-Mas eu perdoei. Eu esqueci. Porém, não me esqueci de você.

Arregalei os olhos.

-Eu só que você olhasse para mim também. O que há de errado nisso? O que há de errado em querer alguém?

David, muito devagar, caminhou até a cama e se sentou na ponta dela, sem olhar para mim.

Não sei como e nem da onde eu conseguia encontrar forças para pensar, mas minha cabeça já trabalhava de várias formas para tentar convencer ele de sairmos dali.

-Nós podemos tentar.

Tentei.

-Sim, nós podemos tentar. Mas não aqui, não desse jeito...

Silêncio.

-Ainda temos tempo, David. Somos jovens. Eu e Harry terminamos e... -respirei fundo- Podemos sair daqui e conversar.

David permaneceu em silêncio, olhos vermelhos sobre os meus agora. Eu tremia, mas tentava não demonstrar.

-As coisas começaram errado entre nós, mas... Eu posso... -raspei a garganta- Eu não sei, eu posso tentar. Mas fora daqui.

Ele balançou a cabeça levemente, em sinal negativo. Dei um passo para frente, encostando a canela na cama.

Ele desviou o olhar e eu também, notando que a arma estava na cômoda bem próxima de mim agora.

Olhei para ele de novo e então de volta à arma. Eu certamente estava enlouquecendo. Os anjos com certeza estariam vendo meus pensamentos agora e me repreendendo de longe.

Mas eu precisava. Precisava tentar. Precisava sair.

-Nós somos adultos, eu sei que podemos resolver...

Um passo para trás. Olhos no revólver. Suor na testa. Olhos no David. Sorri fraco.

-Eu posso esquecer, você pode esquecer e então começaremos de novo...
-Meu emprego também?

Ele perguntou, me fazendo assustar e voltar toda a minha atenção à ele. David apoiou um dos braços na cama e eu respirei aliviada, ele não havia notado.

Um passo para trás. Dois para o lado.

-Eu posso conversar com o Harry e convencê-lo...
-Oh, ele nunca me perdoaria pelo o quê eu fiz.

Parei. Meu peito pulava, minha respiração era o único som daquele lugar frio e escuro.

-Eu o convenço. Mas precisaria que confiasse em mim, agora.

Silêncio.

-Eu precisaria que quisesse voltar atrás...

Um último passo e eu estava de costas para ela. David me olhava e desviava várias vezes, ele parecia como alguém que usava drogas. Várias delas.

Talvez tivesse usado. Eu sentia tanto medo naquele momento, sentia o sangue correndo por entre os meus braços. Sentia tudo na pele.

Minha garganta estava seca e doída de tanto segurar. De tanto engolir.

-É tarde demais, eu já estraguei tudo. Fala sério! -apontou- Eu estou com uma das coisas mais importantes para o Harry agora.

O olhei, levando meus braços para trás bem lentamente.

-Você.
-Mas e se... E se eu quisesse... Você?

Raspei a garganta.

-Tentar com você? -tremi-
-Comigo? Eu e você?
-Sim quero dizer... Assim que saíssemos e fizéssemos aquilo tudo...

End Of The Day - 1Where stories live. Discover now