Dépayser.

2.3K 215 480
                                    

I: "Ela sofreu um acidente de carro, Rafa. - a princípio, ela não conseguiu entender direito o que estava acontecendo. - Um acidente grave. Só tô falando por conta das meninas, sei que..." - a boca da mineira secou imediatamente e subiu um frio na espinha.

R: Que? - começou a chorar em meio a um riso nervoso - O quão grave? - sua voz era trêmula.

I: Parece que lesionou a cabeça, Rafa. E a coluna também... ela está em cirurgia.

R: Qual o hospital que ela está agora?

I: "Rafa, eu... não acho que seja bom trazer as meninas, eu só quis avisar, ela tá muito ferida e..."

R: SÓ ME DIZ A PORRA DO HOSPITAL AGORA, EU NÃO VOU LEVAR NINGUÉM NÃO! EU PRECISO VER A BIANCA.

I: "No Albert Einstein, mas Rafa... cuidado, tem imprensa aqui na frente do hospital e a minha irmã ta correndo risco de morte, tenta ser discreta... se te virem entrando aqui, só vai piorar tudo."

Rafaella desligou o celular, jogou no chão e apertou o peito com as duas mãos. Entrou no banheiro e molhou o rosto diversas vezes, sem saber o que fazer ou o que pensar. Nunca havia se sentido assim antes, nunca. Tirou a roupa que estava para dormir e colocou a primeira calça jeans que avistou com uma blusa totalmente amassada que havia usado pela manhã, não tinha condição de escolher roupa em uma circunstância dessas. Foi até Rodolffo.

Ro: Ainda bem que você voltou, amor. Já estava ficando preocupado... - disse, se ajeitando com Laura em cima do braço direito. - Ela acabou de pegar no sono. O que era?

R: Bianca sofreu um acidente grave e eu preciso ir no hospital. - analisou as próprias palavras e percebeu o quão grave era - Não posso ficar aqui parada enquanto a mãe das minhas filhas pode morrer a qualquer momento. - disse, pegando nos cabelos, em um ato de desespero.

Ro: Eu vou com você! - fez menção de levantar, mas Rafaella foi mais rápida e empurrou o homem contra o colchão.

R: Não, você fica! Você fica com os três.

Ro: Mas a sua mãe... podemos chamá-la!

R: Eu não vou deixar minhas meninas serem atormentadas pela minha mãe enquanto a mãe delas está correndo risco de morte. Você mesmo me explicou mais cedo o quão cobra minha mãe pode ser. Elas confiam em você, por favor...

Ro: Claro, claro! Faça o que precisar fazer... - torceu os lábios e Rafaella era boa em decifrar reações. Principalmente as de Rodolffo, de seus filhos e, é claro, de Bianca.

R: Está tudo bem? - perguntou num misto de decepção e preocupação.

Ro: Sim, está. Vai logo atrás dela. - fechou os olhos, e ela teve certeza que ele estava com ciúmes, mas não queria discutir agora.

Dirigia nas ruas de São Paulo numa rapidez que nunca houvera feito antes. As luzes da cidade grande tão vazia nesse horário causavam arrepios em Rafaella, que se martirizava o caminho inteiro que havia esquecido um casaco, a noite estava muito fria. Ela com certeza iria levar multa por excesso de velocidade, mas não estava se importando muito com isso, até pensar o que seriam das meninas se as duas mães morressem em acidentes de carro diferentes no mesmo dia. Agora Rafaella se martirizava por ter imaginado Bianca morrendo. É claro que ela não morreria, não é? Bianca não poderia morrer... ou poderia?

A imprensa não poderia ver Rafaella entrando, é óbvio que as mulheres não eram mais tão vítimas de papparazzi e fofocas como eram há 10 anos atrás, mas, como não eram mais vistas juntas desde a separação, com certeza seria polêmico ver a mineira adentrar o hospital em que sua ex-mulher estava, ainda mais correndo risco de morte. Então a mineira apressou-se em ligar para Thelma, rezando para que ela atendesse e conseguisse alguma liberação para entrar com o carro no subsolo, já que sabia que a campeã do BBB20 trabalhou por muitos anos naquele hospital. Ao entrar pela porta dos fundos, deu de cara com Mônica, sua ex-sogra. Ao avistá-la, a senhora deu um abraço apertado em Rafaella, que retribuiu e quis ficar ali nos braços da mulher igual uma criança chorona. Tentou manter a compostura e ficou em silêncio, até que olhos mais adiante e viu ali Mônica, Íris, Clara, Bianca Venturotti e Miguel. Clara estava com ferimentos leves na testa e com o braço enfaixado. Provavelmente estava envolvida no acidente. Resolveu quebrar o silêncio.

EscarlateOnde as histórias ganham vida. Descobre agora