Lá vamos nós de novo.

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Eu ouvia um monte de vozes, eu não conseguia identificar nenhuma. Por que meu corpo parece pesar uma tonelada. Onde estou?

- Rafaella? Você pode me ouvir?

Abri meus olhos e pisquei algumas vezes até me acostumar com a claridade. Minha visão demorou um pouco a focalizar, mas logo pude enxergar um cara loiro, vestido com um jaleco branco... Eu estou num hospital?

- Onde eu... - Senti minha garganta doer, pigarrei e me ajeitei melhor na cama - Onde eu estou?

- Você está no Hospital. - Uma mulher negra, o médica no caso. Ela é linda . - Eu sou a Dra. Thelma, ainda bem que você acordou. Sua esposa não para de perguntar por você.

Ela me informou e eu travei a mandíbula. Até ele com essa ideia de esposa? Mas que...

- Eu não tenho esposa nenhuma, não tenho nem idade para casar. Nem cursei minha faculdade ainda.

A Dra. Thelma me olhou confusa, leu algo na prancheta em suas mãos e depois veio para perto de mim. Ele começou a medir minha temperatura com uma mão, eu estava tentando entender aquele lance todo. Qual o problema das pessoas com minha temperatura?

- Você está sentindo alguma coisa? - neguei com a cabeça, eu só queria ir embora logo. - Rafaella, me diz uma coisa. - A Dra. sentou na cadeira ao meu lado, olhei curiosa para ela. - Qual é a última coisa que você se lembra?

Franzi o cenho, que diabo de pergunta era aquela?

― Eu me lembro de ter acordado essa manhã numa casa desconhecida com uma psicopata que todos ao redor insistem em dizer que é minha esposa.

Falei tudo num fôlego só. Eu só quero ir para casa, quero meus pais, minhas irmãs chatas. Eu nunca mais vou reclamar da minha vida, eu só quero tudo de volta no mesmo lugar.

― Antes, o que você lembrava quando acordou?

Estou confusa... Mas isso deve fazer parte de algum diagnóstico ou exame, sei lá.

― Eu me lembro de ter pegado carona com a psicopata que vocês dizem ser minha esposa, depois eu deitei na minha cama e apaguei... E ai, eu acordei naquela desconhecida essa manhã e está tudo estranho, as pessoas que eu conhecia parecem mais velhas e... O que está acontecendo?

Confesso que estou desesperada. Por que tudo parece tão estranho? Por que as coisas não parecem em seus devidos lugares? Por que eles insistem em me tratar como se eu fosse outra pessoa?

― Okay. - Dra. Thelma anotou algo em sua prancheta e depois se levantou. ― Eu vou chamar sua esposa e seus pais, acho que precisamos ter uma conversa.

Ela não é minha esposa! Mas espera... Meus pais? Ótimo! Vou poder voltar para casa.

Estava ansiosa, agora eu até sorria. Dra. Thelma abriu a porta e chamou pelos meus pais e pela psicopata. Primeiro a entrar foi Bianca, ela sorriu sem jeito e eu fechei minha cara. Depois foi a vez da... Mãe? Por que a senhora parece tão velha?

― Mãe?

Quase gritei, minha mãe, ou seja lá quem for essa pessoa, abriu um enorme sorriso e rapidamente até mim. Ela me abraçou com força e eu olhei por cima do ombro. Meu pai está grisalho desde quando?!

― Minha filha, que bom te ver acordada. Você nos deu um baita susto sabia? Quando Bianca me ligou eu achei que tinha acontecido o pior.

Minha mãe? Segurava meu rosto em suas mãos, seus olhos brilhavam por trás do óculos de grau. Ela parece feliz em me ver, isso é bom.

― Não nos assuste assim, Rafinha.

Papai veio até mim e bagunçou meus cabelos. Eu ainda estava tentando assimilar que meus pais envelheceram pelo menos uns dez anos em uma noite só. Como?!

― Sr. e Sra. Kalimann, nós precisamos conversar sobre o caso de Rafaella. - Dra. Thelma disse e meus pais assentiram, logo dando as mãos e olhando para mim. Sorri mesmo confusa. ― Você também, Srta. Kalimann-Andrade.

Chamou por Bianca? Kalimann-Andrade? Mas o que porra?

― Kalimann-Andrade? Como é que é?!

Explodi, estava cansada dessa bosta toda. Se até meus pais estão participando disso deve ser um tipo de BBB, porque até envelhecer eles, envelheceram. Mamãe e Papai olharam confusos para mim, Bianca estava mais chateada do que confusa.

― É sobre isso que eu quero conversar.

― Rafaella, por que está falando assim com sua esposa?

Minha mãe repreendeu-me com o olhar. Mas como ela pode dizer isso? Por quê?

― Sra. Kalimann, sua filha está sofrendo de um caso de perda de memória a longo prazo.

Cruzei meus braços ouvindo toda aquela baboseira, queria ver até onde eles levariam essa merda toda. Olhei para os lados em busca de alguma câmera, mas não encontrei nada. Onde elas estão?

―... e tudo que ela se lembra é de estar no colegial, foi o que ela me disse.

― Eu estou no colegial!

Exclamei impaciente, Dra. Thelma apontou com a cabeça para mim e meus pais olharam para mim, Bianca também mas, ela não conta. Os rostos deles três tinham a mesma expressão: medo e surpresa.

― Rafaella em que anos nós estamos?

― Em 2006.

Respondi como se fosse óbvio e revirei os olhos. Que saco. Bianca abaixou a cabeça e mamãe levou as mãos até a boca. Que porra é essa?

― Rafaella - Dra. Thelma veio para perto de mim e sacou um aparelho celular de dentro do bolso. Ei! Quando lançaram celulares tão finos assim? Aquilo era um celular? ― Por favor, leia em voz alta em que data estamos.

Meus olhos faltaram saltar das órbitas.

― Ci-cinco de novembro de dois mil e vinte?! Que merda é essa?

Gritei exasperada, amedrontada. O que era aquilo? Que porra era essa? De onde saiu esses celulares finos, por que mudaram as datas do calendário?

― Nós estamos em dois mil e vinte, filha.

Papai disse quase sem voz, mamãe já estava chorando agarrada ao pescoço dele e Bianca... Eu podia ver seus ombros balançando conforme ela soluçava.

Que cena toda é essa? Eles deveriam ser atores.

― Você está querendo me dizer que eu dormi durante quatorze anos? - minha voz era sarcasmo puro, já deu esse show. ― Ou melhor, eu me teletransportei para o futuro? Oh meu Deus, chamem a imprensa. Eles precisam saber disso.

Fingi afobação, eu queria que aquela palhaçada toda acabasse logo, só queria ir para casa, aturar a cobrança dos meus pais, minhas irmãs chatas e os professores chatos da escola. E claro, odiar Bianca Andrade, porque sempre foi meu melhor passatempo.

― Não, Rafaella. Você não se telestransportou no tempo, isso nem é possível ainda.

Dra. Thelma esclareceu. Rolei os olhos e bufei, minha cara deveria ser puro tédio.

― Então o que aconteceu com os quartoze anos que se passaram sem eu ver?

A Dra. respirou fundo e olhou para os meus pais e Bianca antes de voltar a olhar para mim e responder completamente sério, tão sério que chegou a me fazer arrepiar.

― Eles sumiram da suamemória, você simplesmente não se lembra de nada do que aconteceu nos últimos quatorzeanos

Stupid Wife (RABIA)Where stories live. Discover now