos desse gênero, está escrito com referências confiáveis o dia, local e um resumo do que procurar para decifrar o roubo, como um caça tesouros – era só o que me faltava, daqui a pouco vou encontrar Jack Sparrow e o baú de Dave Jhones.

"... O roubo aconteceu em Junho de 1830, não há uma data exata, para descobrir tais informações do castelo de Balmoral, que fica a duas horas de carro de Glasgow, lugar onde muitos imaginam ter sido onde aconteceu o roubo. A teoria geral diz que uma princesa morava neste castelo e tinha com ela o Balmoral Seud (jóia em gaélico), um duque britânico de nome nunca declarado pelos séculos, foi pago pela coroa inglesa para roubar tal jóia, pois dizia a lenda quem tivesse posse de uma jóia misteriosa, que pesquisadores imaginavam ser um diadema, teria posse do castelo. Porém ao se deparar com a princesa Vitória, o duque acabou se apaixonando e tendo que abandonar sua amada para cumprir a missão.

É dito que o diadema ou Balmoral Seud sumiu, e nunca foi descoberto qual era a real peça, deixando quem conhece a história se alimentar apenas por especulações de pesquisadores e curiosos. Porém nunca foi visto tal jóia no território inglês e assim foi conhecido como o maior roubo do século, pois o duque sem nome, sumiu no mapa roubando a Escócia, Inglaterra e o coração da princesa."

Termino meu jantar e coloco tudo na máquina de lavar, me sento em meu tapete felpudo com minha taça na mão e apoio minha cabeça na beirada do sofá, outra melodia repercute pela minha sala, agora parece o som de dois violoncelos em sintonia com um teclado no fundo ao som de Halo da Beyonce.

Diadema de Balmoral, nunca ouvi falar de tal nome, e que eu saiba esse castelo fica mais perto de Edimburgo que Glasgow, sendo ainda longe pois é 10 milhas de viagem.

— Alexa pesquise sobre o castelo de Balmoral, por favor. – Eu sei, sou uma louca por pedir por favor a um robô, mas é robô muito doce.

— Castelo de Balmoral é uma grande propriedade em Royal Deeside, localizado próximo a cidade de Craithe, conhecido como o castelo de verão preferido da princesa Isabel II, e desde 1848 pertence à família real britânica.

Então a amada rainha Beth é dona do castelo, claro que é, o Reino Unido todo deve pertencer a aquela mulher de cabelos brancos, não dou cinco dias para a mídia bombardear a coroa inglesa sobre o tal diadema.

- Alexa, o que sabe sobre o Balmoral Seud?

- Balmoral Seud foi a joia mais estimada de toda a Escócia entre os séculos XVII a XIX, a lenda dizia que quem tivesse a sua posse, teria posse do castelo, que abrigava na época a família real nos invernos rigorosos. A princesa Vitória passava a alta temporada no local, sempre conhecida por festas bufantes e aclamadas por todo Reino Unido.

Então temos uma princesa mimada que gosta de bailes, uma joia que valia mais que a atual rainha da Inglaterra e um Duque sem nome, que foi o mais esperto de todo o enredo. Como diria Dona Catarina Alves Wisniewski, a aventura mais saborosa é aquela que o prato principal é o mistério intrigante de roer as unhas. E eu estou ansiosa para me deliciar desta.

Coloco a taça na pia, já vazia e apago todas as luzes da sala, com um único pensamento, tem uma aventura me esperando nas terras altas da Escócia.

— Boa noite Alexa, desligue tudo.

— Boa noite Clarice.

Oi, cheguei com mais uma obra para revirar seu mundo de ponta cabeça. 

Eu fiz um casting dele com todos os personagens principais desta comédia romântica e você pode ver no meu insta @ escritoraggoulart. 

Pretendo postar um capítulo por semana, mas me digam quem já ama Clarice?