Acabei me traindo quando olhei para Amanda por um milésimo de segundo, ver seus olhos de perto pela primeira vez foi como reconhecer algo que eu já tinha visto antes, eles eram castanho claro, quase verdes, e tinham algumas pintinhas mais escuras que pareciam enfeitar a íris. Amanda deve ter percebido meu entusiasmo porque logo que eu a olhei, os olhos dela encararam o chão e eu me senti a pessoa mais trouxa do planeta Terra. Ri comigo mesma, com uma certa pitada de desgosto, enquanto pensava seriamente no que responder.

— Eu não sei o que você quer tanto falar, mas já que insiste, diga. — Tentei com sucesso usar o meu típico tom defensivo.

— Quero falar que sinto muito, eu sei que você ainda não me desculpou e eu não sei por quê mas isso me incomoda.

— Talvez porque você queira tudo do seu jeito, na sua hora. As pessoas levam tempo para esquecer as coisas você sabia? Não adianta se desesperar.

Na mesma hora Amanda se afastou e eu me arrependi de ter sido tão direta, eu deixaria tudo para trás, eu sabia que sim, mas toda vez que ela chegava perto, toda vez que ela me enxergava, era como se eu precisasse ficar na defensiva. Eu tinha medo do que a Amanda poderia fazer se eu a desculpasse, ela poderia entrar e acabar comigo ou pior, se tivesse o alívio de consciência que ela tanto queria não teria mais motivos pra se importar, eu seria invisível de novo.

— Maria, eu só quero conversar com você, como duas adultas. — Ela suspirou de cansaço e eu quase dei o braço a torcer, mas ainda não. — Eu sei que fui infeliz nas minhas palavras, e o que eu fiz foi péssimo, reconheço isso, eu juro. Não tô aqui pra aliviar a minha consciência, quer dizer, também, talvez um pouco, sim. 

— Óbvio.

— Eu só queria poder voltar no tempo e derrubar aquelas cervejas no meu pé de novo. 

Aquelas palavras me pegaram desprevinida, eu sabia exatamente como era a sensação. 

— Nós podemos tentar, quero dizer, nos conhecer de novo. Claro que não vai ser igual mas ainda assim, nós começamos muito mal. — Senti o muro descer só um pouquinho. 

— Você faria isso? 

— É, sei lá, só porque sou uma pessoa boa? — Amanda parecia muito mais aliviada e eu também estava. — Mas se você fizer isso outra vez, eu juro por tudo o que é mais sagrado pra mim que eu não te desculpo mais. Entendido?

— Entendido, eu vou me comportar dessa vez.

— E cuidado com as cervejas na próxima, o meu chefe teve prejuízo e o mercado não está na sua melhor forma. — Nós sorrimos e por um segundo parecia que éramos outras pessoas ali, eu parecia até normal. — Meu Deus! A hora que é! Eu preciso mesmo ir dormir agora, não posso mais dormir no trabalho porque alguns clientes andaram reclamando do atendimento, sabe como é.

Amanda sorriu e fez um sinal com a cabeça para que voltassemos para dentro. Fui na frente porque a ideia de olhar pra ela tinha sido besteira, então queria evitar cair no mesmo erro duas vezes. Aparentemente nenhuma de nós duas sabia o que falar, o que era bom pra mim porque eu quase tinha me arrependido de ter cedido tão cedo, mas algo na Amanda me tirava do eixo. Nesse momento estava apenas torcendo pra que ela não me esquecesse.  

No dia seguinte Fernanda me levou para o trabalho como prometido, fez uma marmita bem caprichada e se despediu com um abraço apertado. Óbvio que quando eu fui para o quarto a Fernanda não estava nem perto de dormir e me fez contar tudo o que tinha acontecido com detalhes. E óbvio que eu escondi algumas coisas.

Eu estava entediada mais uma vez naquele dia, já havia contado todo o dinheiro, verificado as contas, limpado todas as prateleiras e o chão, não tinha mais nada para fazer. Segundas no geral eram dias bem parados, seu Antônio saía para buscar mercadorias e eu ficava lá sentada, tentando não cochilar, o que naquele dia em específico estava ficando cada vez mais difícil, já que eu tinha dormido apenas três horas seguidas.

Peguei o celular pela milésima vez rezando para alguma interação nas redes sociais me tirar do buraco de tédio que eu estava enfiada. 

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Amanda e Maria LuizaWaar verhalen tot leven komen. Ontdek het nu