Tormentos, água e pênis.

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É difícil.

Às vezes estou feliz e às vezes, embora eu não tenha motivos o suficiente, eu só quero chorar alto, alto o bastante para abrir os céus.

Às vezes eu quero um abraço que seja capaz de tocar minha alma e às vezes parece que estabelecer contato físico com qualquer pessoa que seja é asqueroso para mim.

Às vezes estou firme e intangível, mas às vezes parece que eu vou desabar como um castelo de cartas em um único sopro.

É como estar em um cabo-de-guerra, isso me desgasta, esse vai e vem. Qual dos dois lados poderia me definir? Teria como tudo ser tão bom e tão terrível ao mesmo tempo?

Sempre indo até o céu e despencando em uma queda brusca até ao chão, consecutivamente.

Eu me sinto tão... Perdida. Tão confusa. É como se eu estivesse com minhas próprias mãos apertando minha traquéia.

O que está acontecendo?

Tudo é tão barulhento. As pessoas estão gritando umas com as outras o tempo todo, seja nos jornais, na rua, na escola... E elas só gritam sem motivo, apenas querem ser ouvidas, mesmo que não tenham o que dizer. Eles soam tão altos que acabam convencendo quem os ouvem falando qualquer coisa sem sentindo. Não consigo pensar nas respostas com tanto barulho, não consigo pensar por mim ou em mim.

Há muito tempo estou assim, essa sensação não me abandona. Algo que deveria estar aqui e não está, algo que me ajudaria a encaixar tudo. A peça que falta.

Se eu ao menos soubesse o que é... Se eu tivesse, ao menos, algum indício.

Eu me empenho em encontrar, me esforço para ouvir o que tenta me ajudar, ressoando baixo em algum lugar dentro de mim, como se eu já soubesse a resposta, de alguma forma. Algo perdido e escondido por debaixo da minha pele, sinto queimar.

Quem está aí? Quem tenta falar comigo? Eu quero ouví-lo, mas não consigo ouvir nem à mim mesma.

Eu sei o que eu tenho, eu tenho consciência do quão boa minha vida é, isso é algo que eu tenho que aceitar mesmo que eu esteja toda ferrada. Tenho uma família, amigos... Eles deveriam preencher cada espaço que há em mim. Então por que não consigo sentir isso às vezes?

Por que às vezes eu me sinto tão descartável quanto a casca de uma banana?

Todos os dias eu ganho e perco um pouco de esperança. Eu só penso que eu tenho que aguentar firme, que eu preciso de consertos. Mas não tem porquê eu aguentar firme se nada de errado está acontecendo.

O problema sou eu?

Um dia de cada vez, apenas não posso me esquecer disso. Ou é o que eu tenho guardado em minha mente por tantos anos.

Por que essa é a vida, certo? Raiva, desejo, tristeza, amor. Às vezes bonito e às vezes caótico, altos e baixos. A vida é um "às vezes", isso faz sentido? Acho que não.

Abri meus olhos em baixo da água gélida, tudo estava turvo e em um perfeito azul claro, meus olhos arderam, mas moderadamente, devido ao cloro. As bordas da piscina estão distantes de meu corpo, ela é bem grande e seu piso ao fundo é escorregadio, os ladrilhos brilham com as luzes que ficam posicionadas no alto do ginásio e que batem na água, forte o bastante para chegar até ao fundo e iluminar.

Tudo é pacato e silencioso aqui em baixo. Meus ouvidos sentiam uma leve pressão por causa da profundidade da piscina olímpica. Sem barulho, sem pessoas me dizendo o que fazer ou decidindo por mim o que é o melhor, eu também não cobro nada a mim mesma quando estou sendo contornada pela água, apenas penso: nade. Nado sem pensar que preciso ser a melhor nisso, sem pensar que eu preciso de algum motivo para nadar.

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⏰ Last updated: Oct 15, 2020 ⏰

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Finalmente DormindoWhere stories live. Discover now