O Que Restou - OSNF

Sentimentos

O que foi essa última missão? Eu ainda não acredito em tudo o que acabou de ocorrer... Quando acreditei por um momento que finalmente a nossa equipe iria por um fim nesses planos dos merdinhas dos exoterroristas uma criatura horrenda aparece e nos dá um choque de realidade. Ao visualizar o que estava acontecendo na caverna e ver aquele lodo se esgueirando para o corpo morto do Ferreiro, todos puderam ter a certeza de que nós estávamos fudidos.

Era pra eu ter feito algo, mas naquela hora eu congelei, não conseguia me mover de jeito nenhum. Era uma visão horrível. Essa coisa tinha poder mais do que suficiente para acabar com todas as nossas esperanças. Eu olhava para ela e não via nada mais do que a morte. O vazio no seu olhar me causava arrepios e acho que eu nunca havia sentido tanto frio em toda a minha vida.

Liz teve um reflexo muito bom, puxando com grande destreza sua pistola sinalizadora e atirando contra aquela besta, porém aquilo pareceu nem ligar para tal ato, apenas virando seu olhar amedrontador para a mesma e a pegando pelo pescoço de forma grotesca.

Acho que foi nessa hora que meu cérebro ativou. Liz acabara de ser segurada pela criatura e começou a virar um vulto, ela se movia rapidamente fazendo diversas ações. Eu não conseguia compreender o que estava acontecendo.

- "LIZ? QUE MERDA É ESSA? O QUE QUE ESTÁ ACONTECENDO?" - gritei, puxando a minha arma para tentar em um ato desesperado parar aquela coisa.

Nada. Nem se importava com os tiros. Aquela coisa era forte demais. Eu não sabia o que fazer, então minha única ideia foi correr um pouco longe da criatura para sair de seu campo de visão.

Por sorte, Thiago consegue desesperadamente atirar contra o bicho que agora largava Liz no chão e aí que eu pude perceber o quão poderoso era aquele ser na nossa frente. De longe, consegui enxergar Liz, porém ela estava com seus cabelos brancos e parecia levemente ter algumas rugas, aparentando ter envelhecido alguns anos. Ver aquela cena me deixava cada vez mais chocado e com medo, eu deveria ter me movido, tentado queimar esse lugar todo logo que vi as paredes se movimentando de maneira estranha.

Mas o pior ainda estava por vir. Enquanto todos estavam focados em como derrotar aquele ser intocável, vejo de canto de olho uma sombra alta segurando algo em suas costas pulando. Ao olhar mais atento percebo que é Kenan, juntamente com a mochila cheia de explosivos. Ele realmente não parecia mais ser uma pessoa sã. Estava rindo alto enquanto cantarolava algo e seus dedos estavam muito perto de alcançarem o botão que explodiria tudo. Joui até tentou agarrá-lo, mas o cara, mesmo tendo sua aparência física de um velho maluco, conseguiu desviar dos braços de Joui e seguiu saltitando para a aberração.

E lá estava eu, entrando em conflito com a minha mente observando Kenan se aproximar cada vez mais daquele botão que causaria uma grande destruição de todos. A única forma de nós sairmos vivos daquela enrascada era parando o velhote. O problema é que para pará-lo, era necessário matar o mesmo. Eu definitivamente não queria fazer isso. Pensei em algumas maneiras de contornar aquela situação muito rápido, mas todas acabavam com a morte de todos ali presentes. Eu estava relutante, tinha que ter outro jeito. Ele trabalha com a Ordem, a gente só está aqui porque viemos atrás da Equipe Kelvin para salvá-los e agora eu estava de frente com o único sobrevivente indo direto para a sua morte e a morte da minha equipe.

Então, em um ato inconsequente e com lágrimas nos olhos, eu puxei aquele gatilho em direção a sua cabeça. Por pouco ele não aperta o botão. Eu não tive outra reação. Não tive nem tempo para processar que eu tinha acabado de cometer um assassinato. Eu sei que foi um ato de vida ou morte, porém aquela culpa eu carregaria para a minha vida. Eu acabei de matar um inocente. Acabei de fazer exatamente o contrário que se deve fazer na Ordem. Nós íamos em missões para fazer com que menos inocentes fossem mortos por criaturas paranormais e eu simplesmente matei aquele inocente, aquele que estava lutando justamente pela mesma causa.