Jail

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Tamriel se refere a um continente fictício.Cyrodill se refere a uma província do continente.Chorrol e Cidade Imperial são cidades da província de Cyrodill.Elfos, nórdicos, imperiais, redguards, khajits (raça humanóide felina), orcs, argonianos (raça humanóide semelhante a lagartos) se referem a raças e características físicas.Ultima Semente se refere ao mês de Agosto em Tamriel.

O trailer acima pertence a Bethesda Softworks. Eu recomendo apenas para ajudar a nortear a história de forma visual por enquanto. Boa leitura ❤

Elize não podia dizer quanto tempo havia se passado. Estava com dor nas costas e nos pulsos, por dormir no chão de pedra e por carregar as pesadas algemas de ferro.
Olhou pela janela. O céu estava quase que completamente escuro, mas podia ver um leve alaranjado ao olhar para o oeste. Deviam ser cerca de seis ou sete da noite. Não se lembrava exatamente que dia era, mas sabia que eram os últimos dias do mês da Última Semente*. Levantou-se do desconfortável colchonete de sua cela, aproximando-se das barras da mesma. Na cela a frente, um elfo negro a observava sem nenhuma vergonha.
- Oh, vejam só. Você não é uma moça bonita? Essa pele tão pálida e pura. E esse seu corpo é tão...forte. Você é uma nórdica, não é? - A mulher permaneceu em silêncio, com uma carranca. - Você se acha tão durona. Aposto que sabe empunhar uma espada. Mas isso não importa aqui. Lutar não vai te salvar. Você vai morrer aqui, nórdica. Ouviu? Vai morrer aqui.
Elize ouviu passos pesados e sombras vindas da escada de pedra a sua direita. Pareciam um grupo de pessoas.
- Está ouvindo? Os guardas estão vindo para você, nórdica! Mas não se preocupe. Eles tratam bem as garotas bonitas. - O elfo riu, provavelmente insano.
A nórdica afastou os cabelos loiros do rosto, vendo uma mulher numa armadura com detalhes vermelhos descer a escada, um dragão esculpido em sua braçadeira, o símbolo do Império de Tamriel.
- Baurus! Tranque a porta atrás de nós! - A mulher gritou, e uma voz masculina concordou prontamente.
- Eles estão mortos, não estão? Meus filhos. Eu sinto que estão. Um senhor mais velho descia as escadas junto com um homem moreno e mais um guarda em silencio.
- No momento, senhor, nossa prioridade é protegê-lo. - Elize finalmente pode ver o rosto dos três. A mulher tinha feições imperiais fortes e parecia irritada. O homem mais jovem, Baurus, aparentava ser um Red Guard, raça vinda da província de Hammerfell, e o senhor mais velho usava trajes chiques e grandes jóias. Tinha feições amáveis e cabelos brancos, e carregava um grande amuleto vermelho no pescoço.
"O maldito imperador Uriel Septim justo no dia que eu sou presa?"
- Não deveriam haver prisioneiros nessa cela! - A mulher gritou, aproximando-se da nórdica, que recuou até a parede da cela. - Agora isso não importa. Fique perto da janela e não terá problemas, prisioneira.
Elize ficou estática no canto da parede enquanto a mulher abria o portão, indo em direção ao lado direito da cela. O imperador e Baurus a seguiam de perto após fecharem o portão de ferro, e o outro guarda ficou próximo da mesma. A Imperial empurrou uma pedra da parede, que começou a se mover enquanto uma escadaria surgia abaixo dos pés dela.
"Ah merda. É claro que tinha uma passagem secreta aqui que eu não reparei."
Pouco antes do imperador chegar à passagem, ele parou, olhando diretamente para a nórdica.
- Você! Eu vi você! - Elize o olhou confusa. Não se lembrava de ter ficado cara a cara com qualquer Septim. - Deixe-me ver seu rosto...sim, você é a mesma dos meus sonhos.
"Isso é um tipo de flerte? Que diabos?"
Mas o rosto do homem se tornou sombrio, e Elize teve certeza que era muito mais sério.
- Então as estrelas estavam certas, e esse é o dia. Que os Deuses me deem força.
- O que está acontecendo? - A nórdica perguntou, com a voz rouca devido à falta de água.
- Meus filhos foram assassinados, e eu serei o próximo. - Apesar do horror que Elize sentiu com as palavras, o homem continuava calmo, como se aceitasse tranquilamente o que iria acontecer. - Meus guardas estão me tirando da cidade com uma rota secreta, que por acaso passa dentro da sua cela. Talvez os Deuses tenham te colocado aqui para que nos encontrássemos. E quanto ao seu crime, não deve se preocupar. Não será por isso que a senhorita será lembrada.
Elize não tinha nenhuma vontade de se envolver nas tramas do Império, mas era uma das suas melhores e possivelmente a única chance de escapar daquela cela depois de tudo que tinha feito.
- O que eu preciso fazer?
- Você irá tomar seu próprio caminho. Tenha cuidado, haverá sangue e morte antes do fim.
"Porque diabos ele fala com tantos enigmas?"
- Fique fora do nosso caminho e você ficará bem, prisioneira. - Baurus piscou para a mulher, antes de seguir o imperador.
Assim que os quatro tomaram certa distância, Elize acenou com desdém para o elfo da cela a frente e partiu para a passagem. O chão e as paredes eram de terra batida, e o cheiro de mofo e umidade incomodavam o nariz da mulher.
Chegando numa espécie de ruína, desceram mais um lance de escadas, e então o cheiro de sangue invadiu o ambiente.
Um grupo de três pessoas com trajes vermelhos avançou contra eles, e a capitã imperial caiu no chão sem vida. Elize não perdeu tempo em agarrar a espada do corpo da mesma, segurando um dos atacantes e lhe cortando a garganta. Baurus derrubara os outros dois enquanto o outro guarda ficou próximo ao imperador.
Os guardas abriram um pequeno portão, atravessando-o junto com Septim e o fechando em seguida.
- Há problemas em frente. Você vai precisar achar seu próprio caminho. Sinto muito. - Baurus acenou para a nórdica entre as grades, sumindo nas sombras do corredor.
"Droga. Estava fácil demais".
Elize analisou a sala, roubando o que lhe era útil dos assassinos e seguiu por um buraco em uma das paredes que provavelmente havia desmoronado. Se perguntava quantos anos teria aquela passagem. Assim que atravessou, dois enormes ratos correram em sua direção, enquanto a loira só pode erguer a espada para se defender. Odiava matar animais, mas sabia que ratos sempre traziam doenças bastante desagradáveis.
Cerca de meia hora depois, muitos ratos mortos, um zumbi e meia dúzia de Goblins, Elize finalmente atravessou toda a fundação da prisão, encontrando outro buraco para as ruinas da passagem secreta. Pode ver os guardas e o Imperador alguns metros abaixo dela, agaixada entre as pedras da parede. Percebendo que a parede não era muito alta, aterrissou no chão com um pequeno baque, chamando a atenção dos guardas.
- Droga! Essa prisioneira de novo? Mate-a, ela deve estar trabalhando com esses assassinos! - O guarda sem nome resmungou, avançando contra ela. Entretanto, Uriel ergueu uma mão, acalmando o rapaz.
- Não. Ela não é um deles. Ela pode nos ajudar. Chegue mais perto criança. - O guarda fechou sua expressão, mas guardou a arma. Elize fez o mesmo com a arma roubada, e se aproximou do homem mais velho. Uriel era um pouco mais baixo que ela, os cabelos brancos finos e escassos, mas sua característica mais marcante eram olhos azuis profundos. -Eles não podem entender porque confio em você. Eles não viram o que eu vi. Nem eu posso explicar muito bem. Mas você conhece os Nove Divinos, não é? Como eles guiam nossos destinos?
- Eu não estou em bons termos com os deuses...mas sim. - Sussurrou.
- Eu servi os Nove por toda a minha vida, e traço meu destino pelos céus. E os sinais do céu mostram o fim do meu caminho. Minha morte. -Elize sentiu um aperto em seu coração. Não conhecia realmente o imperador, mas ele não tinha sido nada além de gentil com ela. - Um fim necessário que virá em seu tempo. Mas eu não posso ler seu futuro. Você mesma guiará seus passos no seu destino. Entretanto, eu vejo em seu rosto o companheiro do sol. Talvez essa luz do amanhecer possa banir a escuridão que se aproxima. Com essa esperança e sua ajuda, meu coração ficará satisfeito.
- Você...não tem medo de morrer? - Elize não podia deixar de se sentir um pouco triste pelo Imperador, que além de perder três filhos em uma noite, também estava próximo da morte.
- Eu vivi bem, e minha alma descansará em paz. Homens são apenas carne e sangue, e eu ainda fui abençoado em ver minha morte. Mas agora, vamos prosseguir. Você me acompanhará por mais alguns momentos e então nos separaremos.
- Fique perto e deixe que façamos nosso trabalho. Você ficará bem. - Baurus entregou uma tocha a jovem, e os quatro seguiram passagem a dentro.
Tiveram mais alguns problemas com os homens de vermelho, até chegarem no que Elize deduziu ser o fim da primeira parte da rota. Mas era apenas o começo das desgraças em sua jornada.
Assim que chegaram na passagem para os esgotos, o guarda sem nome xingou, chacoalhando um portão trancado.
- Droga, esse portão deveria estar aberto! É uma armadilha! Temos que tentar a passagem ao sul.
A tensão era quase palpável no ar, como um mau presságio.
Ao chegarem na passagem, puderam ouvir passos pesados de onde vieram.
- Droga! Estão atrás de nós! - Baurus gritou, empunhando a espada. - Fique aqui com o imperador e o proteja com sua vida! - O rapaz moreno correu de volta ao portão.
Os sons da batalha ficavam cada vez mais altos, e Elize olhava para todas as direções, atentando-se a qualquer ruído próximo.
- Você deve seguir em frente. Terá de prosseguir sozinha. Eles não podem pegar o Amuleto dos Reis! - Septim tirou o colar com a grande pedra vermelha, entregando-o para a loira. - Você deve levá-lo para um homem chamado Jauffre. Ele saberá o que fazer, e te levará até meu último filho. Encontre-o, e feche as mandíbulas de Oblivion.
A parede tremeu, desmanchando-se. Um dos assassinos vermelhos surgiu da passagem escondida, e antes que Elize pudesse impedir, o Imperador caiu sobre uma poça do próprio sangue, com uma adaga nas costas.
- Não!
Era tarde demais. Da mão esquerda de Elize, labaredas de fogo foram de encontro ao assassino, e logo depois a nórdica o atravessou com sua espada. Ainda assim, a esperança para o Imperador estava perdida. Elize agaixou-se, mas sabia que era tarde demais, e apenas prestou os últimos respeitos ao governante de Tamriel.
Baurus veio correndo, mas também só pode se abaixar e rezar silenciosamente por um momento. O redguard tremia e murmurava, parecendo perdido.
- Nós...nós falhamos..eu...eu falhei. Jurei proteger o Imperador e agora ele e todos os seus descendentes estão mortos... E o amuleto... Não está aqui...
Os olhos do rapaz estavam vidrados, e Elize apenas colocou uma mão em seu ombro.
- Sinto muito. Eu não pude protegê-lo. - A jovem lamentou. -Mas quanto ao amuleto, o Imperador me entregou momentos antes de...
- Ele confiava em você. Dizem que é o sangue dos dragões que corre nas veias de cada Septim. Eles podem ver mais que nós. Quanto ao amuleto, é um objeto sagrado do Império. Dizem que só os descendentes dos dragões podem usá-lo. Ele te disse porque te deu isso?
- Ele me mandou procurar alguém chamado Jauffre. Disse que há mais um herdeiro, e que esse homem me levaria até ele.
- Um herdeiro? Eu nunca soube disso, mas Jauffre é o Grão Mestre dos Blades, a ordem protetora do Imperador. Ele deve saber de coisas que não sabemos. Você deve ir logo. Essas pessoas podem voltar. Jauffre vive num Priorado no caminho para a cidade de Chorrol.
- Irei imediatamente. Mas como eu saio daqui? - A nórdica enfiou o amuleto no bolso da calça surrada.
- Siga a passagem na parede. Irá chegar na entrada para os esgotos. Suba as escadas e procure um túnel com um portão. É a rota secreta que seguiríamos. Ou deveria ser secreta. Cuidado com os ratos. Mas você parece ser alguém experiente, não? Talvez uma guerreira ou assassina?
- Sou uma maga de batalha. E vou ficar bem. Se cuide, mestre Baurus. - Elize sorriu, apertando a mão do homem.
- Que Talos lhe guie.
Foram as últimas palavras que Elize ouviu antes de correr pela passagem e descer uma escada estreita. O lugar tinha um cheiro horrível, e um cadáver animal boiava na "água" rala dos esgotos. Elize respirou fundo, pondo-se a correr.
Depois de alguns poucos minutos, a nórdica pode ver uma pequena luz vinda de um túnel. Chutou as grades do caminho, correndo sem parar para a saída.
Sentir a grama em seus pés e a suave brisa da noite era de um alívio quase indescritível. Correu para o grande lago a frente, bebendo o quanto de água pode, e então olhou para as estrelas.
"E traço meu destino pelos céus."
O destino de Elize ainda não estava escrito, mas começava naquele momento.

The Emperror and the WolfheartWhere stories live. Discover now