Projeto Mulah de Tróia XXXV

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Por uma feliz coincidência, o mordomo de minha mansão se chama Alfredo. Ele é o responsável pela limpeza da caverna sob a mansão, onde estacionei o Berço e estou montando meu supercomputador quântico. A caverna é habitada por muitos, muitos morcegos, e acho que todo mundo conhece o cheiro horrível de fezes de morcego. Alfredo se esforça nessa tarefa sobre-humana, mas o odor é incisivo e eu nem quero pensar nos coliformes fecais que colonizam minhas botas. Fico pensando em como Batman se livra desse problema, mas após numerosas buscas no Google e no Facebook do CLFC, cheguei à conclusão que ele convive com isso. Bom, ele deve ter um nariz ninja, acho.

O computador quântico está pronto. Com ele poderei prever, pelo menos em termos probabilísticos, as consequências de minhas ações no espaço-tempo de 11 dimensões. Também descobri que, o que o Berço realmente faz é estender uma das seis dimensões espaciais enroladas e transformá-la em uma dimensão temporal, porém com a seta do tempo invertida. Isso permite que o Berço volte no tempo, algo impossível em nosso quadri-espaço normal. Para ir para o futuro, basta usar o eixo temporal normal de forma acelerada. Não posso explicar muito mais que isso, pois a máquina se baseia em aplicações de Gravitação Quântica que ainda não foram desenvolvidas em nosso planeta. O Berço não é daqui, nem extraterrestre. O conhecimento que levou ao Berço veio de um universo de Everett que parece ser bem mais adiantado que o nosso.

O mais incrível é que eu tenho encontrado relatos sobre o Berço em obras de ficção científica, assinadas por um tal de B. B. Jenitez, que parece ser um meu homônimo, embora eu não saiba quais são os prenomes B. B. Da primeira vez que encontrei um desses livros, chamado "Projeto Mulah de Tróia", se não me engano, acionei meu advogado, a fim de formalizar um processo de plágio. O livro estava vendendo muito porque os queridos leitores pensavam que era de minha autoria. Foi então, que encontrei um verdadeiro mistério: o autor do livro era anônimo e não pode ser encontrado. Os livros simplesmente caíam no e-mail do editor, a partir de uma conta impossível de rastrear. Bom, impossível até agora, pois meu computador quântico quebra qualquer criptografia.

Hoje, me arrependo de ter encontrado esse falso B. B. Jenitez, pois no fim, tive que tentar matá-lo, o que não é da minha índole (eu nem mesmo como porcos, lulas e polvos porque são animais de alto QI). Mas tive que tentar fazê-lo, pois Cristina (sim, esse é o apelido que dei ao computador em homenagem a uma mulher que é uma verdadeira máquina) fez a previsão caótico-temporal de que o mundo é pequeno demais para dois B. B. Jenitez. Além do mais, a série de contos PMT desse sofrível autor era sem graça e sem verdadeiras histórias, como bem observou o famoso escritor Miguel Carqueija em sua resenha no Recanto das Letras. Sim, tal desprezível autor Benitez merecia a morte!

É claro que o dileto leitor deve estar pensando: "Mas afinal, por que outra pessoa se passaria por B. B. Jenitez?" Vou relevar esta pergunta, porque está claro que qualquer pessoa do mundo venderia a própria mãe para ter o meu talento artístico e científico, além de namorar Cristina! Assim, a verdadeira pergunta é: qual o verdadeiro nome desse pseudo Jenitez? Isso Cristina me revelou após quebrar a criptografia do e-mail em um milissegundo e acessar o computador central da NSA para identificação de terroristas temporais. Tive uma grande surpresa: o verdadeiro nome de B. B. Jenitez era B. B. Jenitez! Uma incrível coincidência, caso coincidências existissem. E acessando a foto do sujeito, vi que o acaso não existe: sua face era idêntica à minha, porém sem cavanhaque e brinco. Também não tinha uma tatuagem com a equação de Euler-Lagrange no braço esquerdo, como a minha. Ou seja, esse tal B. B. não tinha uma namorada fã do U2 como Cristina, nem havia sido transformado em um pequeno Bono Vox.

Com as informações fornecidas sub-repticiamente pela NSA, obtive o endereço do sujeito. Preparei-me para o confronto, colocando meu chapéu e prendendo meu chicote no cinto. Também levei meu bumerangue, por via das dúvidas. Entrei no grupo "Namorada" do meu Whatsup e contatei Cristina, a fim de que ela ficasse com Ágata Christie. Sim, o grupo tem apenas uma pessoa, mas o inteligente leitor deve entender que formei o grupo antes de saber manejar direito o aplicativo e depois deu preguiça de excluí-lo. Cristina, primeiro observou que Chris ainda não estava castrada e o gato Mingau, de sua filha Suzanna, estava meio afoito. Depois de uma hora de muita conversa e promessas sobre lavar sua pia, deixar o tapete de boas-vindas sempre paralelo à porta e alinhar os controles remotos por ordem de tamanho, Cristina cedeu e levei a gata Christie para sua casa em meu Ford Mondeo 1996.

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