Late for Dinner

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Gerard havia chegado do trabalho um pouco mais tarde àquela noite. Ele deixou seu casaco sobretudo em tom caramelo sobre o gancho ao lado da porta de entrada e notou as luzes apagadas, a presença de seu namorado se fazendo ausente. Esse era um péssimo sinal.

Ele amaldiçoou a si mesmo mentalmente pela sua falta de atenção. Podia-se dizer que ele era um homem apaixonado pelo trabalho e se não ficasse atento durante o expediente, poderia estendê-lo por horas além de sua carga horária habitual e acabar como hoje, dirigindo pelas ruas quase desertas na madrugada e xingando a si mesmo no caminho por ter deixado Frank esperando.

Ele tirou os sapatos e subiu as escadas com cautela, parando no meio do lance de degraus para ver a mesa de centro colocada com o que seria um jantar preparado por Frank mais cedo, com direito a luz de velas - que agora estavam apagadas -. "Merda", ele murmurou consigo mesmo, sentindo a culpa fisgar em seu peito ao imaginar o outro soprando as chamas até se extinguirem, cansado de esperar, e subindo chateado para o quarto dos dois. Uma das características que mais encantavam Gerard em Frank era o seu temperamento difícil e como se tornava terrivelmente adorável quando estava irritado, com suas bochechas vermelhas em fúria, seus lábios que franziam-se em um lado do rosto, e os braços tatuados que cruzavam-se em frente ao seu corpo e se tensionavam de um jeito que agraciava Gerard com um arrepio excitante e assustador em sua espinha.

Ele respirou fundo ao alcançar a maçaneta com seus dedos, encarando a luz fraca da televisão que escapava por baixo da porta, e prendeu seu lábio inferior entre os dentes ao adentrar o cômodo e encontrar um Frank adormecido, com um pacote de lenços ao seu lado, que provavelmente estava sendo usado para enxugar as suas lágrimas após assistir algo na televisão... Ou - Gerard divagou consigo mesmo - seria por causa de seu namorado viciado em trabalho que passou uma eternidade no escritório e esqueceu completamente sua noção de tempo e espaço?

Ele se colocou de joelhos no carpete ao lado da cama e escorou as pontas dos dedos esguios de artista sobre a bochecha de Frank, contemplando a sua expressão serena, contrastando com seu habitual jeito agitado de ser. Ele sorriu consigo mesmo e inclinou-se para alcançar os lábios do namorado com um beijo carinhoso, chamando-o em um sussurro

- Frankie?

E tudo o que ele ouviu foi um pequeno grunhido rabugento em resposta. Frank não gostava de ser acordado e isso poderia estragar seu humor por um tempo. Mas Gerard tentaria a sorte, até porque ele tinha algo em mente.

- Frankie...

Ele chamou novamente, agora, recebendo um par de olhos cor de avelã semicerrados em sua direção. Ele alcançou os cabelos sedosos de Frank, penteando-os e sentindo o cheiro doce e agradável de shampoo exalar entre a pequena corrente de ar entre os dois, embriagando seus sentidos por alguns instantes. Buscando um pouco de coragem e não pensando muito, ele pigarreou e voltou-se para o namorado sonolento, mostrando seus pequeninos dentes em um sorriso de canto

- Eu cheguei. Eu sei que está tarde e eu sinto muito. Acabei perdendo a hora trabalhando e-

- Gerard... - O outro interrompeu, formando uma expressão quase severa em seu rosto bonito, que logo se desfez em um bocejo inevitável.

- Por favor, meu pequeno. Deixa eu compensar você.

Então Frank ergueu a sobrancelha e, conhecendo o namorado, já imaginava o que viria a seguir. Ele e Gerard tinham essa faísca entre si, como uma explosão de fogos de artifício de um simples beijo se tornando em instantes um incêndio de proporções catastróficas. Ele imaginava que Gerard iria compensá-lo com sexo, talvez realizando alguma de suas fantasias malucas ou com um boquete de desculpas. Eles faziam isso o tempo todo, e Frank realmente não conseguia parar mesmo se tentasse fazer o esforço, era sempre tão intenso e apaixonado. Gerard era como um vício: sua voz, sua presença, seus olhos atenciosos, como ele falava empolgado sobre os assuntos que mais gostava, ou improvisava um discurso de 50 minutos sobre como Frank poderia ser mais organizado, tirando o celular do bolso e tentando ensiná-lo a usar um aplicativo de tarefas que ele afirmava ser a oitava maravilha do mundo. Frank estava sob um feitiço irremediável. Ele era realmente cético a essa altura da vida, mas quando se tratava de Gerard, ele se sentia assim, enfeitiçado: por cada pedaço dele, por sua pele, seu cheiro, sua personalidade, seu toque e tudo o que ele era e podia oferecer.

Late for Dinner | Frerard  | One-ShotWhere stories live. Discover now