DOWN WITH THE SICKNESS

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— Miséria!

Oh, sentimento apunhalado

Nas entranhas

Que escorre

Lama podre por dentre os ossos.

     Louis encarava o espelho avidamente, enquanto suas mãos apertavam a borda da pia de mármore do banheiro. Seus orbes azuis ferviam com a raiva contida, o azul furioso brilhando nas chamas do ódio. Ele podia sentir seu corpo tremer e as lágrimas de tensão se aglomeravam no canto de seus olhos. Em seu pescoço, marcas roxas marcavam a pele alva em um tom arroxeado, o exato desenho de dedos que o sufocaram até que estivesse no limite até a inconsciência. Seu corpo, por baixo das roupas largas, escondia marcas parecidas, cortes profundos e cicatrizes que jamais iriam sumir de suas memórias.

     O desprezo e o nojo estavam igualmente presentes no semblante do jovem de apenas dezesseis anos. Seus orbes azuis admiraram o luxo do banheiro da suíte com desdém, mas não remorso. Ele olhou para baixo, para os braços cobertos com o escarlate que escorria e pingava no mármore e no chão de linóleo. Suas mãos estavam completamente cobertas no líquido metálico e vestígios de pele e sangue enchiam a parte inferior de suas unhas curtas. Haviam marcas de arranhões em seus antebraços e, apesar da adrenalina ainda correr em suas veias, o ardor estava presente.

     Louis fechou os olhos e inspirou profundamente, inflando o seu peito ao fazê-lo. Pensamentos desconexos proporcionavam um caos desconexo em sua mente, capaz de fazê-lo soltar um grito gutural. A raiva, as memórias dos abusos e o nojo puxavam sua mente para o lado obscuro da loucura e das sombras. Em uma atitude súbita, ele soltou sua mão direita da pia e, empunhada, acertou o enorme espelho que estava agregado à parede. Cacos de vidro cobriram o seu corpo e cortaram seu rosto, mas a dor apenas serviu para que ele se sentisse vivo novamente. O sangue que começou a jorrar da junta de seus dedos se mesclaram ao já presente em suas mãos, deixando-os indistinguíveis e inseparáveis. E, aparentemente, a constatação disso apenas enviou uma nova onda de ira para o corpo do adolescente.

     Ele se virou em direção à porta do banheiro e saiu por ali, para adentrar novamente o quarto da suíte. A visão de Louis estava turva e sua respiração errática, os passos cambaleantes. Ambas as mãos estavam cerradas em punhos ao lado do seu corpo, e o rosto de contorcia em uma expressão de dor profunda.

     Contudo, a dor não pertencia aos seus cortes. Seu coração doía a ponto de se assemelhar ao perfeito corte de um abatedor. As recordações das agressões físicas o faziam ter ânsia para o vômito, e os abusos psicológicos apenas o disponibilizaram um estoque infinito de traumas. Aquela que se dizia sua mãe, queria mamãe, fora a vadia que destruiu sua vida e condenou sua alma ao inferno.

No mommy don't do it again, don't do it again, I'll be a goodboy

I'll be a good boy, I promise. No mommy don't hit me, why did you have to hit me like that mommy?

Don't do it you're hurting me. Why do you have to be such a bitch?

Why don't you why don't you fuck off and die!

     A raiva e o rancor sempre estiveram presentes em seu interior, quando sorria para a família quando os iam prestar uma visita, ou para o pastor quando o cumprimentava na igreja. Sorria até mesmo para o médico que fora encarregado da cura para a sua doença crônica degenerativa. O mesmo médico que o fizera deitar em uma maca gelada, com apenas as roupas que viera ao mundo. O mesmo médico que, durante as consultas, deslizava o olhar libidinoso em seu corpo em desenvolvimento e, com dizeres de que iria curá-lo, acariciava sua pele aveludada com as mãos pesadas. Ele, que o fizera sentir a pior dor de toda a sua vida, que o fizera sangrar em suas partes íntimas por dias à fio.

DOWN WITH THE SICKNESS | l. s.Where stories live. Discover now