Luísa: Tem como você não gritar? – Pede.

Eu: O que ele – aponto pro Miguel no banco do motorista mexendo no celular – tá fazendo aqui? Desde quando ele tá aqui?

Semanas, quase um mês que eu não tenho um sinal de vida por parte dele. A última vez foi na péssima discussão. Acho que "inexistente" seria um ótimo resumo da nossa relação atual. O que aconteceu foi o seguinte; eu o magoei, ele deu o troco, eu fiquei sentida, mas não o procurei, ele muito menos.

Luísa: Você ou é muito lerda, ou se faz. Lembra que essa viagem tava marcada bem antes das briguinhas de vocês? – reviro os olhos pelo termo usado – Óbvio que eu não ia deixar nenhum dos dois faltar a uma coisa que planejamos a meses atrás. Inclusive foi quando vocês ainda olhavam na cara um do outro.

Tudo bem, eu não posso fazer nada quanto a isso, ele tá aqui, e eu vou ter que suportar passar esse tempo do lado de um cara que mexe comigo de maneiras inexplicáveis, mas que no momento, eu não o suporto.

Eu: Certo, eu sei que ele vai e tudo mais. Mas por que ele precisa ir justamente no mesmo carro que eu? – Pergunto com implicância.

Dane-se!

Luísa: Querida, eles revezaram. O Vitor tá cansado e foi apenas guiando o caminho pro Edu – aponta pro Jeep parado a nossa frente – e o Miguel veio pra cá. Simples. – Explica, e eu bufo.

Ele, que até o momento estava neutro perante nosso diálogo, se pronuncia.

Miguel: As moças já pararam de discutir pra podermos seguir? – Pergunta, e pela primeira vez em semanas ouço sua voz, maldita abstinência! Bufo com esse pensamento. – Alguma objeção, Mia?

Ele está com seu típico olhar debochado e sobrancelha arqueada. Mas devo dizer que prefiro esse olhar do que o vazio sem emoções que ele direcionava a mim.

Eu: Nada do que eu disser vai adiantar, então prefiro poupar minha saliva. – Digo, e o olho pelo espelhinho da frente.

Ele solta uma risada sem humor.

Miguel: Olha só, finalmente percebeu isso. – Provoca, e eu trinco os dentes – Não se preocupa, eu também não estou nada contente com a situação. Mas a Júlia conversou comigo e me pediu pra dar uma trégua, em nome das nossas férias. Por que isso vai ser uma coisa que eu não vou deixar você destruir. Então você só vai ter que aprender a lidar comigo, assim como eu lido com você.

Não escondo minha surpresa.

Frases com indireta? Sério Miguel?

Eu: Eu não tenho que "lidar" com você – faço aspas com os dedos – eu não te suporto lembra? – Cruzo os braços e me acomodo mais no banco.

Miguel: Jura? Nunca imaginei isso! – Debocha, com uma falsa surpresa.

É! O babaca está de volta.

Sorrio.

Isso vai ser divertido.

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Mais uma hora na estrada, não aguento mais olhar pra janela. Segundo a mensagem da Júlia, já estamos bem perto da casa.

Me ajeito no banco e bufo com tédio. Até a música da rádio é entediante!

Decido mudar, mas meu braço é interrompido por uma mão segurando meu pulso.

Olho pra ele com raiva.

Eu: Me solta! – Puxo minha mão, e ele aperta-a mais firme.

Ignoro os arrepios ao sentir sua mão quente na minha pele.

O Garoto do CaféOnde as histórias ganham vida. Descobre agora