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                Um aviso importante antes de começarem essa história: eu gosto de advérbios. Excessivamente. Preocupantemente. Vai ser uma história pequeninha, fruto de meus devaneios durante a quarentena, mais conhecido como o drama de morar sozinha durante a pandemia. Ah, escrevi a fanfic escutando Weezer e The Kooks, fiquem à vontade pra ouvirem também.

Outro dia desesperadamente fadado a ser igual aos outros.

Todos os meus problemas emocionais presentes e evidentes pioram assim que o Sol nasce e invade meu quarto pelas frestas das persianas, enxerido, como se fosse um fiscal de sono que me impede de dormir até tarde e esquecer o que passa pela minha mente.

Não consigo ajustar meu relógio biológico. Um dia, vou dormir às sete da noite. No outro, estou dançando só de cueca e com os pisca-piscas do meu quarto ligados, ao som de Michael Jackson, às três da manhã.

O único que parece compartilhar do mesmo sentimento que o meu é meu cachorro, Toddy, que tem olhos complacentes e a cada vez que me aproximo da porta de entrada para buscar comida, me olha como que com necessidade.

É, eu sei, Toddy. Também sinto o mesmo. Também engordei o mesmo que você e anseio sair para beber tanto quanto você para dar uma volta no parque.

Falando em beber, li uma matéria sobre alcoolismo durante a quarentena e não pude deixar de concordar com ela, sendo eu mesmo a prova real de que todos esses estudos eram absolutamente corretos. Ansiando por algum fio de felicidade correndo pelas minhas veias, meus únicos amigos presentes no momento são o gin, a vodka e, recentemente incluído na lista de bebidas mais apreciadas, o vinho.

É claro que meu estoque não dura uma mísera semana, então o ponto alto dos meus dias é simplesmente sair e comprar bebidas. E pães. Porque aprendi a fazer bruschetta e é simplesmente a melhor coisa do mundo.

Afastado da empresa em que trabalho, a única coisa que consigo fazer em relação a isso são minhas obrigações básicas – ou seja, as que sou forçado a fazer. Realmente vejo importância na diferenciação do ambiente de trabalho e da sua casa. Não entendo quem prefere home office.

Ao pegar meu casaco e pensar no quão agoniante é usar uma quantidade maior que a saudável de blusas, de modo a não mexer direito meus membros, saio em busca de uma padaria diferente – porque a única coisa que consigo fazer para variar meu dia é variar o estabelecimento. Após andar alguns minutos, vejo uma que me interessa e não custo a adentrar.

Como era na frente de um hospital, naturalmente estava cheio de médicos e enfermeiros, o que me preocupou um pouco, tendo em vista que eles são os mais indicados a pegar essa doença. Entretanto, havia uma área externa exclusivamente dedicada a eles, então não vi razões que me impediam de entrar no local. É, talvez eu fosse meio maluco mesmo. É, ou talvez eu fosse um carente autodestrutivo que estava louco para pegar essa praga e chamar a atenção dos outros. Passando por todas aquelas pessoas que arriscam sua vida em nome da saúde pública, penso no quão insignificante meu papel na sociedade parece, diante de todos eles.

Eu sou apenas um publicitário de uma marca de chicletes.

Não que me não orgulhe de minha profissão, ela obviamente é importante, mas eu gostaria de saber como é ter um papel imprescindível em pandemias como essa. Queria conversar com quem tem uma grande experiência com isso e que não seja tão mesquinha e exibido quanto 99% dos profissionais da saúde. Como que em uma sequência perfeita, alguém esbarra em mim quando acabo de pensar nisso.

- Foi mal aí. – É, talvez esse cara não seja tão humilde assim, mas ele definitivamente foge dos padrões.

Meu Deus, e como foge.

quarantine • frerardWhere stories live. Discover now