— Então seu noivo a manteve viva, deve ter tido um belo trabalho.

— Não preciso de homem nenhum para me virar — responde irritada.

— Até hoje de manhã você precisava de mim para ter onde dormir e comer.

Ela nega, mas o gesto parece fazer sua cabeça doer.

— Não, não é que eu precise é que a responsabilidade é sua. Você quem acabou com a minha vida. Eu posso me virar sem você, mas não seria justo.

Sorrio, não consigo evitar. Ela aproxima o rosto do meu, como se reparasse alguma coisa extraordinária, chega a franzir o cenho tentando entender algo.

— Qual é a cor dos seus olhos? — pergunta de repente, o rosto próximo demais ao meu.

— Como?

— Estavam azuis quando você me beijou na boate, mas pareciam chocolate quando se acidentou. E cinzas na empresa. E cinzas hoje de manhã, definitivamente. E agora dourados. Estou bêbada demais ou eles mudam de cor?

— Por que você não dorme, Anna? Vai se sentir melhor.

Ela sorri, me pergunto se é a hora de buscar o balde, antes que ela faça uma bagunça em meu tapete, mas de repente ela toca meu rosto. Com a ponta dos dedos passeia sua pele quente pela minha, um movimento tão delicado, uma deliciosa carícia. Não consigo contê-la.

— Você é tão bonito! — Há tanta admiração na maneira como fala que meus olhos caem como um ímã para seus lábios vermelhos e tentadores. — Pena que é um imbecil — completa e começa a rir.

Por algum motivo me pego rindo também. Me levanto e pego um balde na lavanderia. Ela está olhando para o teto quando volto e estendo o balde a ela.

— Isso é para mim? — pergunta encantada, como se estivesse ganhando um presente.

— Não tenho certeza se você consegue identificar o que é isso, mas sim.

Ela o pega da minha mão e acaba completamente com minha dúvida ao colocar o balde na cabeça, cobrindo seu rosto, como uma criança. Não sei se eu deveria filmar isso, mas apenas me sento de novo na mesinha de centro e espero.

— Anna? — chamo um tempo depois, ponderando se ela teria dormido sentada com o balde na cabeça.

Ela tenta tirar o balde e diz algo que não entendo, mas a coisa não sai. Ela puxa de novo e de novo. Então começa a puxar com força. A cena é tão engraçada que me pego rindo. É ridículo, ela está bêbada demais e ainda assim não consigo ir dormir e deixá-la aqui. Depois de um tempo, quando acho que ela está mesmo ficando desesperada, puxo o balde de sua cabeça, tirando-o com pouca dificuldade. Seus olhos de mel se focam nos meus e ela estende as mãos gritando:

— Achou!

Rio alto. Não sei há quanto tempo não rio assim, mas essa maluca bêbada, agindo como uma criança me faz mesmo rir. Ela ri também, me observando atenta. De alguma forma me sinto mais leve quando consigo parar de rir.

— Você me fez rir, Anna, confesso que estou surpreso por ter me feito sentir algo além de irritação.

Ela dá de ombros com um sorriso no rosto.

— Você me faz sentir coisas também. Você me irrita muito, e me aborrece. E me deixa excitada — diz a última coisa baixinho, tão baixinho que automaticamente aproximo meu torso dela.

— O que você disse?

— Que você me excita. Você me beija de um jeito...

— Como? Como é que você se sente quando eu te beijo?

Há um alerta em minha cabeça que escolho ignorar. Me aproximo mais, posso sentir seu hálito e quase reconhecer o que bebeu esta noite. Ela não se afasta.

— Eu me sinto acesa. Todo meu corpo parece aceso. E você me domina com os braços e com os lábios. Não sei como consegue fazer isso, não é um beijo, é mais como uma posse.

Seus olhos caem até meus lábios e ela aproxima ainda mais o rosto do meu. Espero que me beije, mas ao invés disso, ela apenas passeia a boca pela minha, bem de leve. Não sei se ela faz ideia do quanto está me provocando agora. Então fecha os olhos e passeia seu rosto pelo meu. Nossas peles se tocando levemente, mas o contato causando esse efeito que ela mencionou. De repente estou aceso. Cada terminação nervosa do meu corpo está acesa agora por ela. Sua carícia termina onde começou, e dessa vez ela me beija. Se joga sobre mim, montando em meu colo e me beija. E correspondo ao beijo no início, maravilhado demais com sua ousadia, deliciado com sua língua brincando com a minha. Sinto seu corpo quente sobre o meu, seus dedos se enfiam em meu cabelo e meu controle vai para o espaço. Aperto sua cintura aprofundando o beijo, não apenas correspondo, eu a domino. Prendo sua língua na minha e nosso contato ainda não é o bastante.

Um raio soa lá fora, uma chuva forte começa a cair. Não é que choveu mesmo? Ela se assusta num primeiro momento com os raios, parece temê-los, interrompe o beijo e se encolhe.

— Alexa, feche todas as cortinas — ordeno imediatamente e as cortinas se fecham. — Não tenha medo — digo baixinho e seus olhos estão nos meus de novo. Ela está ainda em meu colo e volto a beijá-la.

Suas mãos passeiam por meu cabelo, sua boca doce acompanha a minha. Meu pau está duro e latejando como um louco agora. E ela geme baixinho em minha boca. Meu corpo todo é fogo. Quero tanto possui-la aqui, agora, que choramingo como um bebê quando a afasto.

Ela deita a testa na minha, nossas respirações aceleradas. Meu corpo todo tem consciência de cada parte do corpo dela sobre mim agora. E então, do nada, ela sai do meu colo, procura o balde e vomita nele, quebrando completamente o clima.

A observo vomitar por alguns minutos, não entendendo bem a calma que sinto agora. Estou com um humor maravilhoso apesar da noite desastrosa. Enquanto observo essa menina vomitando no pequeno balde e a sinto ainda em meus braços, sobre o meu corpo, me pego rindo. Rindo da situação, rindo dela, rindo de mim mesmo. Não me lembro quando foi a última vez que agi assim, por puro impulso, atitudes injustificadas logicamente e entendo que ela é um perigo para minha sanidade. Talvez a loucura seja contagiosa no fim das contas.

Ela para de vomitar e deita sobre a almofada.

— Sabe o que vai ajudar você, minha linda? — digo aproximando-me e pegando-a nos braços. — Um banho frio. Banho frio é um santo remédio contra a bebedeira.

Ela sorri e ando a passos leves com ela em meus braços. Os raios não soam mais lá fora, mas a chuva cai forte. Abro então a porta da frente e a jogo na grama. Ela grita imediatamente ao ficar encharcada em segundos.

— Pronto, banho frio. Uma maravilha! Quando voltar a si sabe por onde entrar — decreto e bato a porta deixando-a perplexa do lado de fora.

Sem sequer tentar entender o que estou fazendo vou até a lavanderia e abro a janela para que ela entre. E me sinto tão quente que subo para um banho gelado antes de dormir.

— Vou tirar você da minha vida, Anna, você é perigosa demais aqui.

Acaso ou destino - DEGUSTAÇÃOOnde as histórias ganham vida. Descobre agora