Algo que Deu Errado

❦ quatro ❦

- O que? Como assim você ficou com ele? Como deixa de me contar uma coisa dessas, Helen? - minha mãe estava sentada na minha cama conversando comigo fazia meia hora desde que chegamos, depois que deixamos Luan na sua casa que agora eu sabia, era no mesmo condomínio que o meu e duas casas depois da minha, dona Renata me seguiu até meu quarto não parando de me fazer perguntas. Enquanto eu estava sentada na cadeira que ficava de frente pra minha mesa de estudos, depois de ter tomado um belo banho quente e tirado o uniforme da escola, ela não saiu do meu pé nem um segundo, acho que ainda estava em choque e puta por eu não ter contado direito sobre a última sexta.

- Mãe, eu estava fora de mim, tinha acabado de saber que fui traída só queria uma forma de me vingar, beijei o primeiro cara que vi na frente e por coincidência esse cara é ele que estuda na mesma sala que a minha e ainda mora no mesmo condomínio que o nosso. - digo revirando os olhos. Parte de mim achava que ele estava só brincando quando disse o bairro em que morava, que tinha confundido de lugar e que se tratava de outro condomínio, mas quando foi chegando perto e não vi sinal de que o caminho era um erro da minha mãe ou do GPS eu só sabia surtar, por dentro. Por fora eu estava demonstrando a maior naturalidade.

Não, não tenho nada contra o Luan. Talvez eu tenha um pouco mas eu não sabia porque dessa cisma com ele. Não sabia se era por ser um garoto que eu tinha beijado depois de tanto tempo, se era porque me irritava o fato dele estar tão perto de mim ou se alguma forma tudo fosse só castigo.

- Eu gostei dele. - minha mãe diz com aquele olhar sugestivo que só ela sabia dar.

- Pois a senhora está ficando louca, não tenho nada com ele, sai dessa.

- Ok, ainda tá cedo pra dizer com certeza mas só deixando isso claro...

- Ele fuma maconha. - digo numa tentativa de fazer minha mãe tirar a idéia maluca de ter Luan como genro. Por que mães são assim? Pelo menos a minha, não tem nem 1 hora que conheceu um garoto que eu nem amiga sou e já acha que namoro. Isso é coisa de pais, não é?

- Desde quando eu tenho algo contra a quem usa maconha, Helen? Não sou esses pais conservadores que existem por aí, até parece que não conhece a mãe que tem. - ela dizia como se estivesse super ofendida por eu ter tentado fazer ela recuar achando que ela se revoltaria com algo tão costumeiro. Não tinha um adolescente em Saquarema que não havia fumado maconha, eu fumei uma vez e não gostei e não tinha nada contra quem gostava.

- Ok, desculpa! Foi só uma tentativa. - digo rindo e me sentando a sua frente na cama. Sua expressão ficou séria de repente e eu tinha que estar preparada pra um discurso ou algo do tipo vindo da minha mãe:

- Me escuta agora, falando sério. Eu sei que você passou muito tempo com o Bruno, desde pequena junto com ele, sei que tanto a nossa família como a dele achava que iriam casar um dia mas peço que esqueça isso, filha. Esquece ele, esquece que um dia todo mundo torcia pra vocês dois, esquece tudo o que envolvia vocês dois. Você não merece isso, nunca mereceu. Você vai me prometer que vai seguir em frente, vai tomar as rédeas do seu caminho sem que homem nenhum atrapalhe suas metas e sonhos, está bem? Não fique preocupada em achar um namorado, no tempo certo vai ter um cara que te ame de verdade e que só vai bastar você por perto, mais ninguém. Está me escutando? - minha mãe se aproxima de mim acariciando meu rosto e passando a mão no meu cabelo que estava solto.

- Eu sei, mãe! Vai ficar tudo bem, você me criou muito bem pra que eu não dependesse de homem nenhum então não é um término que vai me fazer ficar pra baixo o resto da minha vida, certo? Eu dou sempre um jeito, a senhora me conhece! - respondo e ela só sabia sorrir, no fundo orgulhosa por ter me criado bem, da melhor forma que ela pôde e ela sempre esteve por perto. Como resposta ela me abraça forte, um abraço que dura mais tempo do que eu planejava.