Let's go for a walk.

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Passei o dedo indicador por ela e senti meu peito queimar mais uma vez.

Desde o primeiro dia eu sonhava com o sorriso que ele carregava. Me lembrava de dizer às minhas amigas sobre como ele tocara o meu coração tão rápido.

Elas insistiam dizendo que eu deveria conversar com ele, começar de algum lugar, mas eu estava com tanto medo. Eu sabia que ele viraria minha vida de cabeça para baixo.

Eu sabia que ele se espalharia pelas minhas veias como uma doença rara. Eu tentei com todas as minhas forças evitar.

Eu gostaria de nunca ter falado, gostaria que fôssemos dois estranhos compartilhando olhares, sorrisos e algumas palavras por aqui ou por ali.

Como eu gostaria que ele nunca tivesse sorrido ou que eu nunca tivesse saído da escola naquele horário e naquela tarde quente. Ou até mesmo que ele ainda fosse o cara famoso e eu a professora que não teve chances.

Oh, como seria mais fácil. Limpei as lágrimas.

Harry me fez sentir a garota mais feliz da Terra por todos os dias em que estivemos juntos.

Era o que ele era. Leve, doce, especial. Quando se chateia, deixa as coisas fugirem um pouco do controle. O que era compreensível, desde que não atingisse outra pessoa.

Meu desejo da noite era que ele não tivesse se tornado o meu quase.

Quase amor.

Quase deu certo.

Que a minha vida toda não fosse um grande quase. Que o meu pai, o meu doce e amado pai, não tivesse se tornado um quase.

Passei alguns minutos no chão, sem me mover, apenas sentindo a dor da perda borbulhar em cada cantinho meu.

...

Trinta minutos. Eu estava sozinha em meu camarim, penteando o cabelo sem qualquer tipo de ânimo.

Já havia passado maquiagem duas vezes e prometido a mim mesma que não choraria de novo, eram caras demais para aquilo.

Como em todas as noites, Bianca passou pelos camarins distribuindo garrafas de água. Era importante para as cordas vocais, e para nos manter vivos também.

Metade da garrafa já havia ido embora enquanto eu encarava o papel em branco na minha perna. O que eu poderia escrever? Como eu poderia me livrar da dor de não tê-lo?

Eu sentia meu pensamento lento, como se meu corpo inteiro estivesse me dizendo para deitar. Talvez eu estivesse tentando preencher o vazio que ele deixava.

Posicionei a caneta e deixei minhas mãos fazerem o trabalho.

"Nós costumávamos ser amantes, éramos amigos, nós nos conhecemos uma vez.

Quando nosso tempo tornou-se apenas uma memória?

Quando nos tornamos ausência?

Quando vamos finalmente parar de nos culpar?"

Deixei a caneta e o papel na mesa à minha frente ao levar as mãos imediatamente à cabeça.

-Nossa...

Gemi para mim mesma. Fechei os olhos pela dor que se instalou e estiquei os braços, tomando os últimos goles daquela água gelada.

Foi o meu primeiro reflexo. Meu coração batia lento, meus olhos pesavam consideravelmente e meu corpo relaxava naquela cadeira.

O último barulho que ouvia antes de apagar por completo fora o da garrafinha ficando totalmente sem peso e cair no chão.

Pov David

Vinte minutos e eu apenas esperava o sinal.

Bianca passou e me entregou um crachá com o meu nome e foto, para não dar problemas.

Eu olhava o meu relógio de dez em dez segundos, a ansiedade corroía o meu corpo. Meu celular estava desligado e minha roupa era neutra, chamar atenção era o que eu não queria.

Fiquei em estado de alerta quando escutei passos vindo até mim, mas respirei fundo ao ver que eram dela.

-Mesmo lugar de ontem, você tem quatro minutos, vou estar próxima ao carro esperando.

Ela falou baixo, acenti com a cabeça e tentei não infartar do coração naquele minuto. Me levantei da cadeira e olhei em volta por um instante em que minhas pernas travaram, pra ter certeza que não haveria ninguém.

-David, agora.

Eu fui. Andei como se nada estivesse acontecendo e cheguei até as portas fechadas. Bianca disse que não haviam câmeras, eu apenas confiei.

Parei em frente à porta dela e segurei na maçaneta bem devagar, sentindo o meu coração pesar duzentos quilos em meu peito. A porta de Harry estava logo ali.

Girei a mesma e empurrei a porta com todo o cuidado do mundo, entrando de uma vez. A fechei com o mesmo cuidado e, quando me virei, ela estava deitada.

Me aproximei olhando em volta, certificando-me que éramos só nós dois ali. Lauren parecia linda, como de costume.

A garrafinha onde eu havia colocado três do remédio para dormir estava no chão, aberta, vazia.

-Oh, Lauren...

Acariciei o seu rosto completamente imóvel. Notei que havia um papel à sua frente, o trouxe até mim.

Era para Harry, como sempre. O joguei de volta, sem cuidados. Uma onda de estresse, ansiedade e até raiva tomaram conta naquele momento. Eu não tinha medo mais.

Peguei a garrafinha e a coloquei em minha bolsa preta, que servia para aquilo, e levantei um dos braços dela.

Minhas mãos tremiam e minha testa suava como nunca antes. Levantei um de seus braços e, com muito esforço, a peguei da cadeira e passei o corpo dela pelo meu ombro direito.

A deixei pendurada para que eu a carregasse mais depressa. Apoiei minhas mãos em suas canelas e olhei em volta mais uma vez, abrindo a porta com muito cuidado. Saí e deixei tudo como encontrei.

Quase tudo.

Caminhei pelo corredor novamente sentindo as batidas do meu coração falharem e o peso dos meus passos contra o piso.

Passei uma das mãos que estava livre na testa, limpando o suor frio e sorri ao ver Bianca com os olhos arregalados para nós.

End Of The Day - 1Where stories live. Discover now