Deus, eu devo ter sido muito bom na vida passada para merecer um anjo nessa. Harry pensa, olhando para Louis com carinho, e assente concordando. O mais velho sorri contente e entrelaça suas mãos, o puxando em direção ao trailer. Eles passam direto por onde seria a fogueira, o que é motivo para alguns dos jovens artistas assobiarem e soltarem algumas piadinhas maliciosas, de forma brincalhona, que fazem o mais novo corar e o mais velho rir.

Porque não, definitivamente eles não iriam transar... Naquela noite.

Styles toma um banho rápido para tirar o leve suor em sua pele enquanto Tomlinson troca suas roupas por algo mais confortável. Em seguida, Harry se joga na cama e o escritor vem logo em seguida, trazendo consigo um pacote de doce e um iPod, como havia prometido minutos antes. Ele se deita na cama também, deixando um espaço entre seus corpos não querendo fazer o mais novo se sentir pressionado e desconfortável. Depois, abre a sacola de marshmallows, colocando-a entre os dois, e conecta os fones no aparelho de música, encaixando um lado em seu ouvido e o outro no ouvido de Harry.

Louis escolhe uma música aleatória e aperta o play.

Eu já disse que amo Coldplay? — Suspira em aprovação, fechando os olhos e se aconchegando ainda mais no travesseiro.

— Já... — Ri, pegando um doce no saco e mandando para dentro, sentindo a maciez derreter deliciosamente em sua boca, antes de começar a cantarolar baixinho: — Olhe para as estrelas, olhe para como elas brilham para você e para tudo que você faz...

Acho posso viver assim para sempre. — Gesticula no ar, antes de abaixar uma mão para pegar um marshmallow no saco e comê-lo devagar.

— Apenas basta dizer sim. — Sussurra baixinho, segredando, e sente o mais novo, lentamente (como se estivesse testando as águas), vir deitar a cabeça em seu peito e abraçar sua cintura. Ele sorri, porque esta é única resposta da qual precisa, e o abraça de volta, suspirando alegremente com a respiração quente em seu pescoço.

O silêncio paira sobre eles por longos minutos, apenas a música no fone de ouvido e a cantoria distante dos circenses no lado de fora. Contudo, não é um silêncio desconfortável, como quando você está sozinho com um desconhecido e precisa a todo custo quebrar o gelo; ou quando tudo fica em silêncio num momento de tensão e briga. É um silêncio íntimo e acolhedor, do tipo: estou te dizendo muitas coisas sem realmente precisar usar palavras. Com a voz suave do Troye Sivan no fundo, Harry se sente confortável o suficiente para se encolher contra os braços de Tomlinson e aproveitar o carinho gostoso das pontas dos dedos do mais velho deslizando na pele de suas costas por baixo da camisa.

— Hazzy... — A voz suave e doce o desperta. —Posso te fazer uma pergunta? — O mais novo apenas assente, erguendo a cabeça levemente de seu lugar aconchegante e quente para olhar nos olhos azuis. — Como é tudo isso? Sua paralisia, quero dizer. Como começou?

A pergunta faz Harry suspirar, ele sabia que mais cedo ou mais tarde ela viria, era só questão de tempo. E agora aqui está ela. Ele se levanta e se senta, cruzando as pernas, de frente para o mais velho, que permanece deitado, o encarando com olhos curiosos.

Ao contrário da maioria das crianças, eu não chorei quando nasci e isso já foi um motivo para os médicos se preocuparem. Eu tive que ficar muitos dias no hospital e eles fizeram diversos exames, mas eu não tinha nenhuma doença que pudesse explicar. Logo, meu pais voltaram para o circo comigo e o tempo foi passando. Eu nunca chorava e nem fazia nenhum barulho, eu me mamava mas demorava muito mais tempo do que o normal, já que minha mãe tinha tido Gemma antes de mim e percebia a diferença. Fui crescendo e nada mudou, pelo contrário, as coisas pioraram. Com dois anos, eu tinha um movimento mínimo dos músculos da região inferior do meu rosto, eu tinha que me alimentar por sonda e essas coisas. Nenhum médico na época sabia explicar o que estava acontecendo ou o porquê e nós não tínhamos dinheiro para tentar algum tratamento alternativo. Por isso, minha mãe decidiu que ia tentar sozinha me ajudar e trabalhou muito comigo durante a minha infância para eu conseguir pelo menos comer, ela me obrigava a fazer muitos exercícios, como uma fisioterapia e era tão difícil! Eu era apenas uma criança, não entendia o que estava acontecendo e sempre terminava chorando. Mas funcionou e aos poucos fui recuperando os movimentos dos músculos mastigatórios e dos músculos ao redor da boca, mas não completamente.

Aos sete anos, tudo estagnou. Eu não conseguia mais progredir, atingi o limite máximo dos meus músculos, e continuei vivendo apenas com o que eu tinha conseguido recuperar. Nessa época, minha mãe tentou me levar ao médico novamente e foi quando eu fui diagnosticado com paralisia nas cordas vocais e nos músculos da mastigação e dos lábios, a medicina estava começando a avançar, mas eles não tinham um tratamento que fosse eficiente. Disseram a minha mãe que eu desenvolvi alguma espécie de trauma psicológico e por isso não consegui progredir mais. Continuei vendo o médico a cada três meses por quatro anos, mas eles nunca me davam notícias boas e então, eu aceitei que esse era o meu destino e disse para minha mãe que eu não queria e não iria voltar mais. Ela me entendeu e não me pressionou, aos poucos todos que conviviam comigo foram se acostumando e se adaptando as formas que eu encontrava de me comunicar.

— Você é uma inspiração sabia? Quando as pessoas conhecerem sua história você vai inspirar tantas vidas, Haz. — Ele suspira, puxando o mais novo contra o seu corpo novamente, para um abraço. — Eu tenho orgulho de você, de ter me apaixonado por você. — Continua a sussurrar, a espelhar beijos pelo rosto corado do mais novo, que sente seu coração bater mais forte do que nunca.

Agora me beija, seu tolo.

i saw galaxies in your eyes [2.0]Where stories live. Discover now