Primeiro encontro: a Mãe D'ouro

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Olhe bem seu moço, num sei se você acredita nessas histórias de visage. Mas juro que essa história se assucedeu do jeitinho que eu vou te contar.

Eu morava bem longe daqui, lá pras bandas das terras de seu Afonso Rodrigues, sabe? Eu era caseiro de um dos sítios do seu Sérgio Barreto. Assucede que o tal do sítio ficava no alto de um morro e de lá de cima dava para ver um dos sítios de Afonso Rodrigues.

No meio desse sítio que ficava lá cabeça abaixo, tinha uma casinha jeitosa, cercada de palmeiras. Coisa linda de ver, cê num sabe. E eu e minha Nega ficávamos lá da varanda no fim da tarde vendo aquela casinha bonita, que parecia abandonada, falando das coisas da vida.

Daí, num entardecer desse foi que tudo começou...

Calma, homem! Eu vou contar... Toma teu trago aí, e vai escutando.

Pois nesse dia, que era uma sexta-feira, a gente viu a Mãe D'ouro, aquele fogo que aparece onde tem botija e tesouro enfeitiçado. Na verdade, foi a Nega que viu primeiro e me amostrou. Era um fogo bonito que subia contornado a palmeira e chegava lá nas folhas. Daí ele apagava. Depois acendia no alto de outra palmeira. Daí sumia outra vez. Aparecia no pé de outra palmeira e tornava a subir.

A gente ficou lá, admirando a beleza daquela dança. Só que aí teve uma hora que o fogo demorou um pouco mais para aparecer, e quando apareceu, não é que o danado surgiu numa árvore um pouco mais perto do nosso sítio. Daí apagou de novo, e apareceu mais perto ainda.

A gente não pensou duas vezes: corremos pra dentro da casa e fechamos as portas.

Mas fiquei encafifado com aquilo. Trabalhei o outro dia inteirinho pensando no que tinha visto. A noite, eu e a Nega ficamos de novo na varando esperando o fogo acender. Mas nada!

E nos outros dias também não apareceu.

Oxe, homem. Você é muito apressado! Num acabou ainda não. Toma teu trago e me deixa contar a história.

O que a gente descobriu é que a Mãe D'ouro só aparecia naquela casa às quartas e sextas-feiras. Deve ter ligação com a Quarta de Cinza e a Sexta Santa, mas eu não sei explicar.

Então, na quarta-feira seguinte, lá tava o fogo. Mesmo movimento, mesma coisa, igualzinho. E depois de um tempo, veio de novo pro nosso lado.

Assim foi por umas quatro ou seis semanas. Sempre às quartas e sextas-feiras.

Por fim um dia, nos resolvemos esperar ele chegar até em casa pra ver no que dava. Ficamos lá parados e não arredamos o pé. O fogo foi acendendo e apagando, apagando e acendendo até que acendeu bem num pau de cerca, numa distância de um tiro de pedra do lugar que nós tava.

Daí...

Vixe homem! Olha a hora! A Nega vai ficar doida de eu num voltar pra casa até agora. Faz assim, amanhã te conto o resto.

Ah! Paga o trago pra mim que eu com pressa. Outro dia pago o seu. Obrigado, seu moço!

Tesouro de BotijaWhere stories live. Discover now