Urgência, Urgentíssima

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O que vem a ser urgência? Urgência é uma palavra que deriva de urge? Então está ligada ao tempo? Temos urgência de alguma coisa...Tem que ser agora!
O tempo urge! Estamos atrasados...
Muito bem, entendi o que é urgência! E quando não temos domínio sobre o que é urgente? Quando ficamos, eu diria, no limbo? Nem no céu e nem no inferno...Fazemos o que? Temos que contar também com a sorte, com acasos. Ela, a urgência, não é auto suficiente, pois está entremeada com outros fatos, políticas, ações. E sobre isso nós não temos domínio.
A menina que mora em mim hoje está muito filosófica...
Essa pandemia já duradoura( 90 dias) está mexendo com sua cabeça.
Vou trazê-la à razão, fazer com que ela faça aquilo que lhe dá prazer e esqueça essa filosofia que acredito nem é filosofia!
O que lhe dá prazer é contar histórias. Não tipo era uma vez, não!
São reminiscências, são lembranças, as vezes imaginações, quem sabe?
Sendo assim, vamos as histórias!
Eu me lembro do meu pai e das suas histórias. Minha mãe também contava histórias. Hoje as televisões, joguinhos e internet substituíram essa prática. Será? Ou os pais não tiveram esse costume, porque já são de outra geração e não foram criados ouvindo histórias.
Para contar histórias é preciso que se tenha tempo, porque é uma delícia contar e uma delícia ouvir!
Meu pai contava e seus olhos brilhavam, seu riso já quase chegando aos lábios, paravam em seus olhos e a história que seria engraçada, ia ficando mais próxima do final e eu ali, naquela expectativa, desenhando em minha mente as cenas, pronta para cair em gargalhadas com ele e todos que o rodeavam.
Essa história em específico aconteceu numa confeitaria chique em Assunção, onde ele foi encontrar-se com um antigo comandante de quando serviu na guerra, pois meu pai era desses que procurava as pessoas, para cumprimentar e tal. Pois bem, o antigo chefe o convidou para tomar o café da manhã com ele e relembrarem seus feitos.
Meu pai muito humilde, se hospedava na casa de uma senhora conhecida dele também humilde e procurava não dar despesas. Sendo assim, no dia combinado lá se foi ele imaginando se fartar no tal café da manhã onde iria, e saiu portanto, sem comer nada.
Chegando lá, os efusivos cumprimentos, as perguntas sobre a família, sobre sua hospedaria, o que fazia na capital, etc...  o comandante chamou o garçom  e pediu café da manhã completo para os dois.
Meu pai conta que sua barriga roncava de fome, pois era o terceiro dia que apenas comia uma comidinha frugal com o pouco dinheiro que dispunha então era sua oportunidade de comer bem.
Chegado o café completo, ovos mexidos, pão na chapa, bacon, e todas essas delícias, ele conversando colocou o leite e o café no copo, e ao procurar o açúcar viu um açucareiro diferente que não tinha a tampa com a colherzinha dentro. Olhou disfarçadamente para o copo do comandante e este já estava mexendo seu café com leite. Nessa altura ele já estava quase rindo ao nos contar seu apuro, tipo, não, não é possível, como ele colocou o açúcar em sua  xícara?
E o colega já saboreando seu break fest e ele para não passar por caipira começou também a mexer a colherinha em sua xícara, só que sem o açúcar!
Aí, ele dizia: vcs imaginam eu com aquela fome, com tudo de bom que havia na mesa, com o comandante me tratando com tanta cortesia e eu ali comendo bacon com ovos e tomando café com leite sem açúcar! Ele ria da cena e nós ríamos dele! Ahhh, e o açucareiro era daqueles recipientes que tem uma tampa deslizante, por onde vc despejaria um filete de açúcar e voltava a tampinha para o lugar. Lá por 1960 decerto era lançamento, rsrs
Ainda hoje eu sorrio sozinha do café da manhã sem açúcar do meu pai.
Já minha mãe viajava para a casa de meu irmão e ficava lá por longa temporada. Quase uns três meses.
Os filhos crescidos ela na faixa etária dos 60. Minha cunhada a levava em fábricas de tecidos onde havia os saldões, a colocava a par da moda, e ela aprendia a costurar o que estaria chegando na próxima estação em nossa cidade
Ela voltava cheia de pacotes, malas e novidades para contar. Era muito bom. E olha que nessa época eu já era adulta, mas a expectativa de reunirmos todas as irmãs e ela abrindo as malas, os pacotes e contando tudo, nada se igualava. E tem que ser sem urgência, com tempo, com histórias.
Urgência agora nós temos para que se descubra a cura em relação à pandemia do COVID-19.
Acredito que mesmo que a pessoa seja muito elevada espiritualmente, ainda assim ela esteja com pressa!
A falta de prazo, o "até quando", o "não sabemos", nos angustia!
Esforço-me em estar bem, afinal, eu já estou aposentada, sem tantos compromissos, mas tenho saudades da minha rotina, café com as amigas, ir à casa das filhas, da irmã, da prima. Ficar nesse compasso de espera me angustia.
Principalmente quando bem aqui, ao nosso lado acontece fatos inimagináveis como quando um magistrado determina o uso de tornozeleira eletrônica para um caso de transgressão ao isolamento social ?
Esse é o tipo de acontecimento que nos faz ver que a cura ou a vacina precisam ser descobertas logo, pois estamos chegando a um limite perigoso de sanidade mental.

Olhem essa história:
"Em sua decisão, o magistrado trouxe dados sobre o coronavírus no Brasil e no mundo. Até a data da decisão – 18/5/20 - segundo o magistrado, em aproximadamente cinco meses de pandemia, e descontando a subnotificação, morreram 319.174 pessoas, conforme o site "worldometers".
Conforme o site do ministério da Saúde, apontou o juiz, na semana passada, morreram no Brasil 5.006 pessoas em sete dias, o que resulta em uma média de 715 mortes diárias apenas no país.
"Como ainda não há vacina, as únicas medidas modestas e rudimentares encontradas em todo o mundo, por ora, foram o distanciamento social para prevenção e o isolamento daqueles que contraíram essa doença altamente contagiosa."
O juiz explicou que, por conta da situação, as pessoas do mundo todo, e com ele o Brasil, tiveram que se impor restrições nunca antes imaginadas. Desde grandes eventos como as Olimpíadas, até pequenos eventos como encontros familiares foram cancelados; nem mesmo o direito de se despedir de seu ente querido ou de realizar um velório adequado está sendo possível, disse.
De acordo com o magistrado, o objetivo disso é evitar que o sistema de saúde seja sobrecarregado, caso o número de infecções ocorra em escala muito acentuada, e ganhar tempo enquanto se aguarda por uma vacina, atualmente em fase de desenvolvimento"
"Como última tentativa", o magistrado fixou a prisão domiciliar e o uso da tornozeleira eletrônica. O juiz frisou que, embora a mulher tenha o seu direito constitucional de locomoção, "no momento ela padece de uma doença altamente infecciosa e sem cura, e desrespeitando reiteradamente as notificações das autoridades de saúde", disse.
Para o magistrado, a conduta da mulher coloca em risco a saúde e a vida da população, "pois os sistemas de saúde até mesmo dos ricos países europeus entraram em colapso, e o Brasil se encontra ainda em uma curva ascendente no número de casos", afirmou.
O magistrado analisou que o pedido de prisão preventiva, por ora, não é recomendado, uma vez que o encaminhamento de uma pessoa infectada para dentro de um estabelecimento prisional vai na contramão das medidas sanitárias. Além disso, observou o juiz, a mulher tem filhos menores de idade que dependem de seu cuidado.
Por fim, o juiz esclareceu que caso a medida da prisão domiciliar e da tornozeleira não tenham efeito, será reanalisada a necessidade da prisão no estabelecimento prisional."

Vejam vocês o quanto essa situação de pandemia está começando a mexer com a mente das pessoas!
Não é incrível isso? Pois então!
É uma triste história real, daquelas que eu não gostaria de contar, mas que reforça em nós, o sentido de urgência!

                                    

Contos da Quarentena 1- A pandemiaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora