Uma última jornada

36 2 0
                                    

      Sempre que surgem dificuldades, muitos tendem a desistir. Abrir mão daquilo que haviam começado não significa fraqueza, às vezes continuar não era a atitude certa. Às vezes, o correto é desistir antes que se torne desgastante e acabe em lugar algum.

      A dúvida que fica é: Quando devemos desistir? O que aconteceria caso tivesse continuado? Valeu a pena?


     Afinal, ter desistido era realmente necessário?


      Essas perguntas assombravam um jovem rapaz que já havia perdido a conta de quantas horas estava deitado sem mexer um músculo. Seu corpo estava pesado, sem forças para nada que não fosse continuar deitado. Num esforço tremendo ele estica o braço para pegar seu celular.

      — Oito e meia... — dizia com os olhos cerrados por conta do incômodo que surgiu após sentir o forte brilho no rosto depois de tanto tempo no quarto escuro. — Preciso comer alguma coisa.

      Caminhando lentamente em conjunto com seu cobertor que estava enrolado em volta do seu corpo, o rapaz pega um pedaço de bolo de cenoura — com cobertura de chocolate, obviamente —, um copo de café e se senta na mesa.

      Enquanto comia o bolo de modo exageradamente lento, o garoto se perdia em seus pensamentos sobre o passado. O passado onde se sentia com energia suficiente para mover montanhas, onde sorrir tinha um significado, aquele repleto de luz e harmonia. De repente o desejo que o passado se tornasse presente começou a arder novamente em seu coração.

      Tomando fôlego após o último pedaço de bolo, levantou-se, pegou seu celular e colocou a última faixa para tocar novamente.

      Então, pegou uma bolinha que estava escondida em seu bolso e apertou-a, dizendo com os olhos marejados:

      — Só dessa vez, por favor... — abriu seus olhos e arremessou a pequena esfera contra a parede. — Funcione!

      Mesmo sem esperanças que aquela frase faria alguma diferença, para sua surpresa a esfera brilhou tão forte que iluminou todo o cômodo. Como resultado, um buraco tomou conta da parede, mas não um simples buraco. Parecia como nos filmes de ficção científica, o que estava na frente do garoto era uma ruptura no próprio tecido do espaço, que se abria de forma similar a um buraco negro.

      A visão era embaçada e distorcida, mas a fenda parecia levar a uma ponte.

      — Não creio... — sussurrou — ...deu certo! Finalmente deu certo! — comemorava com pulinhos de alegria.

      Naquele momento, o peso parecia ter sido arremessado a quilômetros de distância e no seu lugar um enorme sorriso estava estampado em seu rosto. Então, o primeiro passo finalmente foi dado e o garoto estava dentro da abertura.

      Como de costume, quando entrou na fenda sua aparência tomou outra forma, o que não lhe causou estranhamento. Seus cabelos estavam brancos como a neve e os olhos estavam levemente cinzentos por uma razão inexplicável.

      Até mesmo suas roupas não eram mais seu pijama moletom, mas sim uma camiseta preta sem estampa e uma calça jeans desbotada — até que eram mais normais que o pijama.

      Depois de muito tempo, ele retornou ao seu porto seguro, o lugar que há anos trazia alegria para si.

***

      Em meio a vastidão do céu em dia ensolarado, um enorme portão com gravuras antigas rangia levemente enquanto se abria, exibindo a forma de um garotinho de cabelos brancos saindo.

A Última Batalha de NagakamiWhere stories live. Discover now