— Obrigada Mariah, até mais tarde.

— Até Ary feliz.

Hoje eu ficaria na pediatria com a Lis, mas ela mandou uma mensagem falando que ia se atrasar porque chovia tanto em Seattle que o congestionamento estava muito parado, então resolvi ir dar uma mão para Max, e ao chegar lá percebi que ele talvez precise de duas mãos ou até mais.

— E aí gato, quer uma ajuda? – Cheguei ao seu lado o questionando e tentando ler o que há na prancheta que ele estava escrevendo.

— Ah oi Ary, vejo que encontrou meu presente.

— Estava muito delicioso – digo tomando o último gole e indo pegar a prancheta que antes ele escrevia e agora só encarava.

— Nenhum gole para mim? Ei me devolve isso, eu tenho que dar entrada no cara que anda parecendo ter uma arma na costela – ele diz rindo.

— Eu faço. – Ele me olhou com um olhar questionador, sabia que eu ficava hoje com Lis e ela sempre tem ótimas cirurgias. – Lis está atrasada e eu estou feliz com meu capuccino e com a ótima recuperação de Olga, agora me dê este prontuário antes que eu desista.

— Te adoro princesa – ele diz me entregando a prancheta e dando um beijo na minha testa -, estão na sala de triagem.

Ao chegar à sala de triagem tem um cara enfaixado pois os enfermeiros acabaram de passar ali e mais 3 homens junto, porém estes parecem bem saudáveis. — Então... James Wilson?

— Eu mesmo. – Responde o homem quem parecia ter um corte profundo na coxa, porém mantinha a mão perto da lateral do corpo.

— Aqui diz que se feriu um uma maquita.

— Isso eu.. ai. – Sr. Wison não terminou sua frase, pois aparentemente algo o estava incomodando próximo às costelas.

— O que James quis dizer é que é muito desastrado e teimoso, e estava cortando madeiras para uma casa na árvore para seu filho pequeno, quando deixou passar de raspão na coxa... senhorita... Schwartz.

— Você estava lá pelo jeito.

— Estávamos os três, somos vizinhos.

— Entendo. – Voltei a olhar o prontuário e vi que se negaram passar pelo raio-x mesmo com a dor, e estava indo para ver o corte que a serra causou quando um pássaro desgovernado bateu com força na janela, fazendo todos levarem um susto prévio. Mas o que me chamou atenção foi que o homem que tinha contado a história do seu vizinho encarou seu amigo de forma rigorosa, que por sua vez parecia estar arrumando algo no cós da calça. – Só vou ver o grau de ferimento e dar continuação triagem para os exames de sangue.

— Não acha que tenha necessidade, foi supérfluo.

— Ora nenhuma serra faria um corte supérfluo Sr. Wilson. – Eu disse já tirando a gaze e examinado o machucado.

Entre tantas lições que meu pai me ensinou, a mais importante delas era, que se algo parecer errado ou contraditório, devemos relaxar os músculos e focar em assuntos técnicos. Para no caso de sua intuição estiver correta, você ter tempo para tomar as possíveis precauções. E foi exatamente o que fiz ao ver aquele ferimento que nada parecia ser de uma serra, na verdade ele parecia um corte limpo e bem profundo.

Os três homens que acompanhavam o homem que eu analisava e anotava palavras aleatórias para passar o tempo e clarear minhas ideias, pareciam estar em posições já pensadas. Um ao lado da janela, outro perto da porta e o terceiro que foi o único a falar comigo diretamente estava com as mãos nas costas ao lado de James olhando tudo e inclusive todos meus movimentos.

Esse homem não sofreu um acidente residencial comum e esses caras comigo nesta sala não são seus vizinhos, eu demorei alguns minutos e uma olhada rápida para perceber que estava tratando com especialistas, agora me resta saber quantos segundos terei para que eu saia dessa sala sem notarem que os descobri.

— Sabe hoje o pronto socorro está um inferno, e nesses dias parece que todo os enfermeiros somem do nosso radar, e como me parece que estão com pressa eu mesma farei o exame – eu disse pegando o tubo e uma seringa na gaveta – acredito que só um tubo já me dará todo os resultados que preciso.

Levanto a manga do seu braço amarrando o garrote, e enquanto apalpava suas veias percebo dois furinho na sua nuca, mas tiro meus olhos rapidamente dali e foco e colocar a agulha dentro dele e ver o sangue subir lentamente pelas paredes do tubo.

— Enquanto mexia com a serra circular, o senhor sofreu alguma queda?

— Como eu disse James estava... – o homem alto que estava ao seu lado e antes tinha me explicado como seu vizinho ganhou ferimento começou a falar, mas eu o cortei antes que terminasse olhando diretamente para James e tirando a agulha de seu braço a ponto que soltava o garrote.

— Senhor Wilson, o senhor sofreu alguma queda? – Eu pude ver mesmo que quase despercebido sua íris dilatar em uma velocidade tão rápida quanto voltou ao normal ao me responder.

— Não Dra. Schwartz.

— E o que houve com suas costelas?

— Semana passada eu estava brincando com meu filho, ele já é adolescente e você pode imaginar.. eu perdi feio – ele disse com meio sorriso e eu concordei.

— Claro, estes jovens têm uma energia infinita, agora só vou levar seu sangue para alguns exames e já volto com o resultado, fique a vontade Sr. Wilson.

Eu pus o tubo no bolso do jaleco e fui a passos firmes até a porta, precisava achar Max, ele com certeza falou brincando quando disse que eu atender um cara que parecia andar uma arma na lateral. Mas arrisco dizer que ele tem algo ali, não uma arma porque isso geraria problemas caso quisessem examiná-lo, mas esse homem escondia algo. E percebi que ele deixou escapar ter um filho mais velho, quando seu colega falou que veio para cá por uma criança mais jovem e o fato importante que ele não negou o problema nas costelas. Claro que ele podia ter duas filhas e todo esse transtorno com as cartas me deixando completamente pirada. Mas meu instinto gritava que não era loucura. Assim que cheguei a porta o homem que estava ali quieto aguardando abriu pra mim, eu agradeci com um sorriso e ao invés de virar para esquerda onde ficava o laboratório, peguei o caminho contrário com o celular em mãos.

— Rogers.

— Oi Luke, sou eu, você está muito ocupado?

— Não, o que precisa?

— Te mandei uma foto de um homem, tem como me dizer quem é?

— Claro, para quando?

— Sendo que eu acabei de examinar e só vou poder enrolar mais 15 minutos pelos resultados, logo.

— Preciso avisar o General?

— Deixe meu pai fora disso.

— Devo me preocupar?

— Depende do resultado de sua pesquisa, agora preciso ir. – Me despeço rapidamente e deixando o sangue no laboratório, mas antes de voltar para meu paciente mudo minha ideia.

— Hey.. Talessa, você pode me dar outro tubo? – Peço a farmacêutica responsável do horário.

— Só temos de vidro, pode ser?

— Está ótimo.

— Bom plantão.

— Para vocês também. – Foi só ao ouvir Lessa me desejar um bom plantão que percebi que tínhamos começado a madrugada.

O mistério de GraceOnde histórias criam vida. Descubra agora