(𝐈𝐌)𝐏𝐔𝐑𝐄.

𝖺𝗆𝗈𝗎𝗋

Não me julgue, eu sou um grande fã de minha querida Amy.

Voltando para a ligação ── que hoje reconheço ter sido uma das mais importantes da minha vida. Depois de me acalmar e limpar meu nariz vermelho que pingava água pelo recente choro, meu amigo revelou o tal motivo de estar me ligando à meia noite e meia de uma sexta-feira.

Dali a duas semanas aconteceria um pequeno festival de arte e cultura geral para convidados em um Museu próximo ao centro. Zayn estava bastante empolgado, e me convidou para ir com ele já que possuía dois convites, que segundo ele, havia ganho de sua mãe que é artista plástica. Fui convidado, por ocupar o posto de melhor amigo de Zayn Malik, um escritor em ascensão. Eu não entendo nada de arte, pelo menos eu achava que não até conhecer o amor.

Duas semanas depois eu estava lá de pé no meio de tanta gente rica que podia sentir o cheiro do dinheiro de longe. O Museu estava cheio, mas ainda sim tínhamos espaço o suficiente para circular livremente pelas salas e salões. Zayn me deixou sozinho por alguns minutos, disse-me que iria cumprimentar alguns escritores que iniciavam sua carreira de sucesso, e que eu poderia me distrair bebendo champagne da melhor qualidade e de graça.

Lembro-me de beber pelo menos três taças do líquido borbulhante, enquanto observava alguns dos quadros expostos nas paredes altas e limpas até cansar de tentar entendê-los e caminhar para outro salão. A plaquinha de ouro o identificava como "literatura clássica", entrei sem rumo pois haviam tantas estantes espalhadas com tantos livros coloridos que como uma criança atraída por cores segui seu caminho com pezinhos apressados.

Haviam tantas pessoas circulando pelo local carregando livros, tirando e colocando-os de volta nas prateleiras, e como um peixinho fora d'água eu olhei para as lombadas grossas com títulos interessantes e corri com meus dedos curiosos por cada uma delas. Jane Austen, Emily Bronte, Liev Tolstói.... Eram tantos autores, tantas estórias guardadas em uma infinidade de páginas.

Corri e corri deslizando as pontas das unhas por cada um deles até chegar ao final da prateleira e encontrar um espaço vago. Era tão estreito que poderia caber qualquer livro de até cem páginas ali, mas eu sou grato todos os dias a moça que trajava um casaco de veludo preto que o tomou dali para lê-lo, pois meus olhos se infiltraram pela fresta que a falta daquele livro produziu, e consegui enxergar o amor pela primeira vez na vida.

Ele se assemelhava a um anjo das obras de Bernhard Plockhorst, divinal.

Meu coração virou gelatina derretendo-se fora do frio de uma geladeira. E analisei cada detalhe que o adornava. Ele estava sentado em uma das cadeiras confortáveis da mesa de leitura, apoiado a ela em sua frente estava um livro de capa verde e corte dourado, e em sua mão uma taça de champagne como a minha. Ele sorria largo perdido em alguma conversa divertida com um homem que aparentava ter a mesma idade. Eles vestiam-se de forma parecida, calças sociais largas na medida certa de seus quadris, camisas de botão em uma estampa discreta e sapatos que sinceramente, só gente rica usaria.

Ambos com orbes azuladas, ambos encantadores. A diferença dos dois para mim? Somente um deles é o meu amor.

Permaneci olhando-o por bons minutos, ele mexia em seus fios caramelos, sorria de canto para o amigo. Com certeza eram amigos, a linguagem corporal relaxada e o afeto em seu olhar eram muito visíveis. Vez ou outra ficava mais sério, mas nunca tirava os olhos do rapaz, até que sem esperar, seu olhar se cruzou ao meu.

Assustei-me com a surpresa e arregalei os olhos sentindo que morreria de tanta vergonha ali mesmo. Na pressa de desviar e passar despercebido acabei por derrubar um dos livros da prateleira de baixo, chamando atenção desnecessária e vergonhosa pra mim. As pessoas me olharam como se soubessem que eu não entendia nada daquele mundo, não pertencia. Eu usava calças escuras presas às minhas coxas, com um moletom preto de capuz. Meu coturno de salto não era nada elegante, além da bandana que preenchiam meus cabelos.