Vinte e oito

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O cheiro da forte serragem da madeira que se espalhou pelo enorme galpão fez Manu espirrar alto, levando uma mão ao rosto no momento seguinte.

-- Sinto muito. -- Pediu baixinho ao ver que Rafaella lhe olhava seriamente.

-- Como assim dez dias? -- Rafaella perguntou ao homem moreno, sarado, que havia assoprado um pouco do pó antes de voltar a serrar. Ele tinha enormes braços e a barriga com cada gominho em seu exato lugar. Manu só havia entrado com Rafaella pois vira o quão "gostoso" o homem era.

-- A peça do seu caminhão que pifou tem que ser incomendada. Sinto muito. -- Ele disse ainda serrando. As veias de seu corpo estavam saltadas e Manu não conteve um suspiro ao ver a força que o homem aplicava no serrote. Ele estava ligeiramente abaixado,
serrando uma madeira para algo que Manu não se importara em perguntar.

-- Eu não posso esperar dez dias, meu senhor. -- Rafaella disse exasperada. Sua semana estava sendo péssima, começando da parte onde teve que se despedir da garota que realmente não conseguia tirar da cabeça. Depois perdeu uma grande quantidade de dinheiro, consequência de ter se atrasado com a entrega. Aumentando os problemas, o lugar onde haviam se hospedado por dois dias cobrou uma fortuna dela, tudo porque Marcela confundiu-se com o valor que a recepcionista havia passado sobre a diária. Quando decidiu que não tinha mais como nada piorar, seu caminhão parou de funcionar do nada, a deixando na mão assim que estavam prestes a regressar para a Flórida.

-- Você deveria agradecer de seu caminhão só ter parado agora. Aquela peça estava por um fio e pela aparência estava assim há muito tempo. -- O homem disse, esticando a coluna e dando destaque ao enorme volume que tinha entre suas pernas. Manu resfolegou.

-- Fiz revisão antes de viajar. -- Rafaella informou.

-- Então não recomendo que volte a fazer revisão neste mesmo lugar, senhorita. -- O homem disse, fazendo Rafaella bufar. -- Olha, se quiser eu posso passar o endereço de alguns hotéis e pousadas boas para ficarem.

-- Não, obrigada. -- Rafaella disse, olhando em volta. O homem trabalhava com serralheria e seu irmão que na verdade era o dono da oficina mecânica, mas o mesmo
estava ocupado, por isso deixou seu irmão no comando. O rapaz apertou de leve seu pênis por cima da calça e mandou uma piscadela para Manu assim que percebeu que ela o comia com os olhos. -- Obrigada, senhor Igor, em dez dias volto, então. -- Rafaella disse resignada.

-- Rafaella, vai indo na frente que tenho umas perguntas a fazer para ele.

-- Perguntas sobre o quê?

-- Não interessa. Me espere lá com as meninas. -- Rafaella franziu o cenho e negou com a cabeça quando viu que o homem estava ficando excitado.

-- Certo. -- Ela disse saindo de lá no momento seguinte.

A garota caminhou frustrada pela propriedade, encarando o galpão ao lado. Quase passou direto, no entanto algo chamou sua atenção, fazendo ela parar. Seus olhos percorreram a grande quantidade de árvores ao lado de fora, tentando ignorar seus pensamentos, mas não conseguiu.

Adentrou o galpão, dando uma olhada em volta. A figura de uma garota encostada, distraidamente mexendo em seu celular fez Rafaella caminhar até ela.

-- Com licença. -- Rafaella disse educadamente, vendo duas orbes avelãs lhe fitarem. -- Desculpe invadir o seu espaço, moça.

-- O que deseja? -- A garota perguntou, percorrendo seus olhos por todo o corpo de Rafaella. Rafaella se sentiu intimidada, pois a moça lhe olhava descaradamente. A mulher não era feia, pelo contrário, tinha lindas pernas destacadas pelo short preto e seios abundantes, marcados pela blusinha branca colada.

-- Quanto quer por ele? -- Rafaella perguntou, apontando para o que estava em cima da mesa, jogado. A mulher em sua frente abriu um sorriso ousado ao ouvir aquilo.

-- O que te faz pensar que está à venda? -- A mulher perguntou curiosa.

-- Bem... nada, mas eu gostaria de comprá-lo. -- Rafaella disse com veemência.

-- Ele não está à venda. Sinto muito!

-- Te dou duzentos dólares por ele. -- Os olhos da mulher se arregalaram ao ouvir aquilo.

-- Por duzentos dólares te dou ele e tudo o que quiser. -- A garota disse sorrindo maliciosamente. -- Sou Renata, muito prazer. -- Se apresentou, esticando uma mão.

-- Sou Rafaella -- Ela respondeu, apertando a mão da mulher. -- E vou querer só ele mesmo, obrigada.

-- Você que manda. -- Ela disse, vendo Rafaella retirar o dinheiro de seu bolso. -- Um prazer fazer negócio com você. Se estiver pelas redondezas e se sentir carente, sabe onde me procurar. -- A garota disse, piscando e entregando à Rafaella o que ela havia comprado.

-- Não, obrigada. Com licença.

[...]

Marcela e Gizelly estavam aos amassos do lado de fora do lugar. Apesar de San Diego ser uma cidade muito populosa, o lugar onde Rafaella tinha que fazer a entrega era bastante sossegado, sem tantos prédios ou aglomerações. Na verdade, as árvores e a
natureza eram o cenário do lugar.

-- Vou até a cidade efetuar o pagamento da peça do caminhão. -- Informou ela, vendo as garotas encerrarem o beijo para fitá-la. -- Teremos que esperar dez dias mesmo, infelizmente. -- Marcela começou a rir descontroladamente ao ver sua irmã.

-- Qual é a graça? -- Perguntou irritada.

-- Por que está usando um chapéu de vaqueiro? -- Gizelly, que ainda conseguia falar, apesar de também estar rindo, perguntou.

-- Eu comprei. -- Ela disse orgulhosa, mas enrubesceu ao ver que Marcela mal conseguia respirar de tanto rir.

-- Por quê? -- Gizelly perguntou confusa.

"Bianca disse que gosta." Pensou, sorrindo tristemente ao se lembrar da doce garota. Dois dias sem vê-la e já se sentia destroçada.

-- Porque eu quis. -- Rafaella disse séria, fazendo Marcela ver que era algo importante para sua irmã, cessando o riso na hora. -- Manu está transando com o serralheiro, se quiserem voltar ao hotel fiquem à vontade.

-- Sente a falta dela, não sente? -- Marcela perguntou ao reparar que Rafaella estava irritada, triste e séria demais nos últimos dois dias.

-- Por que acha isso? -- Rafaella perguntou solenemente.

-- Você se apaixonou, não foi? -- Gizelly perguntou e Rafaella riu com escárnio.

-- Que tipo de idiota se apaixonaria em doze dias? Nem adolescentes se apaixonam em tão pouco tempo. -- Disse sentindo seu peito inflar. Ela não poderia admitir que estava apaixonada.

-- Rafaella, você não a via uma vez ou duas por dia. Você passou, literalmente, os doze dias ao lado dela, só se separavam quando precisavam ir ao banheiro. Não há vergonha em assumir que se apaixonou. -- Rafaella negou com a cabeça ao ouvir aquilo.

-- Tem coisas que se você dizer em voz alta faz parecer mais real. -- Rafaella disse, umedecendo os lábios. -- Não estou preparada para assumir que a perdi sem nem tê-la conquistado. -- Marcela iria dizer algo, porém Rafaella a cortou. -- Vou à cidade. Nos vemos. -- E saiu sem dar chance de falarem mais nada.

Destino Incerto | Rabia.Where stories live. Discover now