-Bem, obrigado. Obrigado por me receberem.
-Nós que agradecemos.

Sorri para eles. Eu falava com uma pessoa, mas a sala estava cheia. Estávamos sentados em uma mesa comprida.

Coloquei os meus fones e posicionei a garrafa de água próxima à mim.

-Da última vez que veio aqui, vocês eram cinco. Agora, só um. Como se sente?
-Am...

Me aproximei do microfone de novo.

-É diferente, você sabe, em uma hora é bem barulhento e... De repente, nem tanto. Mas eu gosto, eu gosto do que estou fazendo agora.

Ele mexeu no papel, acompanhei com os olhos.

-Nós entendemos, e gostamos também a propósito. E sobre Dunkirk? Você viu que o filme foi indicado a oito Oscars?
-Oh, eu soube sim, tive muita sorte.

O sorriso cresceu em meu rosto.

-É a sua primeira vez atuando, você esperava por algo assim? Oito?
-Não mesmo. -ri- Eu não esperava nem ser chamado.

Eles riram.

-Parece incrível eu ter tido a oportunidade de fazer parte de algo tão grande com tantas pessoas talentosas.
-Ficamos felizes por você, parabéns pelas conquistas.
-Muito obrigado.

Sorri gentil.

-Separamos algumas perguntas de fãs para você também, podemos?
-Claro.
-Ótimo, então... Vamos lá. -me olhou- Harry, qual é a primeira e a última coisa que faz no seu dia?

Respondi quinze perguntas. Era divertido, eles brincavam com tudo mas por mais que eu tentasse me concentrar por completo, eu não conseguia.

Tudo o que eles falavam me lembrava daqueles olhos quase esverdeados me dizendo um mundo de palavras, mas sem soltar um som para mim.

E queima a. A vida real queimava. Olhei para os lados algumas vezes e Mary estava lá o tempo todo, sorridente e fazendo sinais com as mãos para mim. Eu a adorava.

-Infelizmente estamos quase finalizando, mas...

Sua voz me trouxe ao mundo de volta.

-Queríamos te perguntar sobre algumas fotos que andaram dando o que falar por aí nas últimas semanas.

Temi ser sobre ela. Juntei minhas mãos em meu colo e olhei de canto para Mary, sinal positivo mais uma vez.

Respirei fundo ao ver ele pegando várias fotos. O locutor as virou para mim e as passou devagar, para que eu visse.

Era o que eu não precisava ver. Minha garganta travou e meus olhos marejaram ao ver as fotos e lembrar exatamente de quando aconteceram.

Ela usava calça preta, eu também. Estávamos combinando. Ela tinha o sorriso grande, parecia estar me contando alguma coisa engraçada. Não duvido que de fato estava. Eram fotos bonitas.

Era o sorriso que derretera o meu coração. Lembro-me ainda de quando a vi pela primeira vez, fez meu coração bater mais rápido e eu sabia o que viria depois.

Eu sabia que estava amaldiçoado. E agora eu sabia que nunca encontraria uma cura para quebrar aquele feitiço.

Não aparentávamos nenhum contato físico nas fotos, porque eu sabia da possibilidade de ter alguém ali. Mas era visível a proximidade, a naturalidade entre nós.

Meses atrás, mas que hoje se pareciam como anos atrás.

Fato engraçado: eu ainda me lembrava de tudo sobre aquele dia.

Fato não tão engraçado: eu nunca me esqueceria.

-E então?

De volta à realidade, mais uma vez. Passei as mãos rapidamente em meus olhos, a fim de secar qualquer lágrima que estivesse querendo me entregar.

-Vocês já foram vistos juntos mais de uma vez e... Harry, você está apaixonado pela sua colega de banda?

Sim.

-Há algo mais do que amizade entre vocês?
-Hum...

Ele me olhou fundo nos olhos, eu desviei. Essas eram as partes em que eu não me divertia. As partes invasivas. Eu ainda detestava ver a vida dela sendo invadida daquela forma. Como a minha.

Meu coração estava partido e transparecia pelo meu rosto. Abaixei a cabeça por um segundo e soltei todo o ar pesado em meu peito.

Eu havia feito de tudo para protegê-la, para não machucá-la. Eu havia lutado uma batalha inteira por ela. E eu perdi.

-Harry? Vamos lá, diga!
-Ela é muito especial. Tenho sorte por conhecê-la e tê-la na banda.

Respondi de uma vez.

-Mas não, nós não temos nada.

Porque parecia tão errado se era verdade?

End Of The Day - 1Where stories live. Discover now