Capítulo 5 : Urzais (Parte 1)

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      Sorel encarou a fugitiva com azedume. Nidaly estava cercada pelas cadelas e, ainda assim, pouco antes, havia atacado Lohkar quando este lhe atou as correntes. A traidora havia se oferecido para ajudar Eirmi, com palavras em forma de sussurros que mal deixaram seus lábios, se perdendo junto com sua ousadia diante da visão do rapaz caído. Agora estava amuada num canto, onde a branah podia ver a confusão em seus olhos sempre que cedia a tentação de conferir o estado do guerreiro ferido, para depois deixar seu olhar cair por terra.

     Ao fim de um quarto de hora, Elawan já havia contornado a teimosia dos guardas da patrulha e ordenado que seu grupo se preparasse para partir. Ao que constava a Sorel, também havia se oferecido para cuidar dos feridos em Liffey, o que de fato encerrou a discussão. O homem alado recusou de imediato com bastante decoro e foi incapaz de contrariar o lorde após a oferta de hospitalidade. "Não seria do agrado do meu rei, tampouco do meu príncipe", ele dissera. E Elawan fingiu relutar em aceitar sua decisão, após o que, declarou que como a fugitiva fora capturada em seu território e por seus cães, cabia a ele a posse da prisioneira, "por hora", garantiu.

      Carter cedeu meia dúzia de sachês de ervas e casca de salgueiro-branco, além de frascos de láudano preparados por ela, ao grupo alado que desapareceu na mata da mesma forma que surgiu, agora carregando um aleijado que em breve, torceu Sorel, estaria morto. A humana, contudo, parecia angustiada com a presença da tengu remanescente.

– Por que está assim? – indagou Elawan enquanto preparava a montaria para a jornada de volta.

– Há duas noites sonhei com olhos dourados, grandes e selvagens, como os dela. Olhos de lobo, e seus dentes afiados; eram a última coisa que via.

      Elawan maneou a cabeça ponderando as palavras da humana.

– O que a garota tem de mais assustador são aqueles olhos de tigre demoníaco – interferiu Lohkar, com certo deboche. Embora seus ferimentos dissessem o contrário.

– Ou de lobo – insistiu Carter

– Tigre ou lobo... o tempo dirá. – Elawan pareceu saborear sua ideia. 

      O cinza sedento cobria o pântano e seus urzais

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      O cinza sedento cobria o pântano e seus urzais.

      Nidaly observava a paisagem do chão com certo descontentamento. Era uma planície lúgubre, mas não sem vida. Pintassilgos aproveitavam alegres o desjejum, alçando voo conforme deles o grupo se aproximava. Talvez fosse isso que a incomodava naquela manhã fria, a impossibilidade fazer o mesmo naquele instante.

      Seus passos eram pesados. Cada um deles era como pisar sobre pedras pontiagudas e o som dos grilhões em seus pulsos junto a marcha dos cavalos, produziam uma cacofonia ranheta aos ouvidos. Ninguém falava, mas vez ou outra trocavam confissões em silêncio, com olhares e gestos que a cativa não podia decifrar. Por isso, Nidaly gostaria de incendiar aquela planície e aqueles homens no processo.

Entre Damas e EspadasWhere stories live. Discover now