Prólogo

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Quando eles foram embora, Larissa perdeu a pequena, e ao mesmo tempo imensa fonte de felicidade que havia encontrado. Não que sua felicidade dependesse de homens, nada disso. Mas o que ela tinha encontrado estava ligado diretamente à amizade e ao amor que ela havia descoberto com eles.

Mal sabia ela que Bradley e os garotos não seriam as únicas coisas que ela iria perder.

Naquele mesmo dia, sua amizade com as meninas sofreu um colapso, que para Larissa era repentino, mas para Carol já era algo que vinha crescendo há dias.

Carol que, tendo tudo, invejou a conexão que Lari tinha com James. Ela deixou com que aquele sentimento feio invadisse seu coração e crescesse dentro dela, de que não importava o quão apaixonado James pudesse ser por ela, Lari sempre ganharia a atenção dele quando quisesse e bem entendesse. E tudo começou por causa da forma carinhosa como o contato de Lari estava salvo no celular de James. Aumentando depois, por causa de uma breve conversa que Carol leu no celular de James, onde ele e Lari trocam apelidos carinhosos.

E então ela começou a ver coisas onde não tinha: a forma como os dois se entendiam, como faziam piadas um com o outro, a forma como riam juntos, ou até mesmo como eles tinham gostos em comum.

Até que, um dia, ela viu Lari e James no shopping, de braços dados e tomando sorvete, rindo alegremente.

Ela começou a ligar os pontos em sua cabeça, pontos que nem existiam, mas ela não sabia disso. Percebeu que já não sabia das coisas que aconteciam na vida de Lari, e começou a achar que ela havia trocado suas três amigas por três novos amigos e um namorado.

Não sei pra quê todo esse chororô — Carol revirou os olhos, no aeroporto. — Não é como se você amasse Brad mesmo.

Como assim? — Lari tentou controlar sua respiração. — É claro que eu-

— Ah, menos tá — Carol a cortou. — Pode parar com esse teatrinho, porque eu sei sobre você e James.

Larissa ficou totalmente chocada quando ouviu isso. O que tinha para saber sobre ela e James? Que eles eram muito amigos e, do nada, ele foi embora sem se despedir, apoiando Brad em qualquer que fosse a decisão que ele tinha tomado?

A forma como Lari ficou destroçada depois que Carol disse poucas e boas para ela foi indescritível. Como ela pôde sentir seu coração sendo rasgado pela segunda vez no mesmo dia, de formas tão diferentes mas tão iguais, ao mesmo tempo? E ela só se perguntava quando isso acabaria, quando a dor que ela estava sentindo iria parar.

Tays e Eliza fizeram o máximo para apagar o fogo sem se queimarem, mas foi inevitável a separação do grupo. Lari apenas manteve contato com Eliza, e as coisas já não eram mais as mesmas.

As aulas voltaram, e o clima entre elas era nitidamente tenso. Lari sabia que Carol estava errada, por isso não se sentiu culpada por nada que ela disse: sua consciência estava limpa, ela sabia que nada havia acontecido entre ela e James. Mas ainda assim, era terrível saber que anos de amizade haviam sido destruídos em tão pouco tempo, e que não havia como consertar.

Afinal, se Carol realmente quis dizer tudo o que disse, ela realmente não a conhecia.

Então, Lari apenas decidiu que andaria de cabeça erguida. Afinal, ela só tinha mais alguns meses de aula pela frente, até se formar e poder sair dali. Tudo o que ela fazia era tentar ser forte, dia após dia, dizendo para si mesma que aquilo era momentâneo e passaria, assim como todo o resto era.

Mas havia os dias em que a madrugada chegava, sorrateira e solitária, e Lari finalmente baixava sua guarda e se permitia sentir, pensar e chorar. Sentir saudades, pensar em como Brad a enganou, e chorar se lembrando de momentos que nunca voltariam. E da ligação. Ah sim, aquela ligação.

Larissa ligou para Bradley no dia seguinte, procurando alguma explicação, mas tudo o que ganhou foi palavras rudes e mais motivos para chorar. Se sentiu humilhada.

— Por que, Brad? — sua voz soou baixa e quebrada. — Você poderia ter me dito, poderíamos-

— Poderíamos o que, Larissa? — Brad a cortou, de forma fria e dura. — Poderíamos começar a namorar e manter um relacionamento à distância? — a ironia era mais que perceptível em sua voz.

— Não, mas-

— Então o que? Poderíamos continuar "amigos"? — ele riu, debochado. — Acorda para a vida, isso não é algo que eu quero, nem algo que está nos meus planos.

— Por que diabos você está assumindo que era isso que faríamos? — a raiva crescia em Lari.

— Porque eu sei que seria! — ele ergueu a voz.

— Caralho, a gente poderia pelo menos ter se despedido e acabado isso como adultos maduros, Bradley! Não precisava acabar assim-

— Eu não ligo mais para o que poderia ter sido. É uma porra de um 'tchau' que você quer? Então tá, tchau. Siga em frente, porque eu já parti para outra. Você vai achar outra pessoa, e-

— Ah, corta o papo furado, garoto — Lari o interrompeu, limpando suas lágrimas com raiva, — você sabe que isso é mentira. Eu não vou achar outra pessoa como você, assim como você não vai achar outra igual a mim.

A linha ficou silenciosa por longos segundos, com apenas respirações aceleradas e tensão.

O que aconteceu com "eu não vou abrir mão de você?" Aparentemente ele havia esquecido disso também.

— Você deveria desligar — a voz dele soou cansada. — Vou embarcar para Londres no próximo voo, daqui quinze minutos e...

Mesmo que Bradley não pudesse ver, Lari balançou a cabeça.

— Claro — ela fungou disfarçadamente. — Faça uma boa viagem — apesar da raiva, ela desejou de coração, sabendo que provavelmente essa seria a última coisa que ela diria a ele.

— Uh... Obrigado.

E essa foram suas últimas palavras.

Quando as lágrimas acabavam e só restava a dor de um coração estilhaçado, ela apenas tentava lembrar a si mesmo que é disso que o amor se trata: feridas abertas e mágoas, suturas e cicatrizes, tudo feito pela mesma pessoa.

Todavia, nesse caso, as feridas ainda estavam abertas e não havia nada que ela pudesse fazer a respeito, a não ser rezar e esperar que um dia elas se fechem.

Treading Water || The VampsOnde as histórias ganham vida. Descobre agora