Na verdade tenho um abismo por ela inteira... E só parece aumentar.

Eu simplesmente não consigo tirar os olhos dela.

//

Estamos de volta na casa dos pais dela, andamos lado a lado em silêncio. Lá dentro o único barulho que se ouvia era o da televisão, olho para a sala e vejo Gabriel deitado no colo de Fred. Mônica não está por aqui, mas nem sei se quero saber onde ela está. Se for para ela ficar chateando Bianca, quero ela o mais longe possível.

— Quer descansar?

— Um pouco.

Admito porque é a verdade, me sinto cansada, tanto por causa do almoço e a caminhada no sítio depois quanto com a descarga de emoções que tive com a dança e os beijos que troquei com Bianca. Eu só preciso dormir por algumas horas e acordar renovada.

— Vamos subir então, vou te mostrar seu quarto. — Subo junto dela, andamos em silêncio até parar em frente a terceira porta da esquerda naquele extenso corredor. — Aqui, eu vou ficar nesse quarto da frente e o Gab se você quiser pode ficar com você, ou comigo, sem problemas.

— Podemos revezar.

Sugiro e ela sorri, acenando com a cabeça. Ficamos nos olhando durante alguns segundos, não precisamos dizer nada uma para a outra. Se antes a presença dela me deixa desconfortável, hoje me deixa segura. Bianca me transmite uma segurança imensa, do lado dela eu me sinto protegida. Incrível como ela causa isso em mim.

— Então eu vou lá pra baixo... Se quiser tomar banho, fica à vontade, okay?

— Okay.

— E... — Ela pressiona os lábios e fecha os olhos por alguns segundos, quando volta a abri-los eles estão brilhando, intensos. Bianca segura meu rosto com delicadeza, ela aproxima a boca da minha com cautela, como se estivesse pronta para se afastar caso eu a rejeitasse. Quando me beija, suga meu lábio inferior com calma, bem devagar. Arfo em sua boca, Bianca pressiona os dedos em meu maxilar e sela nos lábios. — Bom descanso, amor.

Sussurra, sorrindo em seguida. Sorrio da mesma forma e vejo ela se afastar, ouço seus passos se distanciarem, mas continuo ali, parada. Levo meus dedos até minha boca, toco meus lábios, sentindo eles formigarem ainda.

Ah, Bianca Andrade ... O que você está fazendo comigo?

//

— Fique por mim...

Me mostre que você ainda me merece, Rafaella.

Sabe aquela sensação de sonhar que se está caindo? É assim que estou me sentindo. Minha respiração está descompassada, eu sinto o suor por todo meu corpo, a blusa que estou vestida parece grudar em minha pele a cada vez que respiro para recuperar o fôlego. Engulo seco, arfando olho em volta... Tudo está escuro, ainda estou na casa dos pais de Bianca e não tem ninguém aqui.

— Malditos pesadelos!

Murmuro para mim mesma e volto a deitar na cama, olho para o teto forrado por madeira. No centro o lustre cheio de pedrinhas me chama a atenção, me distraio olhando para ele e só volto a realidade ao ouvir o clique na porta, em seguido um rangido. Levanto o pescoço para ver quem é e não enxergo ninguém de primeira, me estico mais um pouco e só então vejo Gabriel adentrar o quarto devagarzinho, como se não quisesse ser notado. Ele ainda não notou que estou acordada, em seguida vejo Bianca também adentrar o quarto, ela faz o mesmo que nosso filho e entra em silêncio. O que diabos eles estão aprontando?

Mãe?

Estou aqui, filho. — Bianca responde ao sussurro de Gabriel. Rapidamente me deito corretamente e fecho os olhos, mas abro uma pequena fresta para poder ver o que eles iriam fazer. — Cadê o chantilly?

O quê?

Pelo canto do olho vejo a sombra de Bianca, em seguida ela liga o abajur e posso então ver melhor os dois. Tento me manter parada, para que eles não notem que já estou acordada. Gabriel entrega para Bianca a lata em sua mão, ela sorri para o pequeno e retira a tampa da lata.

Quando ela acordar você sai correndo, entendeu? — Bianca olha para o meu rosto e com toda calma do mundo pega minha mão, abre a mesma, deixando minha palma a sua mercê, logo ela espirra um monte de chantilly em minha mão. Tenho que me controlar para não me encolher ao sentir aquele negócio gelado em minha mão. — Quando eu chegar no três, ok? Um, dois, trê-

Corto sua fala ao segurar em sua nuca, abro os olhos e Bianca me olha com os dela arregalados. Sorrio diabolicamente e antes que ela possa correr, lambuzo toda sua cara com o chantilly que estava em minha outra mão. Ouço a porta ser aberta e alguns passos no corredor, o pequenino fugiu, mas eu posso pega-lo depois. Bianca se solta de mim e vai andando para trás, esfregando seu rosto com as mãos freneticamente.

— Que bonito, não é mesmo? — Minha voz sai assustadoramente calma, retiro o cobertor de cima das minhas pernas e me viro, levanto da cama e vou na direção de Bianca, que se encolhe na parede. — Que covardia da sua parte me atacar enquanto eu estou dormindo, não acha?

— E-eu... Foi ideia do Gabriel, diz pra ela fi... Ué cadê ele?

— Foi embora.

— Traidorzinho. — Resmunga e passa as mãos sujas com chantilly em sua bermuda. Continuo a olha-la, tento fazer meu melhor olhar sério e quando ela me encara, eu consigo ouvir o som da saliva sendo engolida por ela. — Eu juro que não foi ideia minha.

— Eu vou te dar cinco segundos para sumir da minha frente. — Rosno entredentes, Bianca continua paralisada, parece surpresa ao me ver falar daquela forma. — Um, dois, três... Boa garota.

Assim que ela passa como um raio através da porta, eu começo a gargalhar, mas com bastante vontade mesmo. Aquela situação era tão engraçada e cômica, por um momento me senti no colegial outra vez, quando Bianca aprontava pegadinhas para cima de mim e depois eu saia correndo atrás dela para matá-la.

Pensando por um lado as coisas não parecem tão diferentes assim, mas isso não é ruim... De forma alguma.

Stupid Wife (RABIA)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora