Capítulo 1

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Miguel continuava a ler sobre Harry Potter para sua mãe, era o livro que ela mais amava e o que fizera seu filho ler logo aos dez anos, que, diga-se de passagem, o menino havia amado. A coleção de sua mãe era uma relíquia a qual ele foi apresentado quando criança e informado, de forma muito clara e assustadora que, não deveria "rasgar, rabiscar, amassar ou sair de casa com eles, leia só aqui em casa, não leve eles para fora. O que é meu é seu, mas esses livros são mais meus do que seus, entenda isso".

Enquanto Miguel estava concentrado contando sobre como o menino que sobreviveu havia acabado de descobrir que tinha a habilidade de conversar com cobras, relembrava muito ao longe como sua mãe havia apresentado o universo da leitura para ele. Iniciando com livros que mais tinham imagens do que palavras, quando aprendeu a ler era acompanhado por Diário de um banana, toda a coleção foi lida pelo menino – agora homem – acompanhado por sua mãe, fazendo correções das palavras que eram pronunciadas erradas, as virgulas que ele esquecera, o que o ajudou muito a aprender a ler cedo e de forma correta; na escola, havia avançado um ano por sua facilidade de lidar com as palavras, que por consequência ajudou-o nas outras matérias. Era inteligente, mas não era nenhuma herança ou dom, era sua mãe que ficava em cima dele fazendo-o ler, estudar, se interessar pelos livros. Não havia muitos eletrônicos na casa, uma TV e um videogame, que ambos amavam jogar juntos, celular era apenas o de sua mãe, que ela não usava com frequência, somente para ligar ou atender alguém.

Enquanto divagava mal havia prestado atenção na história que lia, então teve que voltar ao início do capitulo. Hoje ele tinha muito tempo, então não tinha problema de passar o dia todo ali se pudesse, um domingo calmo em um mês de férias. Chegara de viagem de manhã, vindo de uma linda praia que gostava de ir durante o verão, o bronzeado era visível, a pele descascada demonstrava que o protetor solar tinha sido deixado de lado, um cuidado que somente sua mãe pensava quando estavam em uma praia. Miguel somente pensava em longas caminhadas, de deitar na areia e ficar escutando o barulho do mar. Miguel iniciou novamente o capítulo, a história já havia sido lida por ele algumas diversas vezes, mesmo assim gostava de lê-la novamente, mesmo sua mãe não gostar de ler uma mesma história mais de uma vez, uma diferença crucial entre os dois. Sua mãe guardava os livros que gostava e doava os livros que não gostava, já Miguel preferia ler novamente suas histórias preferidas e nem sequer terminava aquelas que não gostava, largando na estante até sua mãe dar um basta e doar para alguém ou alguma biblioteca ou algo do tipo.

Virava um hábito muito agradável poder ler para sua mãe, o fazia sentir útil, fazia-o sentir próximo a ela, como se a ajudasse, "é a única coisa que posso fazer" dizia a si mesmo e a quem o questionasse sobre seu comportamento. Era filho único, uma solidão não compreendida por muitos.

Sua concentração voltara para a história. Cada palavra agora era lida e interpretada por ele, fazendo-o compreender a história por inteira. Seus olhos estavam vidrados nas páginas. Sentara com o corpo todo para a frente na poltrona, apoiando seus cotovelos em seus joelhos, segurando firmemente ambos os lados do livro. Sua concentração não saíra mais da leitura, tanto que, quando Ana se aproximou do quarto, ele nem sequer notou sua aproximação. Enquanto Ana lia seus relatórios, fazendo correções e anotações, caminhavam lentamente em direção ao quarto. Grudou sua prancheta ao peito, abraçando-a, olhou para frente enquanto as pessoas passavam ao seu lado a cumprimentando e parabenizando-a pelo seu primeiro dia. Ana sorria educadamente e acenava com a cabeça em resposta. Entrou no quarto sorridente, onde Miguel continuava sua leitura.

-Como estamos aqui hoje? – Perguntou Ana sorridente, enquanto caminhava saltitante em direção da cama para observar Maria, mãe de Miguel. Miguel tirara os olhos das páginas para observar a moça que entrara no quarto – Mais um dia calmo como os outros, não é mesmo, Maria? – Ana ajeitou os travesseiros, conferiu o soro e iniciou suas anotações sobre batimentos, pressão e todas as outras informações necessárias. Miguel fechara o livro, sem ao menos marcar onde havia parado.

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⏰ Last updated: Sep 25, 2020 ⏰

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