CAPÍTULO 7 - PALAVRAS PRONUNCIADAS NÃO VOLTAM

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Em minha confusão mental, busco uma saída pouco sofisticada e bastante covarde: acusar outra pessoa. E o faço com a pessoa mais errada que poderia.

— Tá vendo, Débora? Eu sabia que esse fim de semana na praia ia dar confusão. Imagine se eu não estivesse aqui para cuidar da Betina... — solto minha mais preciosa pérola de sabedoria.

— Como é que é? Você está querendo me culpar pelos atos da Betina? — esbraveja.

Débora põe a mão no nariz, fecha os olhos e respira fundo. Um sinal claro de que está tentando se controlar. Após um momento buscando sua luz, ela volta num tom de voz mais baixo, mas muito mais amedrontador.

— Parece que você não escutou nada do que conversamos lá na praia. Ou são os seus ouvidos ou a sua mente que é muito tapada.

Com a mão na cintura, encarando-me bravamente, ela continua:

— Vou falar só mais uma vez e não me meto mais nessa história. Se quer fazer um bem a ela, deixe a Betina crescer e fazer suas escolhas.

Depois, vira-me as costas, indo em direção à entrada da casa.

— Pra mim, chega. Vou subir para dormir meu sono bem tranquilo de consciência limpa e deixar que vocês se entendam.

Nesse momento, o André finalmente sai de sua mudez.

— Seu Gustavo, tenha certeza que quero muito bem à Betina e que jamais faria nada que ela não quisesse ou que a mogoasse — ele faz sua defesa, encontrando minha expressão ainda pouco amistosa.

Enquanto o filho fala, Débora dá uma parada e espera para ver o desfecho, ainda de costas para mim.

Betina se desvencilha do André e avisa, de uma forma meiga:

— Gato, desculpa pelo meu pai. Ele ainda precisa crescer. Vou ficar pra conversar com ele. Melhor você subir também. Amanhã a gente se fala, tá?

Ele me desculpar? Ora bolas. Ele quem estava ralando na minha filha e eu é quem devo ser desculpado?

— Tá bem, gatinha. Se precisar de qualquer coisa, é só me chamar — ele responde.

— Ela não vai precisar de nada. Eu sou pai dela e cuido dela — intrometo-me.

André apenas me olha desconfiado e despede-se:

— Boa noite, seu Gustavo.

Com essa frase lacônica, ele se junta à mãe e ambos somem para o interior da casa.

Volto-me para Betina e encontro minha filha de braços cruzados em frente ao peito com a cara de poucos amigos. Já sei que lá vem tiro, bomba, explosivos...

— Pai, que merda foi essa?

— Como assim? Eu é que pergunto. Onde você estava com a cabeça pra ficar se agarrando com o André assim? O que teria acontecido se eu não tivesse chegado?

— Provavelmente, teria acontecido o que aconteceu entre você e a Dëbora, ora bolas.

— Betina, não queira comparar. Você é uma criança.

— Paiiiii. Quando é que você vai por nessa cabeça dura que eu já sou uma mulher e que também tenho desejos. Quando é que você vai encarar o fato de que não serei virgem para sempre?

Ops! Ela falou que é virgem? Ufs, que alívio...

Mas, espere aí. Ela está dizendo que vai perder a virgindade...

Isso é uma tortura para um pobre pai.

— Seu Gustavo Bragança, encare a realidade de uma vez. Eu cresci, tenho um namorado, tenho desejo e quero fazer sexo com ele. Isso é natural. É inevitável. Pare de fazer disso uma cruzada.

Todo machista será castigado (REPOSTAGEM)Where stories live. Discover now