O coração de Oli não bate mais por culpa dele e de seu povo.

Não sou assim...isso é demais...é...é...

E o coração da criança Lívia ? Ainda pode bater depois de ter a garganta cortada ? Mata inocentes e não pecadores ?

Não. Jamais voltaria... assim como Oliver, aquele homem e todo seu povo eram os culpados.

Quando você dá uma passo para as trevas não pode mais voltar, quando ergui o machado... quando deslizei a adaga, tracei meu caminho para onde não podia haver temor ou hesitação.

Muito menos misericórdia.

Você não é assim.

É o que você é.

Você não é assim.

Isso é tudo o que sou.

Uma assassina, mentirosa e traidora.

Ergo a garrafa e minhas mãos tremem... - Fraqueza - mas não importa porque sei como arranca-lá.

Eu me lembro. Dos homens mortos sob o meu comando...do sangue...gritos... flechas...fios ruivos...e mais sangue.

Desenterro a dor até que ela se torne raiva, até que a raiva se torne ódio... e então me vingo.

O líquido molha sua feridas e ele se encolhe, os olhos embaçados com lágrimas que é orgulhoso demais para derramar.

— Ele não conseguiu falar nada enquanto morria - minha voz sai com dificuldade enquanto falo mas não me importo, arranco a mordaça de sua boca — Apenas cuspia sangue e mais sangue, até que finalmente se foi. Eu queria não ter visto, assim poderia acreditar quando as pessoas dizem que ele partiu sem dor, mas eu assisti ele se engasgar no próprio sangue, vi a dor em seu rosto. Eu sei que ele sofreu.

Pisco para desembaçar a visão e então continuo.

— Ele não conseguiu falar nada enquanto morria, mas eu vou ouvir você gritar enquanto queima - olho em seus olhos quando ergo a vela — Quando eu me lembrar dele em meus braços enquanto partia, e como sua boca se movia silenciosamente, então eu ouvirei seus gritos de novo e de novo, e eu me sentirei bem melhor.

E então o fogo encontra sua pele.

Caminho em direção à porta do outro lado e por um segundo paro ali na saída e escuto seus gritos, soam como música e em cada nota ouço justiça. Por Oliver, Thomas e tantos outros homens sem nome e sem rosto que perderam a vida por causa dos ataques RodWell.

A vingança tinha um gosto doce. E eu queria prová-la novamente.

Saio para a tempestade lá fora mais forte do que nunca, não demora para que eu esteja toda encharcada e tremendo de frio. Sigo em frente com dificuldade, meus pés afundam na lama diminuindo o ritmo da caminhada e as gotas geladas descendo pelas minhas costas causam calafrios a cada instante.

Conforme me aproximo do rio, não é apenas lama que dificulta a caminhada, mas também a água, chuvas fortes faziam o rio transbordar e tudo ao redor alagava como agora, quanto mais perto do rio eu chego mais difícil é caminhar empurrando toda essa água. Mais afrente, meus olhos se deparam com uma ponte erguida sobre o rio. Ela nunca esteve aqui antes, tenho um segundo de alívio ao ter a solução para não ser arrastada pela correnteza, mas quanto mais me aproximo, mais vejo o seu estado decadente.

Saco a espada e corto as duas cordas que prendem a ponte, o monte de madeira podre despenca rápido fazendo várias lascas voarem para as profundezas das águas turbulentas abaixo enquanto se assenta do outro lado. Assim que piso sob ela sinto sua fragilidade, toda a extensão da ponte estala como um prelúdio para o desabamento. Sem outra escolha a não ser cair e morrer afogada na correnteza começo a tirar a armadura que me deixa muito mais pesada, mesmo que me deixe mais quente ou me traga sensação de segurança as placas de metal mais atrapalhariam do que ajudariam nesse momento.

Lívia (COMPLETA)Where stories live. Discover now