Trinta e Nove: Mãe

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Esperei até o último segundo antes de deixar meu lugar e até enrolei, mandando mensagem ao meu pai e irmãos afirmando estarmos todos bem e também confirmando minha presença e de meu noivo no culto de ação de graças mais tarde.

— Anda, Sarah, já estou sentindo o cheiro da comida da Rosa e estou faminto — Vic me apressou e não tive mais para onde fugir.

No momento que saí do carro, ele, já segurando nossa filha, me puxou para perto de si e manteve-se segurando minha mão até chegarmos diante da porta principal a qual abriu com cuidado.

Algumas lembranças daquele lugar me invadiram a mente e eu senti desconforto em retornar ao mesmo ponto onde estive uma vez decidida a contar sobre minha gravidez ao pai do bebê em meu ventre, sendo impedida logo em seguida por aquela mulher.

"Sarah, se você a perdoou, não pode ficar remoendo os pecados dela em sua cabeça. Pense em Cristo, ele não lançou suas falhas no mar do esquecimento?" relembrei de um dos conselhos dados dona Socorro a mim naquela semana durante os nossos estudos e ela estava certa. O que seria de mim, se a cada a minuto Deus enviasse um anjo para me dar uma lista de todos os pecados cometidos por mim durante a minha vida? Ele me perdoou com um perdão perfeito e isso deveria me inspirar a agir da mesma forma.

"Tudo bem, Deus, me ajude" orei e inspirei o ar.

— Oh! Ele chegou! Victor chegou! — ouvi uma voz esganiçada ao entrarmos na chique sala de estar que mais parecia uma página daquelas revistas de design.

Por instinto, quando notei aquela figura loira entrando no mesmo cômodo, tirei Mabel dos braços de seu pai e a segurei, usando uma desculpa de arrumar seu vestido e laço.

De soslaio percebi a chegada de Raquel até nós e a observei para ter certeza de que não havia nenhuma intenção duvidosa em seu comportamento. Bem, ela demonstrou felicidade genuína em rever o filho e o abraçou como se não o visse há séculos. 

— Sei que já as conhece, mas está na hora de apresentar minha noiva à senhora oficialmente. — Vic virou seu tronco sutilmente em minha direção e fez um gesto para que eu me achegasse. — E claro, nossa filha.

Dei alguns passos a frente e sentindo as mãos tremerem e suarem, encarei Raquel face-à-face.

Os segundos pareceram terem se transformado em uma eternidade enquanto eu analisava e procurava advinhar quais pensamentos rondavam a mente daquela mulher. Enquanto ainda vagava em minhas próprias resoluções, ela logo se achegou parada diante de mim.

— Acho que essa é uma boa hora de me retratar — Raquel começou e estendeu a mão, tocando meu ombro. — Antes de tudo, peço desculpas a você, Sarah, pelo modo como a tratei antes. Errei terrivelmente e magoei muito meu filho com minhas atitudes. Podemos recomeçar?

Aquelas palavras soaram de um modo estranho para mim. Eu via o esforço tamanho dela em prestar àquele papel de se rebaixar e me pedir desculpas e podia garantir que o motivo certamente tinha mais relação com seu afeto por Victor do que por mim. Eu, porém, não podia reclamar. Ter ao menos a aprovação de Raquel já me dava motivos o bastante de agradecer a Deus.

— Claro, nós podemos — eu disse por fim e fui mais uma vez surpreendida por um abraço dela, coisa que nunca imaginei receber na vida.

— Oh! Você não sabe o quanto fico feliz! — Ela se afastou e me encarou esboçando um sorriso. — E quem é essa mocinha?

— Esta é Maria Isabel — respondi balançando a bebê, fazendo-a rir. — Nossa filhinha, não é Victor?

Sorri para o meu noivo e ele assentiu, acariciando minhas costas.

Ensina-me amarWhere stories live. Discover now