Premonições Naturais

De volta aos negócios

  

     O lugar dessa vez é uma praça pública, composta apenas de uma grande calçada e dois bancos situados paralelamente, e, por a praça estar de frente a um restaurante chinês acaba por render uma grana das pessoas q vão lá para ver arte de rua.        
    Encontro Bob sentado no chão com seu jeans desbotado de sempre e uma jaqueta preta de couro por cima de uma camiseta cinza, suspeito que ela já foi branca algum dia, mas prefiro não perguntar. A barba rala mostra que passou a semana sem se cuidar e, enquanto toca uma gaita desafinada poderia ser confundindo com um mendigo.
Vou até suas costas e tento assusta-lo.
_Buh! Onde conseguiu isso? - mas  ao contrário do que eu esperava ele apenas me olhava com uma expressão como se dissesse " ah, olha só, vc ainda tá aqui" e volta a dar atenção a gaita. - Encontrou no lixão?

_ Comprei de um mendigo com a grana que consegui ontem, sou muito bom em barganhar. - então ele toca a gaita mais uma vez e o som me lembra o apito de um trem. - Acredita que o idiota ainda saiu saltitando por causa de meras notas de papel? Um verdadeiro idiota.

_ Está se referindo a si mesmo? Finalmente está reconhecendo sua própria imbecilidade.

_ Sabia que odeio quando fica dizendo palavras difíceis?
  
Mesmo com o tom de voz rude seu sorriso acaba me fazendo sorrir.

_Claro que sei, é por isso que ainda o faço, agora me conta qual é a dessa vez.

_ Você saberia se estivesse se esforçando.

  Forço um pouco a visão para a praça mas ainda não consigo entender pq tem gente olhando admirado para o nada enquanto coloca dinheiro no chapéu q está no chão.

_Claro que estou me esforçando, mas ainda não consigo ver nada.
 
Bob levanta num pulo e espana a poeira das roupas com as mãos.

_ Ok Meia, olhe nos meus olhos e se permita se perder neles.
 
  Odeio fazer isso pq sempre que olho em seus olhos acabo pensando em besteira, mas mesmo assim o faço, e como são lindos.

_ Certo Meia, agora tente me manipular.
   
Também odeio isso pq n tem como n pensar em sacanagem.

_ Vamos Meia, eu sei q vc quer.

   Olho no fundo dos seus olhos enquanto tento fazê-lo dançar Macarena, o azul deles vai se transformando num misto de cores que acaba se tornando um tom de prateado q devido a situação consegue me assustar, quando penso estar me vendo refletida neles sinto uma dor forte na cabeça. Bob segura meus ombros e me vira para a praça, então finalmente consigo ver uma jovem bailarina vestida de um rosado tutu dançando ao som de um velho toca fitas no chão que reproduz uma música de violino agradável a quem escuta. Uma imagem perfeitamente contraditória a de Bob e sua gaita do satanás.  A música vai me envolvendo e antes que eu perceba já estava caindo em perfeita harmonia com a bailarina num gesto de agradecimento ao público, sinto os braços fortes de Bob me segurar antes q eu pudesse cair no chão.

_ Aaaiii minha cabeça.

_ Você está bem Meia?
  
Ele me encara com um olhar de compaixão que poderia derreter o coração de qualquer dama, mas q de certa forma me faz lembrar q aquilo era culpa dele, e quem o conhece com certeza não o compra.

_ É claro que não estou bem! Não existe outra forma de ver essas ilusões sem ter que sentir uma maldita dor de cabeça toda vez?

_Bem, até q existe, o receptor teria que fazer outro ritual com o condutor, algo mais direto.

_ Que seria?
  
Ele aproximasse de mim e fala com seu sorriso sedutor.

_ Seria um beijo.
   
Chego mais perto dele e mordo os lábios enquanto falo devagarosamente.
_ Sabe... Até que tô começando a gostar da ideia de sempre sentir essa dor, sinto q ela tá me deixando cada vez mais forte. - termino com uma piscadela q desmonta seu sorriso.

_ Poxa,essa destruiu meu coração... Ah n, pera, eu n tenho um.

_ Percebesse querido.

   Seu sorriso depois disso parece vir verdadeiro, sem malícia ou sarcasmo, apenas um sorriso de alguém cansado e fadado a continuar. Continuamos olhando a dança até todos irem embora, a bailarina recolhe todo o dinheiro e o entrega a Bob q com um estalar de dedos a faz desaparecer.
_ Truque novo? - pergunto.
_ Aprendi com os humanos. - responde com uma piscadela brincalhona.