CAPÍTULO 12

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Ela estava caída no chão, seu próprio sangue a envolvia molhando seus cabelos negros.
Seus olhos esbugalhados estavam vazios e o corpo pálido totalmente imóvel.
Sua boca sempre tingida de vermelho, agora estava pintada com seu próprio sangue que saia de seus lábios e sujava-lhe o queixo.
Não havia nenhum sinal de vida.
Ela estava fria , então eu a abracei na esperança que seu corpo ficasse quente de novo...que ela voltasse a vida.
Olívia estava morta.
Seu sangue já frio agora estava por todo o meu vestido branco.
Vermelho. A cor que ela sempre usava agora a envolvia junto a morte, levando-a para longe.
A porta atrás de mim se abre e quando olho para trás vejo mamãe.
Com uma faca.
Papai aparece do seu lado.
Com uma faca.
Eles olham para mim como se eu fosse a culpada, mas são eles que seguram a arma, eles mataram Olívia, pouco a pouco eles foram tirando sua vida...facada por facada.
E agora ela jazia em meus braços com o corpo vazio.
Quando voltei meus olhos para ela novamente, vi em minha mão parada sob sua barriga.
A faca. Suja de sangue. O sangue de minha irmã.
Eu havia matado Olívia.
Todos nós havíamos.

Acordei com o grito preso a garganta, e meu corpo estava encharcado de suor.
Por entre as frestas da cortina,que cobria a grande janela da sacada, já era possível ver a luz do Sol.
Com o medo corroendo minhas entranhas empurrei as cobertas para o lado, e segui rumo ao corredor sem me dar ao trabalho de trocar a roupa.

O corredor estava literalmente vazio a não ser alguns poucos servos, que passavam organizando tudo para quando os nobres acordassem.
Parei na frente da porta do quarto de Olívia.
Fiquei imóvel segurando a maçaneta fria. Assim como o corpo de Olívia no pesadelo.
Mas não passava disso.
Apenas um pesadelo.
Eu abriria a porta e minha irmã estaria alí.
Viva.
Girei a maçaneta e adentrei o quarto, que estava no completo escuro, as cortinas escuras não deixavam nem pequeno raio de passar, o fogo na lareira já se extinguia, trazendo pouca iluminação.

Quando olhei em direção a cama lá estava Olívia. Dormindo embaixo das grossas cobertas vermelhas.
Cobertas vermelhas . Lembravam ao sangue em volta dela, e derrepente senti a forte necessidade de tirá-la dali.
Foi apenas um sonho Lívia. Só um sonho.
Me aproximei da cama na ponta dos pés.
Fiquei surpresa quando olhei em seu rosto, fazia muito tempo que eu não a via sem maquiagem, ela sempre estava com os olhos delineados e os lábios tingidos de vermelho, que destacavam sua palidez.
A arma perfeita para fazer os soldados babarem.
Mas olhando-a agora é como se eu estivesse olhando para outra pessoa.
A Olívia que eu olhava parecia mais vulnerável, até mesmo mais jovem. Sem toda aquela maquiagem eu podia ver mas semelhanças entre nós.
Totalmente diferente da Olívia que eu conhecia.
Da Olívia provocativa. Que fugia do castelo para festejar com o povo, que dançava no centro do salão sem se importar com as regras impostas, que vivia piscando para os soldados e sempre conseguia levar um soldado para só Deus sabe lá onde .
Ela parecia tão pequena naquela cama, que senti uma vontade imensa de abraça-lá e proteger, mesmo sabendo que ela não corria risco algum, peguei uma cadeira para sentar-me ao seu lado.
Só vou ficar um pouquinho para me tranquilizar.
Fiquei sentada velando o sono dela, algumas vezes ela ficava inquieta e se revirava na cama, mas não acordava.
Meu corpo foi ficando mais pesado e eu tinha uma leve consciência de onde estava e que devia ir para o meu próprio quarto, mas logo a escuridão me envolveu.

- Acorda!
Alguém está me sacudindo.
E está me irritando
Não se pode nem mais dormir nessa casa.

- Acorda Lívia! - acho que conheço essa voz, mas dormir me parece mais agradável do que tentar descobrir de quem é.
Plaft!
Pulo da cadeira totalmente desperta.

- Aiiii ! - coloco a mão em meu rosto que não para de arder. Olívia está parada na minha frente com as mãos na cintura e batendo o pé impacientemente.

- Enfim a donzela acordou!

- Você me bateu!

- É claro.

- "É claro" - digo imitando ela- não é normal sair acordando as pessoas a tapa!

- Não é normal dormir como você, pelos deuses Lívia, parecia que estava morta.

Olho irritada para ela antes de sair andando em direção a porta.

- É melhor você se apressar, os jogos começam daqui a pouco - paro em frente a porta e me viro para Olívia, ela vestia apenas a chemise , junto de uma calça e botas de couro.

- Por que você ainda não colocou a armadura?

- Não usarei ela hoje - disse calmamente. Senti meu corpo todo ficar tenso.

- Você está louca!? Vai entrar na arena para lutar contra um animal sem armadura!

- Eu poderei me mover muito mais rápido sem ter que arrastar um monte de metal junto - diz como se aquilo fosse óbvio, como se aquilo não a deixa-se exposta as garras do animal que nós nem sabiamos qual era.
Era um risco.
E eu odeio os riscos.

- Não. Você vai de armadura- digo firme. Vejo seu corpo se retesar, e no mesmo instante seu rosto se torna inexpressivo. Ela caminha em minha direção e para quase colada a mim.
Seus olhos se encontram com os meus.
Totalmente frios.

- Eu não pedi sua autorização - suas palavras eram tão frias quanto seus olhos, ela abriu a porta e saiu pelo corredor, com a postura rígida e os passos firmes.
Era naqueles momentos em que eu me pegava desejando como nunca a antiga Olívia.

Era admirável o número de pessoas que haviam,o lugar reservado aos nobres vibrava em antecipação, todos ansiosos para ver sangue jorrar na arena, ao contrário dos súditos, que estavam todos tensos e sentados em total silêncio, o que era a única coisa que podiam fazer para mostrar a aversão que sentiam pela decisão do rei de mandar Olívia para aquele maldito jogo.
Agradeci o povo mentalmente por não ter abandonado Olívia naquele momento, eles continuavam apoiando ela , mesmo que em silêncio, olhar para todo aquele povo sentado, todos emudecidos em forma de protesto me dava muito orgulho, porque eu também era uma deles, todos nós era um Sarabely, e estávamos unidos por uma só coisa... Olívia.
Meu pai e mamãe já estavam sentados em seus lugares lá na frente, uma cadeira vazia ao lado de minha mãe me esperava , sem ter outra escolha me dirigi a ela em passos lentos, meu corpo ainda doía pela luta passada.
Assim que me sentei as cornetas tocaram , avisando a chegada de minha irmã .
As portas na arena se abriram , e lá estava ela.
Olívia.
Com os cabelos negros presos em uma trança e o rosto como sempre maquiado ela parecia estar em um dia normal, andando até o centro da arena com passos firmes e a postura ereta. E estampado em seu rosto, como sempre, estava seu típico e provocador sorrisinho de lado, ela olhou para o povo e seus olhos brilharam , fazia tempo que eu não via aquele brilho, pelo menos nos olhos de Olívia. Mas então o seu olhar pousou em nosso pai, e eu vi todo aquele brilho desaparecer , seus olhos azuis se tornaram frios e o sorriso que antes era provocador agora me parecia perverso, seus traços marcados pelo ódio se dissolveram quando dois homens se aproximaram e lhe entregaram sua espada e o escudo.
Então os tambores começaram a tocar.
E todos ficaram em completo silêncio.
Os nobres em espectativa.
Os súditos em oração.
Olívia parada no centro da arena olhando diretamente para a porta da qual sairia o animal, com o escudo em sua frente e a espada na outra mão.
Inesperadamente Olívia começou a bater os pés no chão.
E nós a acompanhamos.
Nossos pés batiam no chão no mesmo ritmo dos tambores. Nuvens escuras cobriam o céu deixando o dia cinzento, dando um ar ainda mais fúnebre ao local.
Os pés do povo batiam no chão.
Meus pés batiam no chão.
E juntos nossos pés lamentavam.
A porta começou a abrir.
Nossos pés bateram mais forte.
Olívia batia seus pés no chão e sua espada no escudo.
Então a porta se abriu , e podemos ver as patas de um tigre antes de seu rugido cortar o ar .
Então os tambores pararam e nossos pés também.
Fechei o punho com força e senti as unhas se enterrarem em minha carne.
A luta iria começar.
Venatio.
O jogo da morte.
Na maioria das vezes quem participava eram os prisioneiros dos reinos.
Que eu me lembre, jamais um nobre participou.
Motivo?
Ninguém saí vivo.

                     
                     

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Lívia (COMPLETA)Where stories live. Discover now