CAPÍTULO 6 - DOIS PESOS E DUAS MEDIDAS

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— Agora vou tomar uma ducha rápida porque o chef precisa estar apresentável para servir seus clientes — completa ele, piscando o olho para mim.

Antes de sair, no entanto, ele faz algo imprevisível que me pegou de surpresa. E acho que até a ele próprio.

Ele segura minha nuca e me dá um beijo no rosto. Em seguida, um tanto desconcertado, ele sai da cozinha, deixando-me ali no vácuo. Suspiro profundamente, buscando me conformar com aquela amostrinha mixuruca.

Recupero-me da sensação de abandono e subo para também me tornar apresentável... e desejável. Sim. Coisas maquiavélicas estavam se passando em minha mente.

Quando eu desço, perto das 19 horas, com um vestido branco de alcinha, levemente transparente, encontro todos lá embaixo num grande burburinho. A mesa está posta para o jantar. O André, conforme havíamos combinado, a organizou.

Solange está discutindo algo com o Vítor e os demais interferem a favor ou contra. Gustavo, que eu já consagrei como meu prato principal da noite, está diante do fogão, manipulando uma enorme frigideira com vários ingredientes enquanto uma caçarola solta vapores fumegantes.

Vou à adega e pego uma garrafa de vinho e duas taças. Sento-me na bancada perto do Gustavo e abro a garrafa, servindo as duas taças.

— Um brinde ao chef — falo, oferecendo uma taça a ele.

— Um brinde a um delicioso sábado — responde.

Chocamos nossas taças e vertemos o líquido, mantendo os olhos interligados, em sintonia.

Logo o espaguete estava pronto e sentamo-nos todos à mesa. Mais conversas aleatórias, risos e implicâncias mútuas.

— Não falei, mãe, que o Gustavo cozinha muito bem? — fala o André, claramente querendo ganhar pontos com o sogro. Mas a verdade é que está muito bom mesmo.

— Parabéns, Gustavo. Realmente o melhor que já comi. Dou meu braço a torcer. Você hoje me surpreendeu — elogiei desavisadamente sem imaginar que estava dando munição para levar um troco.

— Por que se surpreende? "Não consegue aceitar que um homem seja capaz de cozinhar?  É pegar ou largar" — recita ele, utilizando a frase que eu desferi contra ele na oficina.

Mas que maldito. Não posso relaxar com esse aí. Se eu me distraio, ele me pega. Os demais convivas ficaram meio sem entender. Apenas a Solange, que havia participado da cena na oficina, pescou a situação.

— "Pego" — respondo também igual a ele na oficina. — Na verdade, pego novamente. Por favor, pode me servir mais? — Opto pela pacificação.

O jantar transcorre alegre e descontraído. Mas a presença do Gustavo sentado ao meu lado é sempre uma força atrativa para os meus sentidos. Nunca consigo abstrair da sua energia.

Após o jantar e a sobremesa de sorvete com frutas, os jovens se encarregam de tirar a mesa e lavar a louça, uma divisão justa de tarefas, antes de se lançarem em um karaokê performático de matar de rir.

Aos poucos, a farra foi se acalmando e cada um buscou seu descanso. Solange, encharcada de vinho, foi para o quarto dormir. Os jovens foram para a varanda conversar, e Gustavo me convidou para caminhar na praia.

Lado a lado, andamos pela areia fofa, conversando amenidades antes que eu resolvesse abordar o assunto sobre a Betina.

— Então, está mais tranquilo agora em relação ao namoro da Betina com o meu filho? — interpelo.

Sua expressão descontraída muda. Ele fica apreensivo, talvez ponderando sobre como responder àquilo.

— Débora, não tenho nenhuma restrição ao André. Ele, obviamente, é um excelente rapaz. Apenas me preocupo com a Betina. Ela é apenas uma criança. Quero protegê-la das mágoas, das dores, dos sofrimentos... Apenas isso.

Todo machista será castigado (REPOSTAGEM)Where stories live. Discover now