– Talvez tenha sido o destino não acha? – perguntou ele.

– Acredita mesmo nisso? – respondeu ela.

– Tirando o fato de que eu não posso voar o resto eu acredito, nada é por acaso, tudo tem sua justificativa – disse ele.

– Você diz que não pode voar, como pode ter tanta certeza disso? – questionou ela.

– Cresci assim, meus pais sempre aparavam minhas asas, eles diziam que o fato de ter nascido com elas não queria dizer que eu poderia voar, então nunca tentei – respondeu ele.

– Deveria, acho que você consegue, afinal de contas suas penas estão grandes de novo – reparou ela.

– Talvez um dia, mas hoje não, é melhor você descansar, assim vai melhorar mais rápido – disse ele.

O tempo passou e os dois engataram um romance, Miguel estava feliz pois havia encontrado uma companhia para alegrar os seus dias, a Dinah nem tanto assim, por mais que ela gostasse dele, o fato dele sempre fugir da tentativa de voar a incomodava bastante.

– Miguel quando vai deixar o medo de lado e tentar voar? Eu adoraria ver esse momento, voa o mais alto que puder, usa as asas que nasceram com você, faz isso por mim – pediu ela.

– Um dia eu faço isso, prometo mas hoje não – respondeu ele.

– Quando Miguel? – perguntou ela.

– Um dia apenas, não coloco datas, apenas um dia – concluiu ele.

Miguel nunca falou a Dinah, mas tinha medo de tentar voar, para ele isso era impossível, a ideia de que ele era um homem normal estava enraizada na sua cabeça, não havia ninguém que o convencesse do contrário.

Passou um tempo e chega a cidade um bandido que havia fugido da mesma anos atrás, seu nome era Lezaza, ele era temido pela população mais velha da cidade que temia pelas suas vidas, ao chegar na cidade, ele logo observa o armazém, e lá resolve entrar quem estava na hora era Dinah.

– O que o senhor deseja? – perguntou ela.

– Um pouco de pólvora e fumo – respondeu ele.

– O fumo tem, mas a pólvora não – disse ela.

Lezaza não prestou atenção ao que ela dizia, a beleza de Dinah também o havia cativado.

– Perdão, o que a moça havia dito mesmo? – perguntou ele.

– Não tem a pólvora, mas temos o fumo – falou ela.

– Tudo bem, vou levar, me responda como uma moça tão linda como você desperdiça sua beleza neste armazém? – questionou ele.

– O armazém e do meu namorado, só dou uma ajuda ele, ficou agradecida pela parte da beleza, mas tenho que ressaltar, não desperdiço nada ficando aqui, pelo contrário eu adoro isso tudo – concluiu ela.

Ao sair do armazém, Lezaza foi caminhando até a estrada que levava a casa de Miguel, por lá ele encontrou o próprio observando os pássaros, ao notar suas asas ficou surpreso e logo se dirigiu a ele.

– É a primeira vez que vejo um homem com asas – disse ele.

– Elas te assustam? – perguntou Miguel

– Não, já vi a morte de perto tantas vezes que um homem com asas não é nada, me diga porque não voa como os pássaros que observa? – perguntou ele.

– Porque as asas que eu tenho não servem para voar – respondeu Miguel.

– Não acredito – disse ele.

– Pode acreditar, eu adoraria voar mas não posso – respondeu Miguel.

– Você ao menos tentou? – perguntou ele.

– Não, por isso que eu não posso, eu tenho medo – respondeu Miguel.

– Um dia terá que perder o medo não acha? – disse ele.

– Talvez, até lá vou levando essa história desse jeito mesmo, minha namorada insiste para que eu tente voar, mas sempre adio o dia – disse Miguel que foi embora logo em seguida.

– Um cara desses não merece a namorada que tem, como pode oferecer segurança a alguém se tem medo de algo que nasceu com ele – pensou Lezaza.

Um tempo depois, Lezaza ainda continuava a observar Dinah no armazém, nesse período ele já havia descoberto que ela era namorada de Miguel e tentava entender porque uma mulher tão bonita havia escolhido um homem tão fraco.

– Um dia a Dinah será minha, ela merece um homem de verdade e não um fracassado – pensou ele.

Um dia Miguel e Dinah estavam voltando pra casa e Lezaza surgiu com uma arma na frente deles.

– Ninguém se mexe! Eu não quero dinheiro, eu só quero ela! – gritou ele.

– Miguel faça alguma coisa, eu não quero ir com ele – suplicou ela.

– Ele não vai fazer nada, veja a cara de criança amedrontada dele, Miguel não é digno de você, venha comigo que eu sim sou valente – disse ele.

Miguel assistiu à cena sem esboçar uma reação sequer, Lezaza então debochou mais ainda.

– Como é que fica homem de asas? Perdeu a língua também, fala alguma coisa rapaz! – disse ele rindo.

– Não leve a Dinah, eu te dou o que quiser! – disse Miguel.

– Não é dinheiro que me interessa, é ela meu caro, desde o dia que eu pisei no seu armazém, aceite que ela não é pra você, uma mulher bonita dessas merece alguém que não tem medo da vida – disse ele.

– Você não vai ganhar o amor dela assim desse jeito – disse Miguel.

– Hum interessante... Vamos deixar que ela decida! – disse ele.

De um lado Miguel, do outro Lezaza e Dinah ao meio, ela tinha que escolher entre um dos dois.

– E então? Quem você escolhe Dinah? – gritou Lezaza.

– Eu escolho... – disse Dinah com medo.

Dinah apesar do medo não teve dúvidas da escolha e quis ficar com Miguel, ao notar ela ir em direção a seu amor, Lezaza então atirou nela pelas costas.

– Dinah não! – gritou Miguel desesperado.

– Realmente ela era uma mulher formidável, corajosa até para morrer – disse Lezaza.

– Porque você fez isso seu desgraçado? – perguntou Miguel com ódio nos olhos.

– É simples, porque a morte só escolhe os corajosos, eu poderia ter te matado e ficado com ela, mas nem a sua alma é digna da bala do meu revólver – disse ele.

– Porque eu não sou digno da bala de sua arma? Você matou a mulher que eu amava, quero morrer também – disse Miguel chorando.

– Você se recusou a voar por medo, viu seu amor ir embora e não fez nada me diga porque acha que a morte te quer? Eu disse rapaz ela só aceita corajosos, sua namorada ao te escolher ignorou o fato de eu estar com um revólver na mão, foi corajosa em sua escolha, é disso que a morte gosta, de pessoas valentes – disse Lezaza que concluiu – De homens como você a morte desdenha, pois a vida lhe dará o castigo que merece.

Ele foi embora logo após o crime, Miguel muito abalado ainda, teve forças para enterrar o corpo de sua amada, lembrando sempre das últimas palavras de Lezaza.

Os anos passaram, as penas das asas de Miguel haviam caído, ele jamais voou e nunca encontrou outro amor, ele então finalmente compreendeu o que Lezaza havia dito no passado.

– A morte realmente gosta dos fortes, por isso que nunca me levou, fui tão fraco que nunca acreditei que podia voar, não lutei para salvar o amor da minha vida e ainda vi o seu algoz ir embora como se nada tivesse acontecido, realmente a morte só aprecia os corajosos, os fracos como eu, a vida castigou dessa maneira, sozinho e com a sensação de que joguei toda uma história fora – concluiu Miguel.

FIM

Miguel das AsasWhere stories live. Discover now