Único - Lua inteiramente clara

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— Eu preciso me sentar. – a voz do Kim saiu tremula, quase sem força alguma. Acatando ao pedido, rapidamente o lobisomem o colocou sobre o pequeno sofá.

Aquele pedido era estranho, Doyoung sempre andava para todos os lados atrás de ingredientes e de cobaias, um pedido para se sentar era definitivamente sinal de perigo.

Quando olhou para as pernas e levantou o tecido da calça, vários hematomas nas mais diversas cores estavam ali.

— Eu não quis me ajoelhar, então eles fizeram pela própria vontade. – sua voz saia dolorida para explicar, mas ainda se recusava a derramar qualquer lágrima – Taeyong, você não está pensando em me salvar, está?

— É claro que estou! Como raios não pensaria nisso? Eu não existira sem você. – sua voz escapava algumas falhas.

— Se me salvar eles irão saber que foi obra sua, nisso irão iniciar uma rebelião. Me deixe ir, daqui vinte e oito dias faça o chá dessa tarde novamente e fale com o Kun, ele irá te passar a localização de outra bruxa conselheira. – explicou calmamente como se fosse simples assim.

— Eu não vou deixar você partir assim, Doyoung. Ao menos faça uma poção, beba-a para reviver novamente daqui alguns dias, ou então uma maldição para retornar a vida quando algum ritual for realizado, também pode fazer um feitiço em que se torna imortal-

— Taeyong, não é assim que a minha magia funciona, sabe disso. Não posso fazer nada disso pois é tudo impossível, a imortalidade ou o retorno a vida é uma impossibilidade. – limpou o próprio rosto com as costas da mão, mesmo manchado e inchado, o Lee permanecia o achando o rapaz mais belo que já pode ver.

— Por favor, você não pode me deixar, não agora, você ainda precisa me ver chegar orgulhoso porque todos os meus júniores aprenderam a caçar, ou então me ver tomar um novo território, talvez até mesmo aparecer com a cabeça daquele Moon entre meus dentes!

— Seu povo já me achou, não tenho por onde fugir.

— Não aceite sua derrota sem batalhar, Doyoung.

— Eu não tenho como batalhar, já me rendi para essa guerra.

O ar começou a faltar do peito de Taeyong, sua voz desistiu de sair, seu coração bombeava o sangue pesadamente, e após um baque psicológico que a primeira lágrima escapou.

— Você não vai morrer, vai?

— Esconda minhas escrituras, por todos os lugares que conseguir, peça ajuda para as fadas também, me deixe eternizado por cada horizonte que você pode enxergar.

Com pesar, Taeyong segurou o rosto de Doyoung com a ponta dos dedos, acariciou as bochechas e a mandíbula, guardou cada informação daquele rosto em sua memória, cada fio de cabelo caído, cada movimentação que fazia conforme respirava, como suas bochechas estavam esfoladas pela briga anterior e, principalmente, a forma que os lábios crispavam em ansiedade.

O selar foi doloroso, lento e repleto de medo, as mãos tremiam tentando-se agarrar em algo, as respirações vacilavam em pavor e os lábios acabaram tornando salgados pelas lágrimas que escorreram dos olhos do Lee e chegaram de encontro à boca.

— Eu te amo, Doyoung. – disse com certo pesar – Eu amo você, eu sei que esse amor é real, independentemente de onde você esteja, ele vai continuar sendo real. – aquela era a primeira vez que tal palavra tão forte foi dita, amor, o único feitiço que o Kim pensou jamais conseguir ter posse.

— Eu também te amo, Taeyong. Eu amo você. – o último selar foi dado antes da porta principal ser aberta com um chute, as pessoas começando a entrar irritadas e apavoradas, olhando ao redor e encontrando diversos papeis rabiscados e especiarias desconhecidas — Vá, não olhe para trás, volte apenas quando eu já tiver partido para espalhar minha palavra pelos lugares que conhece.

O Lee tentou receber um último beijo, mas foi empurrado e ouvindo um pedido de "vá antes que eles queiram você também".

Saiu do chalé e se assumiu novamente como lobo, demorou pouco tempo para encontrar Jeno ofegante no meio do trajeto, rapaz que se lamentou por não ter encontrado os humanos ainda e que acreditava estar perdido, mas pela expressão de seu irmão julgou ser tarde demais para qualquer coisa.

Apressaram para se esconderem na floresta novamente, o Lee mais velho precisava apenas do conforto de sua alcateia, de seu real povo onde sabia que jamais matariam alguém que tanto ama, onde a única morte que os aguardava era certeira e premeditada, não repentina causada por terceiros que pareciam existir apenas para causarem o caos.

A verdade é que assim que Taeyong já estava longe, Doyoung se arrependeu de sua escolha.

Gritou por socorro diversas vezes, gritou até sua garganta secar e sua voz quase não existir, foi apenas momentos antes do machado acertar sua cabeça que lembrou de um feitiço antigo que sua tia tinha o ensinado.

Com seu último fôlego, rogou para que ele e sua alma parceira pudessem se encontrar em outra vida, não importava o tempo que demorasse, esse era seu último desejo, último feitiço e último suspiro.

Todos os seus últimos serem perdidos junto de seu sangue e do uivar escutado aos longes.

Após vinte e oito dias Taeyong retornou ao chalé. Diversas coisas haviam sido queimadas e conseguiu regatar pequenas coisas.

Um item ficou com o guardião do ar, outro ficou com a dupla de fadas, grande parte ficou com a nova bruxa conselheira que descobriram ser prima de Doyoung e o último item ficou com Taeyong, um livro de feitiços que ele não podia ler, mas o importante era o autorretrato que estampava a última página.

Noite com lua claraOù les histoires vivent. Découvrez maintenant