Capítulo XXXIX

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Na biblioteca, Ophelia escrevia uma carta para sua amiga Georgiana. Gostaria de contar-lhe as novidades, ocultando o último escândalo que julgou ser algo particular de Cassandra e August. Preocupava-se principalmente com a mulher, a qual tentava manter-se rígida em relação ao adultério do marido, mas notava-se sua palidez e sua tristeza. Cassandra aprendera a ser forte diante de tantas adversidades; tentava recuperar uma força que provavelmente nunca havia tido. Ophelia procurava sempre amparar a amiga, no intuito de fazê-la espairecer as ideias e reanimá-la — ao menos, um pouco. Quanto à menina, filha de Cassandra, Ophelia sempre a mantinha ocupada em alguma brincadeira, muitas vezes a levando para a casa de seu irmão, Thomas, para que assim a pequena tivesse um momento infantil com os filhos do jovem reverendo e de Emma. Os sobrinhos de Ophelia eram muito receptivos, principalmente George que gostava muito da companhia de alguém da sua idade.

Enquanto escrevia na biblioteca, Frederick, seu marido, ocupava-se em outra sala, dedicando-se à sua literatura. Muito alegrava Ophelia por vê-lo novamente praticando sua arte; regozijava-se por não haver desperdício de talento.

Sozinha e concentrada, Ophelia pensava no conteúdo da carta para a Srta. Young, imaginando como seria a vida dela em Nova Iorque. Sorriu diante da imagem de Georgiana em uma terra que um dia pertencera ao reino; divertia-se ao mentalizá-la em um lugar excepcionalmente grande e inovador. Assim, um dos seus pedidos à amiga fora uma descrição minuciosa das Américas, escrevendo em uma futura missiva o que havia no Novo Mundo.

Atenta à sua atividade, Ophelia assustou-se com a abrupta aparição de August Blackall. Sobressaltada, a moça abandonou o papel e jogou a pena de lado, manchando a mesa e a carta de Georgiana de tinta. Assustada, Ophelia fitou August, o qual tinha os passos vacilantes. Rindo do susto da cunhada, divertiu-se ao vê-la extremamente perturbada pelos seus agressivos surgimento.

— Ora, cunhada, o que há? Está impressionada comigo?

Enrolando-se para caminhar e para falar, August aproximou-se um pouco mais para perto de Ophelia. Ela a julgou pelo fato de estar nitidamente bêbado. Seus cabelos estavam em desalinhos; suas roupas amassadas; sua casaca mal abotoada; e seu odor do mais forte álcool. Enojada, Ophelia virou o rosto, repreendendo-se por ter observado tamanhos defeitos.

— O que o senhor deseja?

Senhor? — gargalhou August. — Quanta formalidade, Ophelia. Acaso não reconhece a mim? Sou eu, seu velho amigo de infância.

— Não, não o reconheço mais — desafiou-o Ophelia. — Não é mais o rapaz que eu tinha por companhia e amizade. Hoje, é apenas um senhor que nada sinto, exceto piedade.

— Piedade? De mim? Eu sou August Blackall, não preciso da piedade de ninguém! Muito menos de uma simples filha de um reverendo morto! Quem merece piedade é você, e isso meu irmão, o honroso Fred, proporcionou-lhe ao casar-se contigo.

— Por favor, não estamos em condições de discutir — rebateu. — Você está descontrolado, portanto, não irei revidar suas ofensas para comigo e suas ironias para com quem eu amo. Vá embora, eu lhe peço. Vá recuperar-se de seu excesso alcoólico.

— Ophelia, Ophelia, não se zangue comigo — continuou August, pateticamente. — Lembro-me de quando você defendia-me. Era minha protetora, recorda-se?

— Não sou mais aquela menina que passava as mãos em sua cabeça por todo erro que você cometia, August. Sou uma mulher adulta e casada; aprendi, com o tempo, a ser justa.

— Parece que estou diante do velho George Stanhope — desdenhou ele. — Sempre com seus discursos moralistas.

— Não diga o nome de meu pai.

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