Ela é uma senhora de uns 60 anos, robusta, baixinha, de pele morena, cabelos cacheados e curtos já bastante grisalhos. 

Fiquei em uma certa distância esperando que finalizasse a conversa.

Ela terminou com a jovem e quando me viu  veio ao meu encontro. 

–  Rose, muito obrigado pela ajuda. Deus te abençoe – Falou com um sorriso no rosto. 

– Gostaria de poder fazer muito mais... 

– Minha filha, quando se é dado de coração vem com as bênçãos de Deus e dos Orixás – Falou com doçura. 

Ela caminhou até à escada que levava a sua casa em cima da ONG e sentou-se. Bateu com a mão no batente para que eu sentasse ao seu lado. 

E foi o que fiz. 

Sorri para ela e olhei para a instalação ainda nos tijolos por fora, tão humilde, mas com tanto amor. Há... Se eu tivesse condições! Deixaria tudo perfeito. 

– A senhora é um ser humano que faz a diferença aqui na comunidade.

– Rose, se os meus planos viesse acompanhados de dinheiro eu faria isso ser ainda maior. Mas filha... Deus já fez tanto. Agradeço todos os minutos a Deus e aos Orixás por tudo que tenho para dar e por receber ajuda.

Houve um silêncio entre nós. Ela olhou para o Centro com o semblante pensativo. 

– Está madrugada sonhei com você. Você correndo no lugar onde só tinha Neve. Depois você parava e olhava para mim sorrindo e mostrava sua barriga de grávida. Um homem com barba aparecia e beijava sua barriga. Fiquei feliz com o sonho. 

Acho que foi uma revelação.

– Será ! Dona Antônia?

– Eu acredito que sim. 

– Agora mudando de assunto, escuta o que a maluca da Maria aprontou ontem. 

Contei tudo e como ocorreu o socorro.

– Já sabia que tem alguém morando lá. Essa casa pertence ao dono do tráfico. 

Nunca poderia imaginar algo assim.

Nós despedimos, e voltando para casa fui retribuindo os cumprimentos das pessoas que me conheciam através do posto de saúde e quando já estava chegando em frente ao prédio que  morava vi Maria com várias sacolas. Ela morava ao lado do meu apartamento. Abri a porta para ela e ajudei com as sacolas. 

__ Rose, estava mesmo querendo falar com você. 

__ Olá Maria! Depois de ontem também estava querendo conversar com você – Respondi séria. 

– Vou guardar estas compras, depois vou até sua casa – disse envergonhada por saber o que eu queria lhe falar. 

Já na minha casa, fui tomar um banho. O verão estava matando  de calor.

Almocei e deitei no sofá com a TV ligada. Acabei cochilando. Acordei com a campainha tocando. 

Olhei pelo olho mágico e era Maria. Abri a porta e fui à cozinha. 

– Aceita um copo de água?

– Aceito estou com muita sede, já trabalhei muito hoje e ainda irei volta para terminar algumas coisas que ficaram ainda por fazer. Mas antes de ir tinha que vir aqui. 

Entreguei o copo a ela e perguntei. 

__O que quer falar comigo de tão urgente que teve que se ausentar do emprego?

Ela terminou de tomar a água e falou.

__ É o Chefe de Ciro, o meu chefe, o homem que socorreu ontem, ele deseja falar com você.

– Maria, não me meta em enrascada. Você ontem me pediu para socorrê-lo eu fui. Quando vi que tava dentro da Mata quase morri de medo. 

Ela ficou sem graça. 

Maria é Linda! Com a mesma idade que eu.

Foi criada no orfanato até os dezoito anos. Depois foi trabalhar como empregada doméstica para poder ter onde dormir. Até que conseguiu alugar um apartamento aqui. 

Mas por ser carente as vezes se vê enrolada e com problemas. Parece não ter senso do perigo. 


– Mas o que esse homem quer comigo? – Perguntei 

__ Não sei, apenas pediu a Ciro que desse o recado para você.

Maria se contorceu na cadeira e percebi que estava nervosa.

__O que foi? 

Ela olhou para mim.

__Desculpa Rose! Não fiz por mal.

Eu, sentei e falei novamente.

__Olha! Tudo bem dessa vez, mas avise ao seu namorado que não posso aceitar o convite do chefe dele porque já tenho outro compromisso...

Ela assentiu.

__Vou dar um passeio no fim da tarde. Quer vim comigo?

Ela balançou a cabeça negativamente.

Conversamos mais um pouco e ela saiu sem graça.

Já passava das 17:00 horas quando me vesti e saí para pegar um mototáxi para me deixar na praia.. Era um lugar que me sentia bem. 

Uma voz com sotaque foi ouvida por mim. 

__ Sta. Rose!

Parei e olhei devagar para todos os lugares a minha volta, mas não tive coragem de virar o corpo para olha-lo.

__A Sta. aceita uma carona?

Não era possível que estivesse acontecendo isso comigo. Me virei devagar e dei de cara com os olhos azuis que agora estavam descobertos.

__ Não!

Só consegui pronunciar essa palavra.

Ele olhava firmemente em meus olhos, nem piscava, enquanto eu tinha a certeza que estava piscando sem parar.

Consegui falar.

__O Sr. Está se sentindo melhor?

Ele continuava sem nenhuma expressão no rosto, mas eu olhava agora para seu rosto e sua barba e ele estava tão próximo que dava para sentir o cheiro de sua colônia uma mistura cítrica com algo adocicado mais muito discreto, tinha o aroma marcante e exótico como o dono.

__Estou ótimo! A Sta está indo para onde, posso levá-la?

Eu não sabia o que responder então me confundi falando atrapalhada.

__Para praia! Estou indo para praia, andar um pouco...gosto de ficar sozinhaa...para pensar..

Percebi que estava gaguejando.

__Posso fingir que não estou ao seu lado enquanto pensa...

Franziu as sobrancelhas.

Eu já não sabia o que fazer. 

__Eu… acho que não posso.

Obrigado mesmo assim..

Antes que eu mudasse de idéia sai em passos largos e por sorte um mototáxi passou e dei com a mão e logo que parou coloquei o capacete e sem olhar para trás falei.

__ Quero ficar no calçadão de Ipanema. 

Me segurei na cintura do motoboy e soltei o ar e percebi que estava tremendo....

Esse homem ainda vai me dar muita dor de cabeça...

Recomeçar é Preciso.Where stories live. Discover now