-E se você e a mamãe forem morar comigo?

Ele me olhou.

-Seria legal,huh?
-Uhum.

Encostei sua cabeça em meu peito, o abraçando, chorando baixinho. Doía muito.

-Descanse um pouco, você acordou cedo.

O deitei na cama, me apertando ao seu lado. Minutos depois sua respiração lenta me disse que ele já cochilava. Apoiei ambos os braços na cama e saí na ponta dos pés. Quanto mais ele dormisse, melhor.

Minha mãe estava deitada no sofá, tinha o olhar distante e as mãos juntas em uma oração. Esperei com que ela me notasse.

-Comeu?

Me sentei ao seu lado ao vê-la confirmar com a cabeça, em completo silêncio.

-Eu queria poder fazer algo para mudar isso.
-Filha...
-O meu peito arde, mãe. Mal consigo respirar. Eu não consigo ver isso melhorando.

Abaixei a cabeça, em silêncio.

-Vamos pra Nova York comigo. Venham morar comigo. Por favor.
-Você não ficará lá...

Meu coração doía.

-Vai ser melhor mãe, cabe nós três lá.

Ela tentou sorrir. Eu sabia que não iria.

O clima era ruim, frio e pesado. Ficávamos longos minutos sem dizer uma palavra sequer.

Lágrimas de pânico e desespero caíam constantemente sobre minha bochecha, sobre as dela também.

-Você acha que devemos separar as coisas dele?

Ela dizia com dificuldade. Era muito difícil.

-Eu acho que sim, podemos guardar algumas, doar outras. Eu ajudo.

Talvez não devêssemos ter encarado aquilo naquele mesmo dia. A porta foi aberta e eu já podia sentir uma energia pesada sobre mim. Falta de ar. Tontura. Dor. Pânico. A cama estava arrumada, mas tinha uma calça jogada ali. Provavelmente por ele. Meus olhos lacrimejavam.

Posicionei algumas caixas no chão do quarto e minha mãe desabou primeiro. Ela tinha aquele choro doído, machucado, alto.

Ela tirava peça por peça dos cabides, cheirando cada uma delas. Como se realmente estivesse se despedindo.

Me sentei silenciosamente no chão e abri a porta que dava para os sapatos. Cada sapato na caixa, uma oração diferente.

Guardei três dos sapatos e a fraqueza tomava conta de novo. Com as pernas cruzadas, apoiei meus cotovelos escondendo o rosto. Eu ardia em raiva, em tristeza, em arrependimento.

-Podemos continuar depois...
-Não... -limpei as lágrimas- Vocês vão voltar comigo, esse é o certo a se fazer.
-Não podemos... O trabalho, a escola...
-Então vamos fazer a mudança. Vocês não podem ficar aqui assim.

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O dia em si havia sido o pior. Quando eu não chorava, estava tentando fazer alguém parar de chorar.

A casa estava literalmente vazia. Eu não queria ficar nem mais um minuto ali. Deitada na minha antiga cama, todo o tipo de pensamento invadia minha cabeça.

Senti o celular vibrar debaixo dos travesseiros, apenas o coloquei no ouvido. Sem falar, sem abrir os olhos.

-Lauren? Estou ligando para saber como você está.

Ah, a voz bonita que eu tanto gostava.

-Harry! -sorri-
-Eu sinto tanto pelo que aconteceu. Passei o dia criando coragem para ligar... Eu sinto muito. Muito.
-Eu... -suspirei, sentindo as lágrimas vindo- Eu nem sei o que dizer. Está sendo tão melancólico e horrível. Horrível. Estou na minha cama antiga agora e tudo o que sinto é tristeza profunda. Não consigo dormir. Eu sinto saudades dele.
-Eu sei meu bem, eu sei... Eu sinto muito. Para o quê precisar, eu estarei aqui.

Fechei meus olhos.

-Você e sua família podem contar comigo para o que precisarem, eu estarei aqui.

Fiz que sim com a cabeça, como se ele pudesse me ver.

-É egoísmo te pedir isso agora, mas fique bem. Está doendo em mim também.

Silêncio.

-Ou melhor, tenho uma ideia melhor. Eu vou ajudar a fazer tudo ficar bem.

Sorri com os lábios, ele era luz.

-Você têm ideia do quão gentil é? Você provavelmente tem mil e um compromissos agora e ainda assim ligou para mim.

Por um pequeno momento, eu deixava a dor de lado.

End Of The Day - 1Where stories live. Discover now