Único

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Sirius estava adorando Hogwarts, não sabia se era seu extinto de contrariar seus pais, que haviam falado horrores do lugar, ou por finalmente poder passar um tempo longe deles. O jovem Black estava no quinto ano, em Beauxbatons, e estava visitando a escola escocesa por conta do torneio tribuxo, que com sorte, ele não participaria, mas assistiria as provas e fingiria torcer por sua escola.
Em Beauxbatons tudo era tão elegante e rígido, ternos e vestidos caros, professores exigentes e colegas esnobes. Já em Hogwarts o clima era mais informal, logo no primeiro dia da visita já havia feito amizade com um garoto chamado James Potter, e ficara impressionado com a capacidade do menino de cabelos arrepiados de aprontar e sair ileso.
Outra coisa que vinha acontecendo desde sua chegada a Hogwarts, era seu foco no menino de cabelos cor de areia e cardigã da grifinória, que também era amigo de James, mas parecia fugir sempre que Sirius chegava perto. Ele ficara tão incomodado com a situação que chegara a se perguntar se existia alguma fobia de franceses, pois não encontrava outra explicação para as  fugas do garoto, que ouvira James chamar de Remus.
E assim, foram se passando os dias, e Sirius se via aterrorizado com a possibilidade de ter que voltar para França sem ter trocado menos de duas palavras com Remus. Cada dia percebia um novo detalhe no grifinório, e a cada detalhe se interessava mais por ele. Ao final da segunda semana já sabia que Remus tinha duas cicatrizes no pescoço, e uma atrás da orelha, que ele comia chocolate assistindo as provas do torneio tribuxo, e que quando não estava com James, estava na companhia de livros ou de uma garota ruiva.
Deixando a pouca vergonha que tinha de lado, no final de sua segunda semana resolveu perguntar a James sobre seu sujeito de interesse:
-  Ei James, aquele seu amigo, Remus, né? Ele é bem quietinho, e sempre se afasta quando chego perto. Queria saber se fiz algo que possa ter ofendido ele.
James pareceu achar engraçada a curiosidade de Sirius, como se soubesse de algo que para o garoto Black ainda era incompreendível.
-  Remus é muito quieto, Sirius. Ele é bem... reservado, então a presença de alguém novo, principalmente um Black, o assusta. Mas certeza que se você se aproximar dele do jeito certo, ele irá gostar de você.
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Sirius passou o final de semana com as palavras de James na cabeça. "Jeito certo", qual seria o jeito certo de se aproximar de Remus? Sirius não estava acostumado com pessoas reservadas, e muito menos com pessoas que fugiam dele. Em Beauxbatons todos queriam se aproximar dele, seja pelo seu nome, ou pela sua beleza, que realmente era impressionante.
Na segunda, já desesperado, Sirius estava disposto a qualquer coisa para falar com Remus. Ele estava caminhando em direção ao garoto para comentar sobre como a neve de Hogwarts é branca, até avistar Narcisa com duas barras de chocolate na mão, e então tudo clareou em sua mente. Marchou até sua prima que conversava, perto demais, com um garoto de cabelos platinados e uniforme verde.
- Oi Cissa! Vejo que não sou o único Black que está aproveitando Hogwarts. Que tal você me dar uma dessas barras e deixo os dois pombinhos à sós.
- Sirius! -  a loira corou - Esse é Lucius Malfoy, seu pai tem negócios com a família dele. Lucius, esse é meu primo, Sirius Black.
Nessa hora a feição de indiferença do garoto loiro, mudou para um sorriso de escarnio.
- Muito prazer, Sirius. Ouvi falar muito de você, a ovelha branca dos Black. Ou devo dizer colorida? Venho percebendo seus olhares furtivos para o esquisito do Lupin. Talvez deva focar em alguém mais... puro. Você sabe, nós temos que nos unir, manter as tradições de nossas famílias. Georgia Parkinson seria uma escolha interessante.
- Não estou interessado em nenhuma Parkinson, nem em ninguém que seja da sua conta, Malfoy. Continue focado em entrar debaixo da saia de minha prima, e quem sabe vocês não conseguem um casamento arranjado, onde vocês terão o resto da vida para se odiarem, depois que o fogo passar.
Sirius saiu antes que perdesse as estribeiras e desse um soco em Malfoy. Ele odiava essa discussão sobre sangue puros que parecia estar se ascendendo em todo lugar. Sirius não podia ligar menos pra droga de sangue, e também não se importava muito com o que as pessoas achavam de sua sexualidade. Mas o que realmente lhe provocou foi saber que estava fadado a viver sua vida toda com pessoas como Malfoy, e que sua família pensava exatamente igual o sonserino. Sirius desabou na arquibancada, e deixou as lágrimas rolarem por seu rosto, até sentir uma mão delicada em suas costas.
- Desculpe. Você parece um pouco pra baixo, e chocolate sempre me ajuda quando não estou tendo o melhor dos dias.
Sirius levantou a cabeça e deparou com olhos cor de âmbar o encarando curiosos, e uma mão pálida o estendendo meia barra de chocolate.
- Desculpa ser só metade, eu comi o resto assistindo a prova dos dragões, foi realmente emocionante.
Black enxugou as lágrimas rapidamente, enquanto tentava entender o que Remus estava fazendo na sua frente, parado, conversando com ele. Por Merlin! Uma hora atrás ele que estava perseguindo o garoto parecia fugir dele como o diabo foge da cruz.
Saiu de seu transe e percebeu que havia passado tanto tempo perdido em seus pensamentos que Remus estava prestes a ir embora.
- Ei! Desculpe... quero dizer, muito obrigado! - Pela primeira vez em seus 15 anos de vida Sirius Black estava nervoso - Pelo chocolate, você sabe.
O garoto Lupin que já tinha dado alguns passos em direção ao seu lugar de origem na arquibancada, voltou a se aproximar de Sirius, parecendo curioso com o que mais ele tinha a dizer. E a verdade é que o francês estava em pane, não conseguindo acreditar ainda que Remus Lupin estava tão perto dele.
- Você é Remus, não é? Já ouvi James te chamando assim. Não que eu tenha prestado atenção em como ele te chama, particularmente, foi uma coisa mais geral. Ouvi por acaso, você sabe como é. De toda forma, eu sou Sirius.
O loiro deu a risada mais espontânea e bonita que Sirius já ouvira. E mesmo sabendo que o motivo da risada era como ele havia parecido ridículo tentando provar que não tinha nenhum interesse especial em Remus, ficou extremamente satisfeito.
- Eu sei seu nome, James não para de falar de você, só não mais do que ele fala de Lily, é claro - ainda que muito tímido, Remus respondeu de forma muito mais natural - Ele também comentou que você perguntou de mim. Sinto muito ter te feito pensar que você havia feito algo errado.
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Depois que Remus deixara a timidez de lado e Sirius se acostumara com a presença do garoto, eles não se separaram mais. James estava sempre com eles, e parecia muito feliz com a aproximação dos dois. Um garoto baixinho chamado Peter estava sempre com eles também.
Sirius descobriu que os outros estudantes de Hogwarts chamavam o trio, agora quarteto, de Marotos, e que algumas noites eles desapareciam, não contando nem para o jovem Black aonde iam.
Toda vez que Sirius tocava no assunto das fugas noturnas, Remus parecia extremamente desconfortável e James o olhava com um pesar de quem queria lhe contar, mas dava sempre a mesma resposta num tom descontraído:
- Foi mal, cara. Não te chamamos porque achamos que você não gostaria de se reunir com meros mortais pra uma sessão de estudos das matérias inferiores de Hogwarts. Fiquei sabendo que o quinto ano em Beauxbatons é equivalente ao nosso sétimo.
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Como se não bastasse seus amigos, talvez os únicos verdadeiros que ele já havia feito na vida, guardarem segredo dele, Sirius estava cada dia mais apreensivo com o final do torneio chegando, cada dia que passava ele se sentia mais em casa em Hogwarts.
James era como um irmão pra ele, diferente de Regulus, seu irmão de sangue, com quem ele mantinha pouco contato, depois que seus pais começaram a achar que ele poderia ter alguma influência negativa sob o mais novo.  Peter era sempre gentil e o fazia rir em todos os momentos que estavam juntos. E Remus, bom, para ele Remus era a própria definição de lar.
Todos pareciam achar Lupin frágil, menos Sirius. O loiro o fazia se sentir seguro, e também o fazia rir, não como Peter, mas com seu humor sarcástico e sua língua afiada. Mostrava interesse em tudo que Sirius lhe contava sobre a França, mas nunca tocava nos assuntos delicados, como a família Black. Quando Sirius estava triste ele sempre era o primeiro a perceber, e deixava o garoto deitar em seu colo enquanto lhe fazia cafuné e lia um livro.
Sirius sabia que ir embora e deixar Remus seria a coisa mais dolorosa que ele teria que fazer. Mais que os insultos de sua mãe ou os tapas de seu pai, mais do que ter que suportar Bellatrix encher a cabeça de Regulus com ideias estúpidas sobre pureza de sangue. Sirius não queria voltar para aquilo, e seus amigos, por mais que não compreendessem muito bem o que esperava o francês em casa, também não pareciam querer sua partida.
- Vamos te esconder no último dia, Sirius. Você tem que ficar conosco, é a pessoa mais grifinória que já conheci! - James falava com empolgação enquanto passava a mão pelos cabelos rebeldes.
- Não dá, Jay. Por mais que minha família tenha dinheiro, eles jamais gastariam me mantendo aqui na Inglaterra.
-Então fique na minha casa! Meus pais sempre quiseram mais um filho, e você viu as cartas, eles já te amam só pelo que já escrevi sobre você.
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Remus estava tentando ler um livro, mas não pôde deixar de prestar atenção na conversa dos amigos. Na verdade, ele não conseguia não prestar atenção em tudo que envolvia seu novo amigo, Sirius Black.
Ele sabia que Dumbledore poderia ajudar, o diretor havia o ajudado a entrar em Hogwarts, mesmo com seu probleminha peludo. Talvez por isso ele tivesse uma conexão tão grande com Sirius. Ele sabia o que era não se sentir em casa na própria casa, sabia o que era ser considerado um peso pra própria família. Não ia deixar Sirius voltar pra um lugar que não lhe fazia bem.
Falou para os amigos que iria devolver o livro na biblioteca, e recusou educadamente a proposta de Sirius de acompanhá-lo. Ao chegar a porta da sala do diretor, reuniu toda coragem que tinha e antes de bater, a porta se abriu. Uma menina loira com os olhos tempestuosos como os de Sirius saiu da sala, Remus estranhou pois pelo uniforme dava pra ver que era uma aluna da Beauxbatons.
- Senhor Lupin, gostaria de entrar? - o diretor perguntou educadamente.
Remus já estava acostumado com a sala de Dumbleodore, já havia visitado o lugar muitas vezes quando iniciou na escola bruxa, sempre pra tratar de seu problema.
- No que posso lhe ajudar, meu jovem?
-Desculpe lhe incomodar, senhor. Eu queria ver se você pode ajudar um amigo como me ajudou. Ele é da Beauxbatons, mas ele pertence a Hogwarts, tenho certeza que assim que conhecê-lo o senhor vai perceber.
-Deixe eu adivinhar, esse amigo é Sirius Black, certo?
-Sim, senhor.
- Você não é o primeiro a me falar sobre isso, Remus. Estou resolver a situação, vi como o jovem Black se enturmou aqui, e seria uma honra ele ser um aluno de Hogwarts. Mas preciso conversar com algumas pessoas antes, afinal ele não poderia ficar sob minha responsabilidade quando estivesse fora dos terrenos de Hogwarts.
-Os Potter! - Remus falou depressa demais, e logo ruborizou, afinal não podia fazer um compromisso em nome de uma família que não era a dele - Desculpe, senhor. Mas hoje ouvi James falando dessa possibilidade, de seus pais adotarem Sirius.
-Irei conversar com os adultos envolvidos, Remus. E assim que as coisas se resolveram, tanto você, quanto os senhores Potter e Black saberão.
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As semanas seguintes pareciam se arrastar para os Marotos, enquanto todos se preparavam para o natal, e os estudantes estrangeiros se preparavam para voltar para suas casas, James e Sirius bolavam planos para o menor não precisar ir embora, nenhum dos planos envolviam falar com adultos, é claro. Remus parecia distante, e Sirius até chegara a pensar que o garoto ansiava sua partida.
No seu último final de semana em Hogwarts, Sirius já havia desistido e aceitado que teria que voltar para seu inferno pessoal. Não contara a James, pois o amigo se recusava a ser pessimista ou desistir de qualquer coisa na vida, Lily Evas era um bom exemplo. E escreveram uma carta a Remus, contando tudo que o garoto significava para ele, e que mesmo conhecendo o garoto apenas há alguns meses já tinha certeza que o que sentia era amor.
Estava esperando seus amigos saírem do dormitório da grifinória, quando uma professora com o rosto felino e um chapéu pontudo lhe comunicou que o diretor de Hogwarts gostaria de vê-lo e que ela o acompanharia até a sala do mesmo.
-É um prazer, senhor Black - Sirius já havia visto o diretor nos banquetes e assistindo as provas do torneio tribuxo, mas não pode deixar de se sentir nervoso ao falar pessoalmente com o mais velho, ainda mais não sabendo do que se tratava. Mas já imaginava que devia ter algo a ver com a mui antiga e nobre família Black.
-Bom dia, diretor! Caso queira falar de assuntos da minha família, minha prima Cissa está aqui também, creio que ela pode te ajudar melhor.
-Na verdade, senhor Black, creio que o assunto em questão interessa mais a você do que a qualquer outra pessoa nesse castelo. Não ocuparei seu tempo, afinal hoje à noite temos um baile e sei que seus amigos grifinórios estão lhe aguardando. Senhor Black, gostaria de lhe convidar para ser aluno da escola inglesa de magia e bruxaria Hogwarts.
Sirius pensou que só poderia ser uma piada, mesmo assim não conseguia impedir seus olhos de lacrimejarem.
- Claro que gostaria, diretor. Mas como? Minha família jamais permitiria e não posso estudar na Escócia morando na França.
-Tomei a liberdade de adiantar alguns detalhes, senhor Black. Conversei com seus pais, e eles acharam que ter um filho estudando em outro país, passa uma ótima imagem e amplia a possibilidade de negócios na Inglaterra. Quanto aos feriados e férias, eles acharam razoável você passar com os Potter, digamos que será um lar temporário.
Sirius não podia deixar de se incomodar com o fato de seus pais terem aceitado apenas porque seria bom para manter as aparências, e com quanto queriam se ver livre do filho problema. Mas apesar disso, ele estava extremamente feliz, as lágrimas acumuladas em seus olhos já haviam começado a descer, por mais que o garoto tentasse disfarçar.
- Obrigado, diretor! Muito obrigado! Serei o melhor aluno de Hogwarts.
-Pode ir agora, sei que você deve estar ansioso para contar a novidade para os senhores Potter, Pettigrew e Lupin. E não esqueça de agradecer ao senhor Lupin, ele veio pessoalmente me pedir para cuidar do seu caso.
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Sirius aproveitou que seus amigos estavam no salão principal e já ajeitou suas coisas em seus novos aposentos, aproveitou também para vestir seu novo uniforme. Queria dar a notícia em grande estilo.
A caminho de finalmente encontrar os garotos, Sirius esbarrou em Lucius e Narcisa. E apesar de Maloy ter feito a cara de repúdio mais feia que Sirius já vira, Cissa deu um sorrisinho ao fitar o primo nas vestes de Hogwarts.
Remus também sorriu ao encontrar o amigo e entendeu tudo logo de cara, já James e Peter não paravam de pedir explicações. E assim que todas foram dadas, James correu para escrever uma carta agradecendo aos pais, em nome dele e de Sirius. Peter fora conversar com algumas lufanas, na esperança de que uma delas aceitasse ir ao baile com ele. E assim, Remus e Sirius ficaram à sós.
- Obrigado. Dumbledore me disse que você conversou com ele. Obrigado mesmo, Remus. Você não sabe o quanto isso significa pra mim.
-Tenho certeza que dois anos serão suficientes pra me explicar, Black. Também tenho muita coisa pra te contar.
-Então que tal começarmos as confissões com um pedido, você aceita ir ao baile comigo, Remus John Lupin?
E Remus aceitou, não só esse, mas todos os pedidos que Sirius Black lhe faria nos anos seguintes. Os dos outros bailes, o de namoro, o convite para morarem juntos e o pedido de casamento. E Remus também fez seus pedidos, nem sempre foram atendidos, como quando pedira Black para que não lhe acompanhasse nas noites de lua cheia. Jamais deixaram de estar um do lado do outro, e aprenderam juntos, que casa nem é sempre é um lugar, casa pode ser uma pessoa. E eles eram o lar um do outro.

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