Roberto foi superfofo. Queria a todo custo me buscar em casa. Eu não deixei. Assim que descobri onde ele mora, na Vila Sônia, e que o shopping onde marcamos o cinema ficava perto da casa dele, não achei justo que fosse até minha casa e depois voltasse. Eu me propus a pegar um ônibus e me encontrar com ele na praça de alimentação do shopping. O único problema é que eu me esqueci da minha conta zerada. Fui obrigada a quase implorar para a Diana me emprestar dinheiro, jurando pagar com juros e correção. Ela jogou na minha cara que só estava emprestando, pela milésima vez, porque eu ia sair com o homem que colocaria juízo na minha cabeça. Mas, no final, me emprestou apenas cinquentinha. Como eu vou pagar um cinema, tomar sorvete, comer pipoca e, quem sabe, comprar um lanche na praça de alimentação, com esse quase nada?

            Acho que vou pagar apenas as coisas mais importantes: o cinema e o sorvete. Qualquer coisa, menos pedir para o Roberto pagar para mim. Não abandonei a ideia de passar a imagem da garota responsável, confiável e dona de seu próprio nariz. Tenho que passar uma ótima impressão. Sinto que essa é minha última chance de conhecer um homem que vale a pena e que está disponível no “mercado”.

            Meu ponto, na Cardeal Arcoverde, aproxima-se. Dou sinal. A moça que está ao meu lado, provavelmente para descer no mesmo ponto que eu, me encara de um jeito estranho. As pessoas sempre me encaram de um jeito estranho nos ônibus. Quase como se eu estivesse fazendo algo de errado. E, nesses momentos, não entendo o porquê, mas me sinto culpada por ser tão alta. Ou por ter nascido loira. É bizarro esse fascínio que as pessoas têm por loiros. E incômodo. A Diana que é feliz. Ninguém olha para ela com cara engraçada. Está mais para cara de respeito. Basta olhar nos olhos dela para até um coronel do exército tremer. Sempre que penso em suas expressões quando está brava comigo, lembro do filme Tropa de Elite. Mais precisamente, lembro do Capitão Nascimento. Se decidissem fazer uma versão feminina dele para o cinema e contratassem minha irmã para atuar, a produtora do filme ganharia rios de dinheiro. Arrisco dizer que a atuação da minha irmã seria premiada no Festival de Gramado ou quem sabe até em Cannes e Berlim!

            Começo a rir sozinha enquanto atravesso a passarela que passa sobre a avenida Rebouças. Algumas pessoas me encaram assustadas. Outras, homens, começam a me passar cantadas de 1,99. Reviro os olhos e rio mais um pouco. Não é possível que alguma mulher goste dessas cantadas. Estamos no século XXI e nenhum deles ainda aprendeu como mulher gosta de ser tratada. Alguém bem que podia inventar uma escola para “refinar homens”. Uma escola que ensinasse os homens a se comportarem como realmente as mulheres apreciam. Nada de cantadas baratas, investidas chinfrins ou a famosa insensibilidade masculina. Até hoje não conheci nenhum que não tivesse, pelo menos, duas dessas características.

            Mentira.

            Roberto é diferente.

            Meu coração entra em galope. As portas automáticas abrem-se à minha frente. Entro no shopping. Roberto promete ser tudo o que eu sonhei. E ainda tem uma filha, que poderá se transformar na minha melhor amiga! Quero dizer, depois que transformar o ódio dela por mim em amor. Ah, mas isso não vai ser difícil. É só eu descobrir do que ela gosta. Já sei que adora se maquiar bastante e andar com microvestidos. Eu posso dar umas dicas de roupas e até mesmo me oferecer para maquiá-la. Adoro fazer maquiagem na Sassa. E minha irmã adora dar escândalos, dizendo que a menina é muito nova para usar sombra e batom. Eu também concordo com isso. É o que digo e acrescento que estamos apenas brincando de salão de beleza. Tão logo a brincadeira termine, Sassa vai lavar o rostinho e tirar toda a maquiagem. Se bem que não acho que Maria Clara vá concordar em brincar de salão de beleza comigo...

            A escada rolante me leva para o piso do cinema. Estou tão ansiosa com o encontro iminente que tenho vontade de correr e só parar na frente do McDonald´s onde Roberto disse que estaria. Optei, mais uma vez, por usar sapatilha. Dessa vez, estou com uma rosa velho, para quebrar um pouco o visual chamativo composto pelo vestido larguinho rosa pink e a tiara da mesma cor. Embora eu goste de roupas de cores fortes, estou um pouco insegura se vai agradar Roberto. Esqueci de perguntar para Diana e Talmo se eles sabem a cor preferida do cara. Talvez, no primeiro encontro, fosse legal usar uma cor que o agradasse. Depois, quando estivesse totalmente apaixonado por mim, eu ia, aos poucos, mostrando meu guarda-roupa. Enfim, agora já era, porque estou vendo Roberto, com as mãos para trás, numa pose meio cabisbaixa, em frente à lanchonete.

O Par Perfeito (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora