— Eu diria que… — Cheryl (ainda não tenho certeza se esse é mesmo o nome dela) olha para a amiga com um daqueles olhares que só um amigo poderia entender. 

— Uns oitenta por cento — completa Teri. 

— É. — A possível Cheryl sorri. — Uns oitenta por cento. A Teri precisa fazer alguns acabamentos. 

— Você quer se juntar a mim no jantar? — continuo olhando para a visitante. 

— Nós! — protesta Teri atrás de mim. — Se juntar a nós!

Finalmente olho para ela. 

— Não, não, a senhorita não está convidada — dou um tapinha na sua mão para que se afaste da travessa.  

— Eu comprei esse frango em cubinhos — aponta para a lasanha. — Tenho direito a cinqüenta por cento da comida. 

— Folgada. — Murmuro. 

— Chato. — Ela me mostra a língua. 

Cheryl — a chamarei assim a partir de agora até descobrir se, de fato, esse é o seu nome real — faz um barulho com a garganta atrás de mim que me faz notar sua presença novamente. Ela está nos olhando com um sorrisinho. Por que diabos ela está sorrindo dessa forma? Talvez todos os amigos da Teri sejam estranhos como ela. 

Acomodamo-nos na sala de jantar — quase inutilizável — que é um pequeno espaço que cabe uma mesa de oito cadeiras, alguns quadros na parede e um lustre velho no teto. O lugar fica trancado a maior parte do tempo, então não me surpreende que esteja cheirando um pouco a mofo. Teri tem a brilhante ideia de acender uma vela aromatizante — apesar de eu temer que ela coloque fogo em alguma coisa acidentalmente — o que ajuda a climatizar o lugar. Pronto. Bem melhor. Abro uma garrafa de vinho que eu tinha comprado outro dia para acompanhar o jantar. 

— Então, Tyler, de que parte da Inglaterra você é? — pergunta Cheryl. 

Bebo um gole de vinho antes de responder. 

— Londres. 

— Uh. Que incrível. Lá é tão bonito quanto nas fotos? 

— É ainda melhor — digo. 

— Legal. Fiquei sabendo que você é um pé no saco — Cheryl alfineta em tom risonho. 

Olho diretamente para Teri. Ela arregala os olhos e se finge de inocente. 

— Eu não disse nada disso — cruza os dedos para enfatizar. — Eu juro. 

— Você é tão… — busco a palavra ideal — dissimulada. 

Um sorriso lento se espalha por seus lábios. 

— Vamos lá, Tyler, você sabe que me adora — seu sorriso fica ainda mais presunçoso. 

— Nem seus amigos te suportam — eu retruco. 

Ela olha para a amiga, ofendida. 

— Cheryl, isso é verdade? 

Aí está. Cheryl é realmente o nome da moça.

— Claro que não! — ela se defende. — Eu te adoro! E você — aponta para mim com o garfo. — Não tente me colocar contra a minha melhor amiga.

 Dou de ombros e enfio um cubinho de frango banhado a molho na boca. 

— Olha só… — Antes que Teri consiga completar, meu celular toca em cima da mesa, fazendo-a se calar. Olho para a tela. Denzel. — Nada disso, mocinho. Nada de celular durante o jantar. 

Amor à segunda vista • COMPLETOWhere stories live. Discover now